Watson encerrou a ligação e chacoalhou a cabeça em frustração, virando-se e começando refazer o caminho percorrido até ali.
Sherlock inspirou fundo. Ele sequer havia falado com ele... Holmes preferia que John tivesse o xingado, falado que o odiava, qualquer palavra, qualquer insulto seria melhor que aquele silêncio repleto de mágoa. O moreno soltou o ar de seus pulmões e correu atrás de Watson. Ele não iria conseguir seguir em frente assim, não sem ouvir o que merecia ouvir.
- John! – chamou com certo desespero na voz, puxando o menor pelo braço direito. John não o encarou, apenas suspirou e abaixou a cabeça. Sherlock conseguia sentir o tremor do corpo de John através de seu braço e, droga, aquilo o fazia querer chorar.
- Não, Sherlock. Apenas... – Watson se desvencilhou do aperto de Sherlock, enrijecendo sua postura e prendendo a respiração – Não.
O corpo de Sherlock amoleceu. Ele era tão insignificante assim para não ser merecedor nem das palavras de repulsa de John?
O mais baixo prosseguiu seu caminho sem sequer olhar para trás, sendo acolhido pelo soturno frio de outono que agora se igualava aos seus sentimentos.
...
Duas e dezessete da manhã, sexta-feira.
Sherlock andava de um lado para o outro do flat na Baker Street. Seus pensamentos nunca estiveram tão bagunçados antes, tudo parecia errado. Errado! Holmes queria gritar, mas se contentou em quebrar algumas louças na cozinha, cortando-se acidentalmente com a xícara de chá que John havia usado na semana anterior.
O moreno sentou-se ao chão, encostado ao armário da cozinha e bufou, abraçando suas próprias pernas e deixando o sangue escorrer de sua mão como se aquele corte não doesse nada comparado ao que estava sentindo no momento.
Três e quarenta da manhã.
A chuva atingiu Londres sem gentileza alguma e Sherlock aproveitou o tempo caótico para descontar suas frustrações. Com o corpo dando passos pesados (quem diria que a culpa poderia ter um peso literal?), Holmes seguiu até uma das amplas janelas, abrindo-a e sentindo a chuva fria entrar no apartamento, o rosto apático do garoto sentia as gotas geladas tocando sua pele levemente, acariciando-a. Em outra situação aquilo teria lavado a tristeza de Sherlock, mas agora parecia o deixar ainda mais melancólico.
- Me perdoe, John... – o moreno sussurrou para si mesmo, olhando para as luzes da cidade e imaginando o sorriso de Watson em algum lugar dela. O sorriso que ele jamais veria outra vez.
Quatro e vinte e sete da manhã.
Sherlock, vencido pelo cansaço, resolveu deitar no sofá que infortunadamente estava molhado por causa da chuva, tão molhado quanto o próprio garoto.
- Eu só quero que isso pare. – Pediu em voz alta, como se seu corpo fosse obedecer aos seus comandos.
Cinco e quarenta da manhã.
Sherlock estava decidindo se ia ao colégio ou não.
Seis e dois da manhã.
Sherlock decidiu levantar da cama e com muita relutância tirou as roupas molhadas com que havia passado a noite. Sua face no espelho não era nada agradável. A única noite sem dormir havia o desgastado mais que tantas outras em que ele havia passado jogando online. As olheiras do jovem estavam intensamente profundas e seus olhos pareciam ter perdido o brilho com o toque de genialidade que sempre tivera. Ele parecia comum. Comum e infeliz.
YOU ARE READING
Alter Ego | Johnlock [Teen!lock]
FanfictionSherlock é viciado em um jogo de detetive online e acaba criando a Sher, uma garota inteligente e doce de dezessete anos, para conseguir itens dos garotos que jogam com ele. Quando um novo jogador entra em uma partida, Sherlock se vê apaixonado por...
Capítulo XVII
Start from the beginning