Prólogo

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(PLAY)

Beatrice

Eu nunca fui uma pessoa muito matinal, mas hoje eu havia acordado diferente. Não precisei do despertador, como de costume, porque meus olhos estavam abertos muito antes dele anunciar que estava na hora de dar início a mudança que me aguardava.

Embora estivesse acordada há algum tempo, não havia conseguido levantar da cama ainda. Meus olhos encaravam o teto branco do meu quarto e passeavam algumas vezes pelas paredes... Caixas estavam empilhadas próximas à porta, anunciando a minha partida para uma realidade que eu não sabia o que esperar, mas que parecia estar preparada para o que viesse.

- Bom diaaaaa, Triss! - Melissa entra no meu quarto eufórica, pulando na cama e agarrando meu pescoço. Minha irmã não era muito diferente de mim, então sabia o motivo dela estar acordada tão cedo.

- Bom dia, princesa - falo depositando um beijo em sua cabeça.

- Você vai embora que horas? - pergunta, e não deixo de notar seu semblante triste.

- Depois do almoço. - digo e ela faz bico.

- Você vai voltar? - pergunta me encarando com aqueles olhinhos curiosos.

- O que você acha? É claro que eu vou!

- Promete? - Ela me olha com uma carinha que sabe que é impossível resistir. Meu coração se aperta.

- Prometo. - ela sorri largamente, deixando evidente um pequeno espaço do dente incisivo que havia caído recentemente - E você pode ir me visitar também!! - lembro fazendo cócegas nela. - Mas agora que tal você me mostrar aquela roupa nova da sua boneca que você fez ontem? - pergunto tentando anima-la. Fico feliz quando vejo que consigo.

- Com direito a desfile? - pergunta sorridente.

- Com certeza! - concordo e ela logo me puxa pela mão em direção ao seu quarto.

Passamos cerca de meia hora brincando e inventando centenas de combinações para as diversas roupas que Melissa havia criado para suas bonecas. Talvez no quesito criatividade ela se pareça mais com nossa mãe do que eu.

Falando dela... Bem, o que eu posso falar da minha mãe? Ela é... Ela! Não sei como permaneci lúcida por todos esses anos (embora eu tenha dúvidas sobre minha própria sanidade). Não estou sendo dramática, mas minha mãe realmente dificulta a minha capacidade de ser sã e paciente. Não que ela faça por mal, mas ela está sempre inventando coisas novas e tendo ideias malucas que alega serem "ideias empreendedoras", coisa que certamente deve ter visto em algum vídeo no youtube ou publicações no Pinterest.

A última ideia "empreendedora" foi a de vender decorações artesanais. Até aí tudo bem, mas foi um tremendo caos, porque ninguém comprou já que não ficaram tão... decorativas. Resultado? Uma pilha de quadros, vasos e tapetes que decoraria o Vaticano duas vezes.

Mas essa era minha mãe. Ela sempre procurava alguma coisa para fazer porque, segundo ela, se vivesse às custas de alguém se sentiria uma inútil, não que conseguisse vender muitas coisas. Na verdade, eu acho que isso está mais relacionado com sua própria sanidade do que qualquer outra coisa.

Ela havia se separado do meu pai há uns três anos, logo após que descobriu que ele mantinha uma segunda família, e somente agora tinha se permitido encarar um relacionamento novamente. O divórcio havia sido "amigável", mesmo após tantas brigas e discussões. Meu "pai" não fez a mínima questão em ficar comigo ou com Melissa, se limitando a apenas pagar uma pensão por nós duas. Embora esse último fato eu deva atribuir à papelada que ele havia assinado.

Uma doce melodia - Os sons do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora