Capítulo V - Arya

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Ela estava feliz. Não havia outra definição.

Sua vida, uns bons anos dela, não haviam sido agradáveis, para dizer o mínimo. Sendo sincera, ela achava que não havia com mais desgraça. Mas ao menos agora tudo parecia estar caminhando para um final feliz.

Não, Arya não acreditava nessas coisas, a vida a havia ensinado isso, ela meio que estava esperando as tempestades novamente. Mas ela não podia conter o sentimento que brotara e se instalara em seu peito.

As coisas mais simples a faziam sorrir, os flocos de neve girando ao vento, Nymeria correndo atrás de Fantasma em alguma brincadeira só deles, Jon bocejando logo cedo da manhã, Sansa tirando o cabelo ruivo do rosto para costurar... Ela sentia como se o que quer que estivesse quebrado dentro dela finalmente estivesse se consertando.

No começo não havia sido fácil. Eles tinham se tornado pessoas tão diferentes, cada um com seus próprios pesadelos. Mas não muito tempo depois, eles haviam começado a se encaixar novamente, como espadas encontrando suas bainhas.

E agora ela podia acordar com o cheiro dos pães recém-assados, a luz fraca do sol lutando para atravessar as nuvens pesadas, os sons de Winterfell ganhando vida. Arya levantava com uma sensação boa, se sentindo segura apesar de algumas noites serem mal dormidas. Afinal, nem tudo podia ser flores. Seus pesadelos eram ruins, mas ela conseguia passar por eles. Estava em casa, com o que restara da sua família, não poderia pedir que as coisas fossem melhores.

Queria apenas que Jon fosse mais feliz, pensou olhando para a silhueta escura do irmão encostado no represeiro com Fantasma à seu lado. Ele deve estar dormindo ali de novo.

Os deuses e ela sabiam o quanto ele precisava dormir direito. Mesmo antes de ter ido dormir com ele aquela noite, ela havia notado como ele acordava cansado todas as manhãs. Ela era inteligente o suficiente para perceber que não era a única com sonhos sombrios. E por tudo que era escutara sobre o passado dele, podia apenas imaginar o quão terríveis esses sonhos eram.

Jon nunca fora especialmente alegre, uma aura de melancolia sempre parecia o encobrir. Ela não o culpava por isso, mas antes de tudo acontecer ela conseguia fazê-lo feliz, e os sorrisos dele, apesar de raros, eram os mais especiais para ela.

Mas desde que ela voltara, sentia que Jon perdera alguma coisa ao longo do caminho que ele percorrera, algo importante e precioso. Falara com Sansa sobre isso uma vez, perguntou se ela achava o mesmo.

- Ele morreu e foi trazido de volta, Arya. Não sei o que acontece, mas acho que isso muda um pouco as pessoas. - Ela concordava totalmente com a irmã, e se estava concordando com Sansa, então tudo estava bem pior do que ela tinha pensado.

Arya via que ele era bom fazendo aquilo, sendo Lorde de Winterfell, parecia ter nascido para comandar, dividir e apaziguar justamente. Mas ela também via que faltava algo, o jeito com que ele fazia as coisas, parecia até que o que estava faltando era sua alma. Isso até a mulher dragão chegar.

Como estivera observando ele, a menina havia visto a mudança, como o jeito dele estava diferente desde que a Rainha prateada aparecera pelos portões. Principalmente nos olhos dele, como se a luz que iluminava aquele olhar e aquele sorriso houvesse voltado de onde quer que tivesse ido.

Primeiro ela havia ficado com raiva. Só porque uma tia dele voltara de uma temporada de reclusão na Fortaleza Vermelha, ele simplesmente reacendia seu antigo espírito? Isso queria dizer que ela e Sansa não eram uma família boa o bastante? Até que ela viu a irmã olhar de outro modo para um rapaz de cabelos escuros vindo do alto de uma montanha. Hawkstark era a Casa e o nome dele era Reynelle.

Quando Arya viu o jeito que os olhos de Sansa haviam brilhado para aquele menino falcão, as peças haviam se juntado e ela percebera aliviada que o que Jon via e precisava naquela mulher não era uma família, era algo diferente e talvez maior que isto.

Um Conto No InvernoWhere stories live. Discover now