Capítulo 4

1.4K 162 7
                                    

No domingo, acordei tarde que nem vi a hora em que Rubie se levantou. Também, depois de ficarmos na rua até 5 da manhã, eu precisava descansar.
Tomei um banho, me troquei e desci, lá em baixo encontrei a vovó.
- Bom dia, querido! Se bem que é quase boa tarde.
- Bom dia, vovó Ana... A senhora viu a Rubie?
- Ela estava no jardim, está muito calor lá fora.- Falou ela se abanando e sorrindo.
Preparei um lanche e tomei um suco que encontrei na geladeira, depois fui lá fora procurar por ela, mas quem encontrei mesmo foi a Celeste, sentada em uma parte com sombra.
- Oi...- Falei me aproximando um pouco sem jeito.
- Ah! Oi, John!
- Estou atrapalhando?
- Não, apenas estou revisando a matéria da faculdade, mas já terminei por hoje.- Falou ela sorrindo.
- Está fazendo faculdade?- Me sentei ao seu lado.
- Sim, de pediatria! Falta um ano para acabar os meus estudos.
- Nossa! Que legal, Celeste! Lembro que você sempre gostou muito de criança.
- Não tem como não amar!- Disse ela sonhadora, me olhou como se quisesse descobrir algo e perguntou:
- Você e a Rubie pretendem ter filhos?
- O que?! Não! Quer dizer, não agora! Talvez daqui a muito, muito tempo.- Disfarcei, coisa que achei muito estranho de se fazer.
Ela concordou e abaixou a cabeça.
- E você... está com alguém?- Perguntei meio receoso. 
- Não, a faculdade acaba tirando todo o meu tempo- Ela parou pensativa durante alguns instantes, olhou para cima e sorriu, dizendo:
- A quem eu quero enganar? Estou sozinha porque nunca mais achei o cara certo.- Celeste deu de ombros e sorriu de leve.
- É mesmo?- Falei com voz de surpresa, mas estava feliz de saber.
- Sim.
- Bom, acho que uma hora sempre encontramos a pessoa certa... Ou reencontramos.- Falei isso colocando uma flor do jardim no cabelo dela, que ficou surpresa mas sorriu. Tocou na flor e disse:
- Você sempre fazia isso lá no interior...
- Porque sempre achei que você fica ainda mais linda assim.
E nos olhamos fixamente, Celeste parecia confusa com a minha aproximação. Será que ela ainda sentia alguma coisa por mim ou foi só o meu coração que disparou quando nos vimos de novo? Depois de quatro anos é difícil saber...
- John! Meu amor, finalmente você acordou!- Rubie disse alto, vindo até nós toda molhada, ela estava com seu biquíni vermelho.
- Rubie?
- Eu mesma, querido!- Me puxou de onde estava sentado e me trouxe para um beijo, eu ainda ficava totalmente sem jeito quando ela fazia isso. Celeste ficou envergonhada, talvez por só ter lembrado naquele momento que eu era uma pessoa "comprometida" agora. Tirou a flor do cabelo e disse se levantando apressada:
- Bom, eu... Vou entrar.
Olhei para Celeste entrando, enquanto tentava me soltar da Rubie.
- Perai Ce...- Rubie me deu um tapa na cabeça e disse:
- Você ficou louco, é?
- Ai! Por que me bateu?
Ela revirou os olhos e me deu as costas, andando de volta até perto da piscina. Fui atrás dela questionando:
- É sério! Por que fez aquilo? A Celeste deve ter ficado chateada!
- Para você se lembrar do acordo! Você estava querendo me trair com ela!
- Trair? Que eu saiba, sou seu namorado de mentira!
- Fala baixo, idiota! Um envolvimento entre você e a Celeste estragaria o meu plano!
- Não estragaria, não! Talvez... se contássemos à ela, poderíamos nos resolver. Quem sabe ela até não faria parte do plano!
- Hello? Estamos falando da honestidade em pessoa, ela nunca aceitaria essa mentira. Sem contar que quando mais de duas pessoas ficam sabendo, as chances de dar certo caem! Então você pode segurar esse seu fogo, porque eu não vou ficar com fama de chifruda!
- Você é muito egoísta, sabia? Fama de chifruda você já tem!
Ela me olhou com o olhar de quem quer matar uma pessoa.
- Quer saber, "amor"? Acho que eu já achei um jeito de apagar o seu fogo.
Me empurrou, acabei cambaleando para trás e caindo na piscina com roupa e tudo.
- Rubie!!- Gritei assim que me recuperei do susto, enquanto via ela saindo dando tchauzinho e sorrindo.
Eu poderia ter entrado nessa furada com uma pessoa normal, mas não... Foi logo com a Rubie!
Eu precisava sair um pouco, era dar um passo que eu encontrava com a Rubie e a Celeste, teria que morar com elas juntas por 6 meses? E depois desse tempo, será que a Celeste ainda me aceitaria quando eu e a Rubie "terminarmos"?
Fiquei pensando sobre isso enquanto saí para correr, costumava fazer algum exercício no interior para desestressar. Falando no interior... Será que meu pai e meu irmão ficariam bem?
Parei um pouco a corrida, estava muito calor, mas correr me fazia bem. Vi um homem com cara de preocupado ao lado de um carro moderno com o capo levantado. Cheguei devagar e perguntei:
- Algum problema aí, amigo?
- Hã... Sim! Meu carro está dando problema e olha que é novo! Eu estou atrasado para uma reunião e não sei aonde tem uma mecânica por aqui, deve ter dado algum problema no motor.- Falou aflito olhando para o seu relógio de pulso.
- Posso ver?
O homem me olhou confuso, mas concordou. Dei uma checada e achei o problema.
- Não é o motor, uma válvula tinha se soltado. Era só reencaixar, mas tome cuidado para seu carro não aquecer demais, deve estar a muito tempo no Sol, isso pode te dar problemas... Tente agora!
Ele entrou no carro e ligou.
- Incrível! Está bom de novo... Você é mecânico?
- Já fui!
- Obrigado, não sabe como me ajudou! Quanto quer?
- Que isso, não precisa se preocupar. Sério!
- Certeza? Bom, então muito obrigado...
- John!
- Obrigado, John! Agora eu tenho que ir!
- Ok!- Nos despedimos e cada um seguiu seu caminho.
Cheguei na casa e já subi para tomar um banho, estava todo suado. Quando terminei e me vesti, escutei gritos no corredor:
- Você não muda, Rubie! Não passa de uma garota imatura, mimada e arrogante. Nunca vai crescer, por isso nunca vou poder ter orgulho de você!- Gritava a mãe de Rubie enquanto a encarava.
- Ah! E eu lá me importo com o que você acha de mim? Me poupe, velha! Por que você não vai ver se eu estou na esquina? Aproveita e fica por lá! Quem sabe um mendigo bacana não aparece pra você ver se desencalha e me deixa em paz!
Rubie disse isso fechando a porta na cara da mãe, que ficou furiosa do outro lado.
- Nossa, já estão se amando?- Perguntei surpreso.
- Claro! Sempre tivemos esse relacionamento saudável. Podemos até ganhar o prêmio mãe e filha do ano, amor!- Falou ela sorrindo irônica.
- Não estamos na frente de ninguém, não precisa me chamar assim, Rubie...- Falei revirando os olhos.
- Vai pensando, as vezes as paredes podem ter ouvidos.
Rubie talvez estivesse certa, Helena estava escutando atrás da porta e ficou confusa com o que eu tinha falado. Pensou um pouco, mas decidiu deixar quieto, mas iria ficar de olhos bem abertos para saber se Rubie estava aprontando alguma.
- É sério, John! Assim as pessoas vão desconfiar, você é seco, fica olhando para a Celeste com cara de besta e quando eu te beijo, então? Vish!
- Cara de besta, nada! Desculpa se eu não sei mentir que estou apaixonado.
- Então aprenda a mentir! Vem, vamos treinar!- Ela me chamou.
- Treinar o que?
- A ser namorados de mentirinha. Vai! Como você me responde se eu te disser "Bom dia, meu amor"?- Disse ela com voz meiga, enquanto me fazia levantar e ficar de frente para ela.
- Bom dia.- Falei normal e ela me deu um tapa na testa - Ai ai! Por que fez isso?
- Resposta errada, tente novamente!
- Bom dia, amor.- Eu disse irônico e recebi um tapa.
- Sem ironia! Fale com sentimento, de uma forma doce!
- Eu não sei ser doce...- Ela levantou a mão de novo e eu falei me esquivando - Tá bom, tá bom!... Bom dia, amor!- Dessa vez saiu num tom mais suave.
- Bom! Mas ainda pode melhorar, continue tentando!
Revirei os olhos e ela disse:
- Agora me beija.
- O que? Mas eu não quero te beijar!- Falei espantado.
- Me beija logo!- Falou autoritária.
- Isso é assédio!- Falei alarmado.
- Não quando se aceita isso num acordo, agora vamos acabar logo com isso!
Contrariado, me aproximei dela aos poucos e a beijei.
- Pare de franzir a testa! Assim parece que não está gostando!- Falou me dando um tapa de novo.
- Mais que merda! É porque esse é o caso!- Eu disse passando a mão na minha testa e a encarando.
Rubie balançou a cabeça e disse:
- Você não precisa gostar, apenas aparentar que sim! Sei lá, finge que não me conhece ou que eu sou apenas mais uma garota que você está ficando... Ou finge que eu sou a Celeste!
- Não consigo fingir isso...
- Mas tente alguma coisa, ok?
Olhei para ela e me aproximei devagar, segurei seu queixo e a beijei. No começo ainda foi um pouco estranho, mas tentei fazer o que ela disse. Quando eu tirava todo o resto da cabeça, beijar Rubie não era algo ruim, só era diferente... Mas chegava a ser um diferente bom.
Acabei me entregando aquele beijo, até ela me empurrar e se afastar, fazendo eu me lembrar de que aquilo era para ser só atuação.
- Tá, já deu! Melhorou, pelo menos você não fez careta.- Falou ela pensativa e com as mãos na cintura- Seria pedir demais você agir assim na frente dos outros, maninho? Sério eu preciso muito de você para isso dar certo...
Voltei ao normal e disse:
- Vou tentar...
- Ótimo!- Ela falou sorridente.
Naquele dia nos reunimos a mesa para o jantar. Vovó ficava perguntando sobre os nossos planos para o futuro como casamento, coisa que passava muito longe dos meus verdadeiros planos com a Rubie, e Helena questionava sobre o que eu tinha visto na Rubie, dizia que eu era muito novo para acabar com a minha vida. É claro que Rubie não deixava barato e dizia um monte de coisas que deixavam Helena louca. Já Cíntia ficava me olhando a todo momento com um sorrisinho, não sabia no que ela estava pensando e nem queria saber.
Celeste era a única normal da mesa, trocávamos alguns olhares as vezes, mas sempre que Rubie percebia, ela me chutava disfarçadamente para ninguém perceber, pena eu não poder dizer isso da dor que não passava dispercebida por mim.
Era nesse momento que eu olhava para cima preocupado e me perguntava:
Em que família louca eu tinha me metido?

Namorado de Mentirinha (Revisando)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt