— Oi filha. – olhei em volta e não tinha ninguém dos meus pensamentos. Ótimo!

— Estou com fome. – conte-me uma novidade.

— Fica sentadinha aqui tá, mamãe vai bem ali comprar um lanche e já volta. – aponto pra uma lanchonete bem atrás de nós.

Peguei a carteira e saí em direção da lanchonete à poucos metros da nossa mesinha. O meu coração ainda estava acelerado.

— Boa tarde. – diz a garçonete com um sorriso estampado.

— Boa tarde. – sorri gentilmente, peguei o cardápio e procurei por algo saudável.

O menu é bem variado, os sucos são todos feitos de forma natural. Minha barriga até roncou agora.

— Já escolheu o seu pedido?

— Já sim.

Fiquei esperando os lanches que já dava pra sentir o cheirinho delicioso. A paisagem daqui é deslumbrante. Já tinha esquecido como é bom viver sem pressão, sem ter alguém comendo o teu juízo.

Meus olhos correram por todo lugar. Mel brincava toda animada com sua bola que ganhou do avô. Observei mais adiante, entre as ondas calmas especificamente.

Aquele cabelo levemente dourado me fez pensar bem mais alto.

— Prontinho, moça? – virei-me para olhar a pessoa alegre.

— Obrigada. – voltei a olhar para o mar, mas não tinha ninguém.

— Está tudo bem? – não, estou ficando maluca e vendo coisas.

— Ah, claro. Obrigada. – menti.

— Volte sempre.

Andei até a mesa pensativa, olhando para os lados. Calma Mariana, foi coisa sua cabeça, ele não está aqui. Ele sumiu no mundo e te abandonou com uma filha no ventre.

— Filha, mamãe comprou um doce muito... Filha? Melissa? – olhei ao meu redor e não a vi.

O desespero já estava me consumindo e as lágrimas já queriam escorrer por minha face. Ela sumiu.

Corri por alguns lugares próximos e não havia nenhum sinal dela. Perguntei a alguns banhistas e nenhum deles tinha a informação que me dará alívio.

Pensei então que ela poderia ter voltado para casa já que é bem pertinho.

Voltei até a mesinha e recolhi os pertences, com os passos largos, quase metros andei para casa. Ela tinha de estar lá ou eu de fato iria enlouquecer.

Invadi a casa procurando por ela. Meus pais apenas me encarava sem saber ou entender os meus atos de desespero.

— Aconteceu alguma coisa Mariana? – pergunta minha mãe andando até mim. Respirei com calma tentando controlar o nervosismo.

— A Mel... Ela não esta está aqui? – falei quase gagueijando.

— Não, ela deveria estar na praia com você. – responde se levantando do sofá.

— Mas...

— Onde está a minha neta? – pergunta meu pai com sua arrogância de sempre.

— Eu tinha ido comprar um lanche e quando voltei ela não estava mais lá. – coloquei as mãos na cabeça e sentei numa cadeira. Minhas pernas tremiam intensamente.

— Você deixou ela sozinha? – sua voz sobresaltou com arrogância extrema como fez no dia em que me expulsou de casa, deixando-me ainda mais nervosa.

— Eu estava perto dela, eram poucos metros de distância. – tentei argumentar.

— Quanta irresponsabilidade Mariana, ela é uma criança. Uma criança. – ele gritou, com olhos furiosos.

— Eu não preciso de lição de moral agora, tá legal?!

— Claro que precisa, você é uma mãe irresponsável. Minha neta sumiu por culpa sua, se ela tiver um arranhão sequer quando encontra-la eu a tiro de você.

— Você não seria louco o suficiente pra fazer isso.

— Parem com essa briga pelo amor de Deus, nós precisamos acha-la antes que anoiteça. – diz minha mãe. Nos encaramos, ambos irritados. Mas ela tinha razão.

Fui para o quarto e peguei um casaco, estava apenas de biquíni e o frio estava me congelando. Enxuguei as lágrimas do rosto, porém não adiantava.

Minha menina estava perdida e tudo por culpa minha.

[...]

Já se passaram duas horas de buscas e não tínhamos nenhum sinal dela. Nem o grupo de salva vidas conseguiram algo.

Cada segundo era uma imensa tortura, meu coração doia só de imaginar Melissa perdida nessa praia deserta a mercê dos perigos.

O sol já dava adeus no céu e junto com ele as minhas forças. Dos meus olhos não saiam mais lágrimas, me sentia fraca, sem forças até para respirar.

Eu estava desnorteada, prestes a desmoronar num buraco sem saída.

Será que ela está bem? Machucada? Com frio ou fome?

Caí de joelhos em frente ao mar e chorei com todas as minhas forças restantes. Isso não devia ter acontecido. Foi culpa minha.

— Minha pequena... Onde está você? – o vazio era enorme.

Meu corpo tremia de frio e de angustia. Não seria possível que ninguém soubesse de algo. Eu queria correr, gritar.

Como faz falta um apoio materno nesses momentos de aflição. Eu quero encontrar a minha filha, será que é pedir muito?

Eu não suportaria outra perda assim, do dia pra noite.

— Mariana, alguma informação? – ouço a voz chorosa da minha mãe.

— Ainda não.

— Nós vamos encontra-la filha, tenha fé.

— Eu tenho, mas está difícil suportar a dor.

— Seja forte Mariana, ela vai aparecer.

Levantei-me do chão e saí em disparada, sem rumo. Queria fugir pra longe, sentir minhas dores da forma certa, sozinha.

Gritei por seu nome, mas não adiantava. O vento fazia a minha voz se decipar no ar. As pessoas que ainda estavam ali me olhava de forma estranha, como se eu fosse uma louca.

De longe, avistei uma silhueta masculina entre a penumbra da praia. Um pouco receosa eu me afastei na direção oposta, poderia ser um assaltante ou algo do tipo...

Mas não era. Aos poucos o rosto foi surgindo na luz da lua. E mais uma vez o meu mundo dispencou num buraco negro.

Olhei para seus braços e vi minha menina toda encolhida, coberta por um terno. Sendo protegida. Minhas pernas tremeram e a voz sumiu.

Melissa estava ali, pela primeira vez em cinco anos sentindo finalmente o colo do pai.

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Boa leitura!
Beijos, Jaqueline Carvalho.

UM AMOR PARA ETERNIDADEKde žijí příběhy. Začni objevovat