Capítulo 8 parte 2

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Em seu sono, Asia sonhou novamente com aquele rapaz. Ele sorria para ela, pegava sua mão quando ela esticava o braço e caminhava a seu lado. Essas coisas simples que apareciam em seu sonho, eram para Asia extremamente agradáveis. Ela se sentia acolhida, amada e feliz; não estava só, havia alguém que não a deixaria. Mas, dessa vez, seu sonho tomou nova forma. Ela se viu tendo que correr ao lado dele pela neve fofa e sentia que estavam sendo perseguidos. Ele segurava sua mão arrastando-a pelo caminho entre as árvores e os obstáculos, correndo por dentro de uma densa neblina para fugir do inimigo. No momento em que viu que não poderia escapar, o rapaz parou jogando Asia para trás, e se virou para enfrentar o inimigo. Havia mais alguém com eles, uma moça que Asia não conseguiu ver quem era. Não era a mesma dos outros sonhos, o cabelo tinha uma cor diferente: era loiro e muito claro. Arquejando, Asia olhava em todas as direções, mas a pesada neblina a impedia de ver quem os perseguia. Asia acordou assustada e Marta aproximou-se dela.

- Está tudo bem? Você se assustou? - perguntou Marta apoiando as costas da mão na testa de Asia, verificando se tinha febre.

Nesse momento, tocou a campainha de seu apartamento, e Asia ouviu a voz de Vladímir, que atendeu a porta. Houve uma calma conversa na sala: outro homem falava com ele, mas ela não conseguiu ouvir bem tudo o que diziam e não reconheceu a voz do visitante. Prestou muita atenção, mas entendeu apenas fragmentos da conversa:

- Não Reinis, está tudo sob controle aqui. Fomos avisados e estamos cuidando dela. Sim... Sim... Entendo... Diga a Daina que está tudo bem, que podemos cuidar dela sem problemas... Daina não precisa se preocupar, ela está recebendo atenção. Quer entrar para vê-la? Traga Daina, depois... Mais tarde, então... No fim de semana, talvez?

Passado algum tempo, Asia ainda pôde ouvir:

- Nos veremos em breve, espero. Adeus.

Marta, que olhava para a entrada, virou-se para Asia e comentou:

- Acho que foram embora! Pensei que Reinis viria aqui para ver você. Outro dia, então. Viu? Mais dos nossos souberam de ti. Está bem amparada!

- Não são da sua colônia? - perguntou Asia finalmente com a voz um pouco rouca.

- Oh! Está melhor? - em um reflexo repetitivo, Marta colocou a mão sobre a testa de Asia novamente. - Não, eles não são. - retirou a mão e se apoiou nas costas da cadeira. - Alguns Nemtsi gostam de viver e trabalhar em cidades grandes em meio aos humanos. Algumas famílias se agrupam em grandes centros urbanos e chegam a formar pequenos guetos reservados; é uma maneira de se estabelecerem com certa segurança sem abrir mão do contato com o mundo atual. Famílias menores e isoladas levam uma vida mais difícil e solitária. Mas estas duas famílias que vivem aqui estão muito bem, gostam de estudar e trabalhar em universidades. A família de Reinis Zigajevs, apesar de pequena, é uma família bem antiga e respeitada, e os Schneider, que se uniram a eles, sempre se dedicaram às ciências e aos estudos. - Marta esboçou um largo sorriso e prosseguiu. - Boas pessoas com quem sempre podemos contar. Se, algum dia, você tiver algum problema, pode pedir ajuda a eles! Bem, você quer fazer alguma pergunta?

- Quantos anos tem Vladímir?

Marta passou a rir, depois com vergonha e olhando para a porta para ver se ele vinha, respondeu:

- Na verdade, eu não sei ao certo. Mas ele é muito velho! Ele é búlgaro e já participou das Cruzadas! Foi casado durante muito tempo e, um dia, enquanto fazia suas rotas comerciais, sua cidade foi saqueada por alguns Selvagens que mataram a mulher dele. É muito triste, não é?

Marta observou Asia com ternura, passou os dedos por sua testa afastando os cabelos que estavam sobre ela e prosseguiu sussurrando:

- Dizem que, na época, ele ficou louco. Ele caçou os Selvagens por todo lado! Ele é capaz de identificá-los, e de alguma maneira era também capaz de localizá-los onde estivessem escondidos. Ele matou vários deles. Organizou um grupo de soldados Nemtsi capazes de pegá-los. Durante o século XVI, ele ficou conhecido como caçador de Selvagens. Qualquer família ou aldeia que tivesse algum problema com eles, chamava Vladímir. Ele só respeitava algumas das famílias deles. Eram poucas, na verdade. Viviam brigando entre si e se destruindo umas às outras. Mas não existem mais. Na época, ainda existiam algumas. Eram clãs de famílias Selvagens mais organizados. Vladímir não criava problemas com eles.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora