Capítulo 51

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Hoje estou de folga, estava mesmo precisando descansar um pouco, aproveitar um dia em casa.
Acordei e ouvi o barulho do chuveiro, Rubie estava no banho. Me levantei, desci e cumprimentei a vovó Ana e a Dona Helena que conversavam animadas, tomei café da manhã e subi de novo para o quarto, não estava muito afim de sair mas talvez Rubie inventaria algum programa.
Antes de entrar no quarto, fui contagiado pela linda voz que vinha lá de dentro. Rubie estava cantando? Abri a porta um pouco e fiquei a observando, ela estava se olhando no espelho enquanto passava a mão na barriga e cantava com um sorriso nos lábios e os olhos sonhadores, a musica era I won't give up do Jason Marz e dizia bem assim:

"Não desistirei de nós
Deus sabe que sou forte, ele sabe
Temos muito a aprender
Deus sabe que somos dignos
Não desistirei de nós
Mesmo que os céus fiquem violentos
Estou lhe dando todo meu amor Ainda olho para cima"

Rubie olhou para a porta e parou de cantar quando me viu.
- Ah... Desculpa estragar o momento, adoro te ver cantar...
Ela sorriu e disse:
- Tudo bem, você eu deixo participar! Sinto que eles gostam quando canto essa música, até se acalmam.
Me aproximei dela e acariciei sua barriga enquanto nos olhávamos.
Helena estava passando no corredor quando parou para ouvir Rubie dizer:
- Sei que eu amava quando a tia Dulce cantava para mim na infância, era como um calmante, fazia todo o resto do mundo desaparecer... Todos os problemas e medos eram esquecidos naqueles momentos.
- Sente muito a falta dela, né?
- Sinto... Ela foi a única que sempre me aceitou da maneira que eu era sem tentar me mudar, foi como uma mãe... Espero conseguir ser uma boa mãe também.
Sorri para ela e falei:
- Você vai ser a melhor mãe do mundo, sei que vai!
Helena abaixou o olhar pensativa e entrou em seu quarto.
- Nossa, eu tenho que organizar algumas roupas novas que eu comprei no closet. Moda de gestante não é nada fácil, mas como eu sou a Rubie consegui fazer umas combinações divinas!- Falou ela indo para o closet, me sentei na cama e fiquei mexendo no celular, ela também pegou o seu, clicou nas suas músicas e deixou tocar os vários toques envolventes.
Olhei para ela e vi ela se movendo conforme a música enquanto arrumava as roupas, ri e falei:
- Vai ensinar passos de dança agora para os bebês?
- Lógico, eles têm que arrasar na pista igual a mãe deles!
- E quem disse que você arrasa?- Provoquei.
Ela me olhou com os olhos semi serrados sorrindo.
- Você sabe que eu danço bem!
Falou ela já levantando os braços e mexendo a cintura no ritmo da música, fechou os olhos e se deixou guiar, a barriga redonda deixava um pouco engraçado, mas ela realmente dançava bem.
Eu ri e bati palmas enquanto a observava.
- Quero ver fazer melhor!- Desafiou ela.
- Eu?- Debochei e me levantei, peguei um travesseiro e coloquei por baixo da camisa, fingindo uma barriga como a dela, levantei os braços e comecei a imitar seus passos de dança, Rubie começou a gargalhar. Fiquei dançando mas parei colocando a mão nas costas como se estivesse com dor, zoando ela, Rubie me olhou com cara de brava mas ainda sorrindo, se aproximou pegando um travesseiro e me deu duas travesseiradas.
- Não pode bater em gestante!- Falei brincando e tentando me defender.
- Pode sim!
- Ah, é?
Tirei o travesseiro debaixo da camisa e acertei ela também, ficamos assim brincando de guerra de travesseiros como duas crianças enquando ríamos e nos divertíamos.
Teve uma hora que eu a acertei e pareceu ter doido.
- Rubie? Machucou?
Me aproximei, mas ela reagiu me dando uma travesseirada com tudo na cara.
- Não, só queria fazer isso mesmo!- Falou ela rindo.
- Vem aqui!- Eu disse depois que me recompus, a agarrando e tirando o travesseiro da sua mão.
- Você é uma manipuladora, sabia? O que faço com você?
- Não sei...- Falou ela sorrindo.
Beijar foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando olhei para sua boca, mas não o fiz por não saber se ela queria ou não. Estávamos bem próximos e eu estava segurando suas duas mãos, passei elas para a sua cintura e Rubie colocou a seus braços envolta do meu pescoço e ficamos meio que dançando a música que agora era mais lenta.
- Você é louca...- Falei sorrindo.
- E mesmo assim você me ama.- Falou ela e nos olhamos de uma maneira diferente depois da última palavra. Ela geralmente falava muito essa frase, mas antes nos víamos como irmãos, agora as coisas estavam mudando, nem nos chamávamos mais de maninhos... Eu amo a Rubie?
Ela se distanciou do nada e foi continuar a arrumar suas coisas. Difícil amar alguém que não me corresponde, mas ela me deixou com aquilo na cabeça.
O meu professor do curso de fotografia ia fazer uma exposição do seu trabalho e convidou 5 dos seus melhores alunos para fazer parte, eu estava incluído. O tema era sentimento e eu ainda não sabia exatamente quais fotos iria tirar, mas pensei de pegar Rubie como minha modelo principal, poderia aproveitar e até fazer um book dela nessa fase da gravidez. E foi isso que eu fiz, na tarde daquele mesmo dia fomos ao parque para tirarmos as mais variadas fotos.
Fomos até a nossa árvore, lá perguntei para ela como se sentia sabendo que logo teria dois bebês em seus braços, ela olhou para sua barriga e sorriu, com as duas mãos sobre ela, tirei uma foto assim, aquele sorriso e olhar traduziam seus sentimentos. Por mais que não tivesse sido uma gravidez planejada e nem fruto de um amor, Rubie havia aprendido a amar aquelas duas vidas que cresciam dentro dela... E eu também.
Tirei várias fotos, das pessoas se divertindo no parque, descansando e aproveitando a paz que aquele lugar trazia, tirei outras muitas da Rubie, que adorava posar e dar uma de modelo, consegui fotos de vários ângulos, dela sorrindo, séria, distraída, me olhando divertida, admirando o por do sol, com seus belos olhos verdes e cabelos esvoaçantes ao vento. Capturar toda a beleza dela era incrível, Rubie era mesmo a modelo perfeita.
Depois disso paramos debaixo da nossa árvore para descansar, íamos lá sempre que visitávamos o parque, tinha se tornado o nosso cantinho, mas sempre que via o J+R me lembrava do mega fora que eu levei. Realmente eu já não sabia mais o que fazer da minha vida, se iria sempre viver com a Rubie não sendo correspondido, se iriamos continuar sustentando aquela mentira que eu queria que fosse verdade e como seria quando os bebês nascessem. Mas eu não queria pensar nisso, preferia aproveitar cada segundo do agora, ao lado dela... porque talvez um dia eu não esteja.
- Pretende colocar as iniciais dos bebês?- Perguntei, estávamos sentados no chão escorados na árvore olhando as nuvens que se moviam e formavam as mais diversas formas.
- Na árvore? Acho que seria legal, mas ainda nem sabemos que nomes vamos dar.
- É bom já irmos pensando, logo você faz 6 meses, e aí vai faltar bem pouco.
- É... As vezes eu fico ansiosa para que chegue logo, outras horas fico com um pouco de medo.
- Não precisa ter medo, vai dar tudo certo!
- Verdade! Que nomes você sugere?
Pensei um pouco e falei:
- Não sei, mas gosto de nomes com R!
- Ai, não sei o porquê!- Falou ela sorrindo e mexendo no cabelo.
Sorri também e perguntei:
- E você? Em quais nomes pensou?
- Para ser sincera, eu só tinha pensado em nomes de menina até então... Se eu fosse ter uma menina ela iria se chamar Rosie ou Julie.
- Julie?
- É, afinal eu também tenho paixão por nomes com J!- E sorriu para mim- Mas nunca pensei em nome de menino, ainda vou ter que pensar em dois!
- Tem que pensar bem, o nome diz muito sobre nós.
- E eu não sei? Por que você acha que brilho tanto?- Perguntou ela, cheia de si.
- Nem imagino...- Falei revirando os olhos e sorrindo.
Me apoiei em meu cotovelo e me aproximei dela, passei a mão por sua barriga e repousei um beijo ali.
- Também estou ansioso para que nasçam... Já sinto um carinho muito grande por eles sem nunca nem ter visto.
- Imagina quando puder segurar no colo, então! Vai se daqueles pai babões!- Ela acabou dizendo mas me olhou sem graça.
- É... acho que vou mesmo.- Falei sorrindo.
- Ou tio babão.- Tentou contornar ela. Não sei porquê mas aquilo não me agradou nem um pouco.
- Não quero que eles me chamem de tio!
- Quer que te chamem como?
Eu e ela nos olhamos mas não falei nada, queria que eles me chamassem de pai, mas aí não seria deixar a mentira passar dos limites?
- O futuro é incerto...- Falou Rubie.
- Sim... Mas são nossas escolhas que o constroem.
Me endireitei ao seu lado, encostamos nossas cabeças na árvore e ficamos com os olhos fixos um no outro, com os rostos próximos.
- Você tem medo do futuro?- Perguntou Rubie.
- Só se você não estiver nele...
Aquilo pareceu tocar ela, seus olhos eram indecifráveis, queria muito saber o que se passava por sua mente. Minha vontade era gritar a todos o que eu sentia, afirmar o sentimento louco que invadia meu coração e fazia ele disparar, mas ao invés disso, eu perguntei:
- Como você se sentiria se eu dissesse que te amo?
Rubie ficou surpresa, abriu a boca mas as palavras não saiam. Balançou a cabeça e disse:
- Com medo...
- De que?
- De sentir isso também... De me entregar demais...
Continuamos nos olhando, isso comprovava que Rubie queria mesmo se entregar, mas colocava obstáculos. Rubie pareceu se arrepender de ter revelado isso porque levantou apressada e balançando a cabeça, enquanto dizia:
- Na verdade, não sei o que sentiria... mas diria que você é bem louco!
Tem que ter um parafuso a menos mesmo para amar a Rubie, ou ser masoquista... É, tenho leves suspeitas de que sou o masoquista do amor! Me levantei também e disse:
- Talvez eu seja...
- Que ruim, né? É bom se tratar, então. Olha a hora! Vamos para casa? Tenho compromisso com as meninas hoje!- Falava ela meio nervosa, saiu andando na minha frente sem nem me deixar dizer nada.
Por que foge de mim, Rubie?

Namorado de Mentirinha (Revisando)Where stories live. Discover now