Capítulo 6 parte 1

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Capítulo 6

***

Andrey abriu os olhos. Estava acordando dentro de um de seus sonhos, ainda não havia feito dezesseis anos e estava sendo sacudido por Mathias, que balançava uma lamparina diante de seu nariz:

- Acorde! - exclamava Matias em um sussurro forte. - Para quem me cria tantos problemas acordando no meio da noite, você dorme como uma pedra! Vamos, levante logo daí!

- Já está na hora de levantar? Por que sua mãe não veio nos acordar? - perguntou Andrey com cara de sono, olhando, primeiro, para a porta fechada do quarto e, depois, para a janela, para a noite escura e estrelada que podia ver através do vidro embaçado.

- Vamos, levante daí - repetiu Mathias, puxando os cobertores de Andrey e se afastando com a lamparina.

Mathias já estava completamente vestido, e pelo que Andrey pôde perceber, ele nem havia tirado a roupa do dia anterior.

- Vamos, pegue! - Mathias jogou sobre Andrey suas roupas. - Vista-se, ande, nós vamos sair!

- Sair para onde? - indagou Andrey enfiando-se dentro da camisa.

- Vamos visitar uma cidade, não é muito longe daqui.

- Nós não podemos sair daqui, é perigoso - retrucou Andrey, que parou de vestir sua roupa e encarou Mathias.

- A coisa mais perigosa que vamos enfrentar é sair daqui sem que Daina veja. Ande, não temos a noite toda, temos que sair antes que todos acordem. - Mathias esperou Andrey terminar de vestir a roupa e calçar as botas, e então continuou falando - sei tudo sobre a cidade dos Homens, eu já fui lá várias vezes! Ferd me levou. E você nem sabia. - Mathias voltou a rir.

- Não podemos sair sozinhos - determinou Andrey, que com botas calçadas se levantou. Andrey havia crescido e já estava quase da altura de Mathias: algo que já o estava incomodando, pois Mathias sempre gostou de ter essa vantagem sobre Andrey. - Somos proibidos!

- Você vai deixar Daina o controlar a vida inteira, como se fosse um bebezinho? - Mathias ria. - Meu pai sabe que nós dois vamos até a cidade. Ele confia que sou suficientemente esperto! - remexeu o bolso e tirou um saquinho de dentro dele. - Olhe, ele me deu dinheiro para usarmos. Ande, vamos embora!

- Aiva já está acordada? - perguntou Andrey, enquanto se dirigiam à porta do quarto.

- Aiva não vai - respondeu Mathias sério e autoritário.

- Por quê? Você disse que não era perigoso!

- Aiva não vai, já disse! Vamos! - insistiu Mathias determinado.

Eles deixaram a casa em silêncio. Percorreram o caminho pouco iluminado pela luz da lua e pela fraca chama da lamparina que Mathias carregava. Atravessaram o pátio e foram até o estábulo onde atrelaram dois cavalos. Fizeram a primeira parte do percurso próximo às casas do vilarejo a pé; e assim que se encontraram a uma distância que consideraram segura, subiram nos animais e cavalgaram pelo caminho tortuoso que levava a uma longa estrada que percorreriam até a cidade.

Por boa parte da madrugada e o início do amanhecer, Andrey e Mathias galoparam pela estrada competindo um com o outro pela dianteira. Ambos se divertiam e riam muito, Andrey estava fascinado pela sensação de liberdade que acompanhava esse novo tipo de aventura. O vento passava por seu rosto jogando os cabelos curtos e finos para trás, e ele podia sentir o cheiro das flores e plantas como se somente naquele momento percebesse que esses aromas, tão comuns, existiam.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora