°° Capítulo Dezoito °°

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Três meses e dois dias antes –  de setembro 2016
                                 Em algum lugar perto do confronto.

Há coisas na vida que se apagam com o tempo, como a marca da chuva nas estradas, a borboleta que deixou seu casulo para trás, as pegadas deixadas na areia, um barco que foi levado fortemente por uma onda até o fundo do mar, ou até mesmo o tempo que se apaga. O tempo se apagou para a mãe da filha de Parker, o tempo se apagou para o homem apaixonado que ele era, o tempo se apagou para os sonhos de Amie.
O que muitos não sabem é que o tempo também contribui para as decisões que o destino toma em nossas vidas. Daquela vez o destino se encarregou de colocar duas almas feridas com a ajuda do próprio tempo, para que juntas pudessem curar suas feridas.
Alguns dias haviam se passado  desde o incêndio. Amie, continuava triste, e fria. Ela não falava com ninguém, a não ser suas irmãs. Parker não tentou se aproximar, mas sempre  ficava de olho nela. Naquela manhã ela só queria ir ao orfanato, estar em paz, ver aquelas crianças a deixava feliz. Ver o seu menino bonito a trazia esperanças de uma nova vida. Aquele menininho era a sua luz. Passaram o dia inteiro lá, e ao  voltarem do orfanato, Amie sentia-se leve, como há muito tempo não se sentia. Ela mantinha um sorriso em seus lábios, enquanto visualizava a paisagem passar como vultos na sua frente, por conta da rapidez em que o carro estava. Parker de vez em quando olhava a figura da mulher no banco de trás, e tentava entender a conversa que teve com Julieta.
“ - Eu sei que vocês dois não são namorados, mas eu sei que o destino o colocou na vida dela, para um grande propósito.- a mulher volta a falar depois de um tempo em silêncio.
- Eu sou apenas o guarda costas dela. – Parker murmura.
- Talvez, mas quero te pedir uma coisas menino, honre o seu trabalho, a proteja com sua própria vida. O perigo está mais próximo do que possam imaginar, o inimigo não está somente nas ruas. O perigo sempre começa pelos mais próximos.
- Você está dizendo que a família dela é perigosa? – ele pergunta confuso.
- Perigoso é o caminho que ela está seguindo. Perigoso é o rastro que o passado deixou, e que agora deixa uma marca visível no presente, ameaçando destruir o seu futuro."
 
Ao chegarem a frente da mansão,  os seguranças abriram o portão, e Parker pode ouvir um suspiro pesado vindo dela. A felicidade que antes era visível agora havia sumido.
- Tudo bem senhorita Amie? – ele pergunta, virando-se para olha-lá.

Ela olha para a casa, e vira sua cabeça o olhando. Ela tentava entender o que ele estava causando nela. Porque ela sentia-se em paz e segura ao lado. Ela balança sua cabeça afastando esses pensamentos. Tudo havia acabado, eles nunca mais ficariam juntos.  

- Sim.

Amie pega sua bolsa e abre a porta. Parker a acompanha até a sala, e vai direto para cozinha, enquanto ela sobe as escadas. 

  Ao chegar ao topo ela percebe vozes alteradas, vindo do seu quarto. Ela caminha a passos largos, e ao chegar vê a porta do seu quarto entre aberta. Despercebida ele vê sua mãe com seu diário nas mãos, enquanto sua tia a olhava ferozmente.

- Você não pode entrar no quarto da sua filha, e sair mexendo nas coisas dela como se ela fosse uma criminosa. – a voz alterada da sua tia ecoa bravamente.
- Eu posso o que eu quiser, estou na minha casa. – sua mãe devolve vermelha de raiva.
- Sua casa uma ova, essa casa aqui é do meu irmão. E mesmo se fosse você não tem o direito de mexer das coisas da Amie.
- Eu já disse que faço o que eu quiser, a filha é minha e faço o que eu quiser. Você é apenas uma intrometida, nem mesmo devia estar aqui. O que foi? Cansou da sua vida de trocar maridos a cada segundo?  Já está tão velha que não serve nem mesmo pra ser uma mulher de verdade.
Amie tampa a boca ao escutar um estalo alto. Sua tia havia acabado de bater no rosto da sua mãe, onde estava vermelho, e as marcas do dedo da outra mulher.
- Sabe, você é uma mulherzinha pequena, medíocre, falsa. Eu prefiro ficar sozinha, a estar ao lado de um homem que nunca me amou, que pensa todos os dias em outra. Ou você já se esqueceu de que meu irmão não se casou por amor com você?
- Cala boca sua vadia. Agora eu sei com quem ela se parece. Amie é igualzinha a você, idiota, sozinha, uma marionete, sem classe. Ela não tem papas na língua, eu não sei onde errei com aquela garota pra ser sua cópia fiel.
- Talvez você não tenha dado a ela o principal, amor. Antes ela estar parecida comigo do que com um ser desprezível como você.
Uma lágrima desce pelo rosto de Amie, e seu peito rasga-se ao meio ao ouvir as palavras cruéis da mãe. Ela ainda tinha uma pequena chama, que a fazia acreditar que no fundo sua mãe a amava, mas a tal chama havia acabado de se apagar.
- Eu tenho vergonha de ter uma mãe como você.
A voz gélida é embaraçada de Amie da um susto nas mulheres.  Sua mãe vira-se rapidamente, deixando o diário cair no chão. Sua tia a olha com pena, e culpa.
- Filha, eu..
- CALA BOCA. Cala boca.
Amie grita alto, jogando sua bolsa no chão e indo pra perto dela.
- Eu tenho pena de você, da mulher desumana que você é. Tenho nojo de carregar nas minhas veias o seu sangue. – ela grita batendo a mão no braço.
Enquanto elas brigam altamente, Parker se assusta junto com os outros funcionários, ao escutar o barulho de algo se quebrando e um grito.
- Meu Deus, de novo. – uma das empregadas diz horrorizada e entristecida.
Parker não fica mais lá escutando nada, sai apressado e chegando à escada encontra o pai dela e outro homem que estava no dia que veio aqui, cujo nome não se lembra,  chegando preocupados e apressados.
- O que está acontecendo? – ele pergunta olhando-o.
- Eu não sei, cheguei agora a pouco com Amie e ela subiu para o quarto, e logo escutei gritos e algo se quebrando.
- Não. Amie.
Seu pai grita, correndo para a escada. Aos poucos o som dos gritos vai se tornando mais altos.
- Quem você pensa que é pra mexer assim nas minhas coisas? Invadir minha privacidade? -  Amie pergunta agitada, enquanto vai verificando cada canto do seu quarto.
- Eu sou sua mãe. Abaixe seu tom de voz comigo garota, ou você vai se arrepender. – sua mãe responde acusatória.
- Mãe? Vai fazer o que? Prender-me dentro do armário quando papai não estiver aqui? Amarrar minhas mãos pra eu não desenhe ou pinte? Bater nas minhas mãos? Me trancar no sótão e gritar coisas horríveis? Já sei, vai colocar uma coleira em mim, e me prender lá no quintal numa corrente? É isso que você quer não é? Me ver acorrentada a você, seguindo todas as suas regras sem reclamar, como quando eu era criança?
- Tudo o que eu fiz com você foram porque mereceu. Você era uma garota desestabilizada, encrenqueira, desobediente, era uma cruz pra eu carregar. Mas agora eu vejo que devia ter sido mais firme com você. Olha só o tipo de mulherzinha que você se tornou.
- Porque eu merecia​? Desestabilizada? Desobediente? Eu era uma criança traumatizada por conta do que você fazia comigo, eu mal conseguia falar. Fazer amigos era impossível, porque você sempre me mudava de escola. Você é um ser cruel Blanca, não entendo porque Deus te deu a dádiva de ser mãe. Porque tudo dentro de você é podre.

Desaparecida entre os Sete PecadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora