Capítulo 16

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-Filho! Vou sair lá na cidade e daqui a pouco tô de volta! Não deixe bagunça na cozinha, tá???!!!

-Tá bom, mãe!

A mãe de Alex bate a porta da sala sem querer, mas ninguém deu atenção. Mais uma página. Desta vez repleta de chaves de livro e um simples código no final:

TCC: Qefmrskmsr

-TCC?- Alex estranha. -Só essa sigla me dá arrepios.

Risos. Mas Anita já tinha em mente o que seria, principalmente depois do capítulo em que apareceu a foto daquele bendito pato de madeira caçoando da cara dela. Escreveu as letras num papel e avançou quatro letras.

Uijqvoqwv

-Não, não é isso...- Disse mais para si mesma que para os outros. Curioso, Tom olha por cima do ombro dela enquanto ela recuava quatro letras.

Mabinogion

-Mas o que é Mabinogion?- Pergunta Tom, franzindo a testa.

-Deixa eu ver.- Anita pega seu celular e faz uma busca rápida no Google. -Parece que o Mabinogion é um conjunto de contos e lendas celtas. Tem como baixar de algum lugar?

-Deep Web é comigo mesmo!!!- Alex cruza as mãos, estralando alto os dedos como um pianista prestes a fazer o solo da sua vida, aliviado de ter saído daquele horror filosófico. -Qual das versões vocês querem que eu baixe?

-Anita, você decripta em inglês. Eu vou tentar o original em celta, é bom que é um exercício a mais pra mim. Alex, consegue decriptar em latim?

-Posso tentar.- Alex abre o Tor e começa a digitar, animado como uma criança que ganhou seu presente de natal. -Estou amando tudo isso!!!

---

-Nada.- Anita solta a caneta depois de um minuto.

-Nada também.- Alex esfrega a canseira dos olhos. -E você Tom?

Tom não respondeu. Estava concentrado vendo a chave de livro, as runas e a letra correspondente. Só se deu conta que estavam analisando ele um tempo depois.

-Hein? Conseguiram?

-Não, tá muito embaralhado... -Alex entrega o papel para Tom.

-Mas você escreveu só cinco letras...

-Eu escrevi sete. Mas até agora nada...- Anita suspirou.Odiava quando dava um beco sem saída daqueles...

-Tentem fazer toda a chave de livro. Vai que está um pouco mais escondido...

Anita e Alex voltaram aos seus papéis, meio a contragosto. Um tempo depois, Tom olha fixamente o papel que estava com ele.

noino.eyjafjallajokull

-Fez mais sentido que o nosso...- Anita se manifesta ao olhar para o papel de Tom, sentando ao lado dele. -Mas o que é eijafija.. eijala... eija... Essa coisa?

-É um vulcão na Islândia.- Alex olha no computador. -Eita nominho...

Tom se levanta e olha a tela de Alex. -É um glaciar, cabeção!- Exclama com um tapinha na nuca de Alex, dando risada.

-Ain, desculpa se insultei sua inteligência, ó linguista geográfico!- Risos.

-kkkkkkkk, besta!

-Peraí- Anita interrompe a zoeira dos dois. -"Noino" não é "onion" ao contrário?

Anita escreve no papel:

noino.eyjafjallajokull 

llukojallajfajye.onion 

-Digita isso no Tor e vamos ver no que vai dar.

Mais um relógio. Desta vez mais curto.

-Trinta minutos? Pra quê?- Alex questiona, mas se dá conta ao olhar a cara de Tom e Anita. -Já sei, já sei...

-A paciência é uma virtude.- Os três recitaram em coro.

-Pelo menos dá pra gente comer mais alguma coisa. Vamos lá pra cozinha, Anita?

Anita se levanta e acompanha Tom na pequena cozinha modular. Anita já prepara os ovos, quebrando-os na frigideira quente que ela havia posto sobre o cook-top.

-Anita, sabe onde o Alex coloca os pães?

-Acho que tá no armário...

-Ah, tá aqui sim. - Tom ri da própria desatenção. -Vejo um erro de programação em linhas e linhas de cálculo, vejo uma cascavel perfeitamente camuflada em folhas secas, mas não vejo um saco de pão no armário? Que lindo pra minha cara, não?

Anita ri da piada, mas sente algo estranho. Sabe aquele climão esquisito, como se alguém estivesse flertando com você? Anita tinha essa sensação agora. Se Tom estava interessado nela, jamais iria saber. Mas sabia que, se perguntasse, Tom contaria a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade, da maneira mais fria e metódica possível, como se fosse uma pesquisa no Google. Aliás, tinha horas que um robô parecia ter mais sentimentos que Tom.

Enquanto virava um ovo na chapa quente, Anita se questionava sobre o que será que ele está pensando agora. Será que era nela? No enigma? Nas derrotas esmagadoras do Uno?

-Ai, demonstra alguma coisa!

-O quê?- Tom olha para Anita.

-Nada não... Tava pensando alto, desculpa...- Anita ri de como pareceu boba agora. Voltou o olhar para os ovos estralando na chapa, virando mais um.

De repente, Anita sente dois braços fortes em sua cintura, abraçando-a afetuosamente.

-Diz aí... O que era?- Aquela voz sedutora de Tom arrepiava sua pele. 

-Já falei... Não era nada...

-Anita...

-Pára Tom, está me deixando sem graça...

-Anita!

Anita sai do devaneio. Tom estava na frente dela com uma travessa de pães cortados. Era tudo coisa da cabeça dela. Eu devia imaginar... Pensou.

-O ovo tá queimando...

-Meu Deus!!! O ovo!!!- Anita desliga a panela e começa a rir de como fora boba agora. Se antes só pareceu boba, agora se sentiu devidamente diplomada! -Eu me distraí legal agora...

-Você tá bem?- Olhava a romantizadora com uma das sobrancelhas levantada.

-Tô, vamos colocar esse ovos nos pães e...

-PESSOAL!!!- Alex grita do quarto. -FALTAM VINTE SEGUNDOS!!!!

Tom coloca os ovos fritos nos pães e leva para o quarto, quase correndo. Ao chegarem lá, já estava em doze segundos.

-E agora?

Sete segundos.

-Cinco, quatro, três, dois, um...

Uma tela preta aparece no navegador, com a devida cigarra estilizada no topo e uma mensagem:

Congratulations! You win the 1st editon of puzzle. 
Now, open the door.

Att. 

3301

-Parabéns. Você venceu a primeira edição do enigma. Agora, abra a porta?- Anita traduz.

A campainha toca.

3301: O Jogo da CigarraWhere stories live. Discover now