Capítulo VIII - ZECA

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Já era um pouco tarde quando deixei nossa casa para ir atrás da Malu. Tive que esperar que todos dormissem para que eu saísse sem levantar suspeitas e isso fez com que eu batesse na sua janela depois da meia noite.

- O que você quer? – indagou ela aos sussurros, ao abrir a janela.

É claro que ela já sabia que era eu, antes mesmo de abrir a janela.

- A gente precisa conversar – disse. – Deixe-me entrar, por favor.

- O Bruno já está dormindo – respondeu, fechando a janela.

- Então vem aqui fora – insisti, segurando a veneziana para que ela não a fechasse na minha cara.

- Depois das dez a gente não pode sair daqui – disse, sem olhar pra mim.

- Essa é a pior desculpa que eu já ouvi na vida! – exclamei, tentando dissipar um pouco da tensão que havia entre a gente. – Vamos conversar. Por favor.

Ela não estava com a menor vontade de conversar comigo. Dava para ver na sua cara de poucos amigos. Eu só precisava me certificar que isso se devia ao monte de besteiras que eu fizera, ou se era apenas receio de que o irmão descobrisse. Independente do que fosse, não tive coragem de perguntar.

Sentamo-nos na calçada e permanecemos ali por alguns instantes. Eu tinha tanta coisa para falar para ela, mas não sabia como começar. Ela parecia tão diferente que não se assemelhava em nada com a Malu que eu conheci. 

- Se você me chamou aqui para ficar quieto, eu vou voltar pro meu quarto – disse, apoiando as mãos no chão para poder se levantar.

- Não, Malu. – respondi, segurando o seu braço. – Eu preciso te pedir desculpas, mas eu nem sei por onde começar.

- Precisa mesmo – respondeu ela, cruzando os braços.

- Eu sei que eu fiz um monte de besteiras – comecei, finalmente. – E eu tenho pensado muito nisso nestes últimos dias. Desde que o seu irmão me deu uma dura, que eu acho que eu bem mereci, eu percebi que eu fui muito egoísta.

- E grosseiro – completou.

- E grosseiro – concordei.

- Você me magoou muito, Zeca – disse ela – Eu sei que eu também fiz algumas besteiras. Mas eu queria respostas. Respostas que você não tinha! Permanecer naquele lugar me trouxe mais desvantagens do que você imagina, mas se eu não tivesse escolhido ficar lá, eu nunca teria descoberto que eu tenho um irmão. Nem ficaria sabendo sobre todo esse lance de segunda geração.

- Isso é verdade mesmo? – indaguei.

- Infelizmente é – respondeu. – Ao todo somos três. Eu, o Bruno e uma terceira criança que o doutor paranoia está tentando achar a todo custo. Eu não sei o que vai acontecer quando ele a encontrar, mas admito que eu tenho um pouco de medo.

- Ele não tem como achar essa criança, tem?

- Não sei – ela parecia assustada. – Mas ouvi uma conversa entre dois enfermeiros do hospital no ônibus. Eles comentaram que ele já encontrou algumas crianças erradas. Ele está chegando mais perto.

Havia uma possibilidade remota de esta criança estar morta. Mas conhecendo aquele psicopata como eu conhecia, eu tinha certeza que ele não estaria se esforçando tanto se não estivesse totalmente certo de que essa criança estava viva.

- Eu preciso voltar pra casa. – disse ela, finalmente, enquanto se levantava da calçada. – Tenho um dia longo amanhã.

- É claro – respondi, levantando-me também.

- De qualquer maneira, eu te desculpo, sim. – anunciou, dando-me um meio abraço desajeitado – É bom poder conversar com você novamente.

Ela seguiu seu caminho antes que eu pudesse lhe dar uma resposta. Melhor assim, eu nem saberia o que responder mesmo.

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Conseguimos bater a meta e graças a vocês, mais um capítulo está aqui.

A partir de hoje, postarei capítulos todas as terças e quintas, ok?

Não esqueçam do votinho e de comentar o que estão achando.

Super beijos

A Terceira Criança - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora