Capítulo 27: A Emma que eu não conhecia

Start from the beginning
                                    

Ele não respondeu.

- Depois de quase morrermos várias vezes e sermos presos no laboratório de uma louca, eu achei que precisássemos rir um pouco. Você tinha que ver a sua cara agora. É muito engraçado.- ela riu novamente

- Você fazendo brincadeiras? Você me surpreende a cada dia!

- EU!? Você que surpreendeu todas aqui. Acho que elas ficaram surpresas com o seu amiguinho!

- Pera! Desde quando você tá me observando? Você tava observando eu me vestir?

- Não! Claro que não!

Ela não parava de rir. O que talvez entregasse que ela estava observando ele já havia um tempo.

Os seus cabelos estavam molhados. Talvez ela estivesse tomando banho antes no rio. Como Raymond não tinha a notado? Ela vestia também uma calça, sandálias e a blusa era sem manga.

- Tudo bem... Ainda bem que eu encontrei com você. Preciso falar algo muito importante com você. Eu e Peter tivemos uma discussão feia. Eu quero ajudar todas essas pessoas, quero torná-las livres enquanto ele pouco se importa com o que pode acontecer com elas. Ele disse que se eu quiser liderar essa rebelião, ele está fora. E você?

Emma mudou sua expressão extrovertida para uma expressão séria.

- Olha, Raymond! Para o Peter nós temos a opção de não participar dessa rebelião, mas o que vocês não percebem é que este país está na mira de uma guerra. Mas não estou falando de uma guerra pequena, como a que está acontecendo entre o Império Fluminense e Arcádia. Estou falando em uma guerra entre o Império Vermelho e a Inglaterra. Mais precisamente entre Angelina e a ordem da maçã.

- Não entendi onde você quer chegar com isso...

- Nós não teremos paz enquanto a ordem decidir que teremos. Eles estão guerrendo por campos de influência. E o Império Fluminense é um importante ponto. Simplesmente porque todos sabem agora que você e Raymond vivem aqui, além de Angelina ter algumas bases escondidas de pesquisa, como a que nós fomos presos.

- E isso significa que você me apoio na decisão de liderar essa rebelião?

- Sim. De certa forma sim. É um jeito de nós lutarmos por mudanças. E embora Angelina seja um ser deplorável, os homens que ela está em guerra contra não são nem um pouco melhores.

Raymond escutava com atenção tudo o que Emma dizia. Agora tudo parecia fazer mais sentido.

- É difícil dizer quem são os piores, mas eles mataram o meu marido e sumiram com minha filha. Se Truman não estivesse a serviço de Angelina, ele me torturaria por anos do mesmo jeito, pois a ordem é tão cruel quanto Angelina. Por isso, não se engane. Angelina não é a vilâ da história, ela é apenas uma das vilãs.

Quando ela lembrou das torturas, Raymond omeçou a se perguntar como ela poderia conseguir ainda fazer brincadeiras e rir tendo sofrido tanto. Ele se perguntava se ele seria capaz de fazer isso se tivesse sofrido tanto quanto ela. Ele já não tinha a mesma vontade para acordar como antes. Cada dia, cada hora que passava era um tormento. Ele se perguntava quando seria a próxima vez que teria que escapar da morte.

- Como você consegue?

- Como eu consigo o quê?

- Sorrir, brincar... Depois de tudo o que aconteceu com você?

- Raymond, não ache que é porque eu rio e faço brincadeiras que eu esqueci de tudo o que aconteceu comigo. Todos os dias que eu vou dormir lembro da minha filha, do meu marido, de toda tortura que eu sofri. Acredite... não é fácil! Mas se nós nos deixarmos levar, vamos morrer com essa angústia.

- Eu nunca vou deixar de sofrer...- o rapaz sussurrou

- O quê?! Não seja tão pessimista, garoto. Eu era para ser a pessimista aqui! Você não pode se deixar sofrer para sempre. Faça isso pelos seus amigos. Respeite, fique de luto, mas siga em frente e faça com que a morte deles não seja em vão.

- É isso que eu mais temo. Que a morte deles seja em vão. Que eu não consiga liderar essa rebelião. Que todos nós morramos e sejamos apagados da história. Eu tentei passar confiança para o Peter a fim de convencê-lo a me apoiar, mas a verdade é que eu não me sinto confiante. Eu me sinto impotente. Você entende?

Raymond estava se abrindo de verdade, compartilhando tudo o que sentia. Isso surpreendou Emma. Ela jamais imaginou que ele confiaria tanto nela a ponto de contar-lhe aquilo. Mas a verdade era que não tinha sobrado ninguém com quem contar. O amigo não o apoiava. A única pessoa que havia restado era ela.

- Eu entendo, Raymond. Eu já passei por isso e na verdade enfrento esse sentimento todos os dias. Mas nós não podemos nos entregar a esse medo. Tudo bem. Vamos supor que nós nos escondemos em um lugar que fiquemos a salvo, certo? Será que não nos culparíamos por não ter feito nada? Por não ter nem pelo menos tentado ir contra toda essa justiça?

- Sim. Eu me sentiria culpado. Na verdade... eu me sentiria um covarde.

- Então... Você tem que pensar nisso quando essas dúvidas começarem a passar pela sua cabeça. Sentir medo não é errado, mas se entregar a ele é.

O rapaz agora recompunha sua expressão de tristeza para uma de confiança. Emma conseguia perceber que aquela conversa tinha o ajudado. Ele aparentava estar mais confiante.

- Você tem razão, Emma. Nós não podemos nos entregar ao medo. Eu só espero que o Peter compreenda a minha escolha. Não quero perder mais um amigo. Quero que ele me apoie, por que ele tem que ser tão egoísta?

- Bem...

- Aqui estão vocês!- Maria interrompeu- Nós viemos lhes mostrar onde vocês vão dormir.

Peter estava ao lado dela, quieto, sem pronunciar alguma palavra ou se expressar de alguma forma.

- Ah muito, obrigada! Não precisava! A gente podia dormir no chão mesmo.

- Mas é onde a gente vai dormir mesmo, Emma.- Peter riu- A única diferença é que teremos um "travesseiro" de algodão.

- Ah, sim. Mesmo assim, estamos muito agradecidos.- respondeu sem graça, preocupada com a reação de Maria.

- Que bom. É só me seguirem. Por aqui. 

Todos seguiram para onde deveria ser o local onde iriam dormir. Peter seguiu ao lado de Maria e Raymond e Emma foram a alguns passos atrás.

Enquanto caminhavam Raymond colocou a mão esquerda no ombro de Emma e agradeceu pela conversa sussurando para que Peter não escutasse.

- Obrigado! Você me ajudou quando eu mais precisava.

- Nada. Temos que ajudar uns aos outros.

- Verdade... e por favor, não fale nada sobre o que conversamos com Peter. Não quero discutir com ele agora. Amanhã eu tento convencê-lo a ficar.

- Tudo bem. Espero que ele mude de ideia. Se precisar de ajuda com o cabeça dura...- ela apontou para Peter- é só me falar.

- Pode deixar.- ele riu

***

Será que Peter vai mudar de ideia? O que os aguarda além daquela floresta? Eles tem realmente chances contra o governo fluminense?

Isso você descobre no capítulo 28.












A Terra PrometidaWhere stories live. Discover now