Capítulo X - Jon

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Alguns flocos de neve esparsos caíam, dançando em seu campo de visão, com o vento a conduzi-los em uma música surda. Um deles destacou-se do compasso que ele imaginara, mergulhando atrevidamente por entre os irmãos. Este caía mais rápido que os outros e, de tempos em tempos, desaparecia. Então uma rajada de vento o capturava e o empurrava para cima novamente, obrigando-o a voltar a dançar. Jon poderia ter esticado o braço e alcançado-o com os dedos, se quisesse.

Mas manteve as mãos cruzadas à frente do corpo, com os dedos abrindo e fechando em certo nervosismo. Suas irmãs estavam ao seu lado, primeiro Sansa e depois Arya, a mais velha frios olhos azuis em um rosto indiferente e a menor se segurando para não saltar de um pé para o outro de tanta ansiedade.

Arya esperava o noivo - Jon ainda tinha dificuldade de aceitar essa ideia pertubadora -, que já na metade do primeiro mês havia sido solicitado em Ponta da Tempestade. Um lorde não podia ficar tanto tempo longe de suas terras, então ele voltara para casa deixando uma Stark infeliz para trás. Jon, de certa forma, havia apreciado a partida do Baratheon; já era difícil o suficiente ter que conviver com o noivo da outra irmã. Suportar dois homens rondando as garotas seria quase agonizante. Ele sabia que isso era um ciúme sem sentido, já que as duas iriam se casar com eles eventualmente, mas seis meses observando eles pairarem sobre elas como corvos de carne era muito tempo.

Seis meses. Jon ainda não acreditava que havia se passado tanto tempo desde a última vez que vira a Rainha de Westeros. Antes três anos haviam corrido sem que muitos pensamentos direcionados seus fossem na direção dela, e nenhum tipo de incômodo relacionado a isso, afinal, ela não era nada para ele. Mas as coisas haviam mudado, drasticamente. Não era como se ele estivesse com todo o tempo livre do mundo para sentar e pensar horas a fio nela. Ele tinha um país para manter vivo e, como ele não sabia se estava cancelado ou não, continuou supondo que o casamento aconteceria, portanto ele tinha um sucessor para preparar em pouco tempo.

Reynelle Hawkstark não lhe deu muito trabalho. Era um garoto leve que sabia ser sério quando era necessário, aprendia tudo o que lhe era ensinado com facilidade e parecia beber cada palavra do lorde de Winterfell como Tyrion bebia um Dourado da Árvore. Além de já ter alguma experiência. Não havia sido criado para herdar as propriedades da família, mas tinha noção do que se devia fazer com terras congeladas e vassalos famintos, desesperados por uma rusga entre si que os esquentasse o sangue. Jon até tentara ensinar algo à Sansa, mas três dias depois ele agarrara o Hawkstark e o colocara debaixo do braço, o levando e fazendo-o participar de qualquer coisa que ele fizesse. Seria melhor para todos se a irmã se mantivesse apenas com suas agulhas de costura.

Em meio a negociações, planos de distribuição de comida e algumas lutas no pátio, Jon se pegou afeiçoado ao garoto. Não quisera isso, o último pupilo que tivera enfiara uma adaga em seu coração em uma noite fria, mas havia sido inevitável. Ele o recordava demais Robb e isso de alguma forma era bom.

Assim, dois meses de convivência haviam se passado até que o garoto reunisse coragem suficiente para perguntar uma dúvida que, Jon podia ver em seus olhos, estava o consumindo há muito tempo.

Eles estavam na contagem semanal dos estoques. O Stark costumava fazer isso junto com o Meistre, e não apenas deixar tudo nas mãos do homem como muitos lordes costumavam fazer, uma preocupação antiga de seus tempos na Patrulha. Reynelle o seguia de perto, segurando um grosso maço de papéis, as contas de três semanas atrás, e prestava total atenção a cada informação que o Meistre falava.

Em Winterfell os celeiros e os armazéns eram mantidos na parte onde a água corria mais quente por entre as paredes para que tudo não congelasse no Inverno, atrás das cozinhas, alguns patamares abaixo do piso. De dentro de um bolso da longa túnica cinza, Meistre Beltoar retirou um grande aro com as chaves de cada depósito. As salas eram enormes, como se cada uma delas fosse o dobro do tamanho do Grande Salão. Uma vez lá dentro, o Meistre retirou um giz, que era do tamanho de dois dedos juntos, do bolso e começou a marcar cada barrica, saco e barril, conforme os contava. Enquanto o Hawkstark comparava a nova contagem com a antiga, assim como tinha aprendido.

Um Conto No InvernoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin