Oito e trinta de uma manhã anunciando um dia tumultuado...

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Mônica conseguiu me tirar do guarda-roupa dizendo que já estava na hora de ir trabalhar. Parece que deu um alarme na minha cabeça para eu entrar no modo "delegado". Sinto um cansaço e um enorme peso nos músculos do corpo, o coração está acelerado, estou suando bastante e já tomei quase três litros de água, até mandei que buscassem um refrigerante. E fui para o trabalho de bicicleta, para liberar as tensões.

A notícia do massacre da noite anterior está passando na televisão, eu assisto enquanto escrevo, estou na minha sala na DPF. Foram vinte o número de homens bombas que explodiram a praça e a mesquita. Em baixa estimativa, o número de mortos ultrapassava os dez mil, dentre (em aproximação não exata), a contagem de vinte mil visitantes. Muitos ainda continuavam presos no interior da mesquita, talvez ainda vivos, ou não, segundo a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros. Entretanto, as maiores baixas aconteceram na grande praça, ao ar livre, onde o impacto das explosões fora decisivo. O motivo da festa? O término da construção da mesquita e da praça, idealizada para as famílias da pequena cidade, segundo líderes locais! Explicações? Nenhum grupo assumiu o atentado. Covardia? Nem quero escrever o que eu penso disso...

Meus homens me chamam para uma operação. Onde encontrar coragem para sair numa ronda atrás de traficantes? Olho as armas nas mãos dos meus detetives e recuo... Armas... E eles... A vida de cada um deles...

Chega! Basta! Eu quero descer um desfiladeiro de pedras lisas, talvez assim eu escorregue para algum lugar que crie silêncio e um nada absoluto de memórias, pois sempre parece que há sempre um pêndulo de ferro desgovernado dentro da minha cabeça. Sinto vontade de largar tudo...

Eu sou apenas um homem, as asas foram colocadas nas minhas costas contra a minha vontade e eu não sou diferente de ninguém! Tenho sonhos e necessidades como todo mundo e medo de desemprego também. E há a Mônica e meu filho! Mônica foi abandonada em um orfanato, passou fome, morou na rua... O que ela falou... "Bombas explodindo e matando tanta gente, Pedro, são piores que a fome, o assédio ou o preconceito! Não fica assim está bem? Você já cumpriu o teu dever. "

Eu quero que minha esposa tenha coisas boas e eu me sinto homem, e muito macho, quando vejo o sorriso de agradecimento em seus lábios e seus olhos brilhando de felicidade quando realizo algum de seus desejos. O mais engraçado, nesta minha Mônica, é o quanto ela se contenta com coisas tão simples... "A gente tem tudo o que precisa, Pedro. Depois, a gente precisa pensar na nossa Terra sendo tão devastada, né?"

A respeito de anjos? Eu não quero saber deles.

Cotidiano de um AnjoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora