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No caminho para casa, Asia demonstrava sinais de cansaço e sono. As duas noites em claro e este dia cheio de novidades cobraram seu preço. Ela adormeceu quando o carro começou a subir a serra. Quando chegaram ao topo, havia muita neblina e Andrey dirigiu devagar até a propriedade que ficava fora do bairro de condomínios.
Desde muito jovem, Andrey tinha sonhos conturbados que o faziam reviver as passagens difíceis de sua vida. Com o passar dos anos, gradativamente passou a sonhar com uma mulher que ele entendeu que seria sua esposa. Uma moça linda e delicada que ele acreditava amar. Mas agora que a conheceu, que pôde saber o ela pensava, descobrir o que ela gostava e entender o que ela temia, agora Andrey pôde realmente sentir que se apaixonava por ela. A figura imaginária não se comparava à real.
Enquanto dirigia, olhava para Asia adormecida no banco de seu carro. Ela havia se coberto com o pesado sobretudo de lã novamente, tinha o ombro encostado na porta e sua face estava um pouco virada para o lado da janela com a cabeça inclinada e encostada no vidro. Ela tinha o rosto com traços bem feitos e delicados, a pele clara com um pouco de sardas e a boca com lábios finos e bem desenhados: o mesmo rosto que viu durante anos, mas de alguma maneira, essa Asia que Andrey levava para casa agora, era, para ele, mais linda que a mulher de seus sonhos. Ela era mais preciosa, já que era verdadeira e ele podia tocá-la e ouvi-la. Ela era a mulher destinada a ele e era fácil aceitar o que já estava predestinado, aceitar esse caminho previamente traçado, como se a escolha feita pelo destino fosse soberana e ele apenas tivesse que se deixar encaminhar para a sua felicidade.
Lutaria para mantê-la com ele, mas isso não poderia levar ao sacrifício de outros entes queridos: teria que resolver seus problemas com Vladímir, evitando as trágicas consequências impostas pelas atitudes que tomou.
Ao chegar, desceu lentamente com o veículo pela passagem que levava até a casa e parou próximo aos degraus do hall de entrada. Saiu do carro, deu a volta pela frente, percebendo que alguém já estava à porta. Pensou em evitar Reinis e levar Asia dormindo para dentro de casa, adiando, assim, a conversa entre eles para o dia seguinte: ele mesmo queria falar com Reinis a sós, a fim de encontrar uma solução para os problemas que criou.
Andrey abriu a porta do outro lado do carro e aproximou-se dela, soltando seu cinto de segurança:
- Asia, chegamos! Vou levar você. Passe o braço em meu pescoço - sussurrava sem necessariamente tentar acordá-la. - Não, não tente se levantar. - sussurrava ele observando seu estado desorientado. - Ainda está muito cansada. Segure-se em mim, vou levar você.
Asia estava mesmo exausta, nem conseguiu segurar-se em Andrey. Quando ele a ergueu, seu braço deslizou do pescoço dele para seu colo e o braço direito ficou pendurado para fora. Daina estava atrás dele observando tudo, e quando ele se virou com ela, Daina perguntou:
- Ela está bem? - olhando a garota com curiosidade, Daina tirou os cabelos de seu rosto que estava apoiado no ombro de Andrey.
- Só está muito cansada. Passou a noite em claro e correu na chuva para escapar de Vladímir - respondeu ele.
Daina passou as costas dos dedos pelo rosto de Asia que, em um reflexo, virou-o mais para junto de Andrey; depois, com a ponta dos dedos, examinou o anel-pingente que pousava sobre a roupa dela, erguendo, em seguida, seus olhos para os de Andrey.
- Era da mãe dela. - respondeu Andrey, em um sussurro, à pergunta silenciosa que Daina lhe fez com os olhos.
Andrey a observou por instantes e depois se virou e andou em direção à entrada da casa, desviando de Slauka e parando de frente para Reinis, que estava na soleira da porta.
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasyQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...