Capítulo 9
***
Pela manhã, Marta entrou no quarto encontrando Asia acordada:
- Olá! Bom dia, Asia! Está com febre novamente? - pousou a mão na testa de Asia. - Vou pegar mais remédio para você. Está se sentindo mal?
- Sim. Tentei tomar o remédio, mas derrubei o copo no chão. Desculpe-me.
- Não faz mal, pego outro para você.
Marta foi até a cozinha e retornou em seguida com mais remédio.
- Obrigada - disse Asia pegando o copo das mãos de Marta. Ela tomou aquele remédio horrível que a fazia querer vomitar e depois se deitou novamente. Outra pessoa entrou no quarto e posicionou-se ao lado de Marta, que acabara de limpar o que tinha caído no chão.
- Este é meu marido, Francesco - Marta estendeu o braço e pegou a mão dele com um sorriso satisfeito estampado na face.
- Olá, Asia! Seja bem vinda entre nós! - disse Francesco, que parecia ser um pouco mais velho que Marta, tinha o cabelo claro e ralo, as feições do rosto eram miúdas e o sorriso amigável. Depois, voltando-se para a esposa, continuou, - Tenho de ir. Volto à noite com Vladímir e os garotos, certo? - inclinou-se, deu um beijo no rosto de Marta e saiu do quarto sendo seguido por ela.
Nesse pequeno intervalo de tempo em que Asia pôde observá-los, notou como ambos eram próximos e atenciosos, era algo bonito de ser visto: "Há quanto tempo já estão casados? Ele parece ter trinta ou trinta e cinco anos. Ela, uns vinte e cinco, talvez. Quantos anos terão, na verdade? Sei que não têm o que aparentam. E são tão amáveis.". Asia ficou ouvindo os dois se despedirem na sala e se animou com a ideia de estar com eles, de estar sendo atendida por pessoas tão acolhedoras, pelos seus. "O velho Aron, afinal, chamou boas pessoas para cuidar de mim. Por que mamãe fugia tanto, então? Talvez ela soubesse que eles não poderiam ajudá-la, quem quer que nos perseguisse devia ser tão perigoso que os colocaria em risco, também." Assim que Marta retornou ao quarto, Asia articulou:
- Marta...
- Sim?
- O que nós somos? - perguntou finalmente. - Quer dizer, mamãe disse que eu não era como os humanos, que seria capaz de controlar melhor minhas habilidades quando fosse adulta, mas não sei bem o que posso fazer!
- Não existe uma definição correta do que nós somos realmente, Asia... Mas, obviamente, não somos como os humanos. Tivemos muitos nomes ao longo da história, dados por nós mesmos, pelos Selvagens e pelos humanos, também. Podíamos ser oráculos, druidas, elfos, Nemtsi... Tivemos muitas denominações em várias línguas. Não éramos organizados, no início, vivíamos muito dispersos pelo mundo e, por isso, não formamos uma unidade de povo, nem nós, nem os Selvagens - Marta se acomodou na mesma cadeira em que se sentou no dia anterior. - Nós nos identificávamos pelas famílias as quais pertencíamos. Éramos tribos isoladas e, no passado, lutávamos entre nós mesmos, também. Por terras, discórdias ou outras disputas. E lutávamos com os humanos e com os Selvagens pelos mesmos motivos.
Ficou pensativa, observando a corrente que Asia trazia no pescoço, e continuou.
- Havia alguns costumes antigos. - Marta pousou sua mão sobre o anel-pingente que estava sobre a camiseta de Asia. - Comuns a todas as nossas tribos. A escrita usada pelos oráculos era comum a todos nós. Este era de sua mãe, não é? - Marta se referia ao anel-pingente preso à corrente e solto sobre a roupa de Asia. - A Sra. Stern me contou ontem, eu perguntei a ela - Marta recolheu a mão e prosseguiu com suas explicações. -Éramos mais capazes de nos organizar e estabelecer acordos entre nossas famílias. Não tínhamos como vencer os clãs Selvagens nas nossas guerras se não estivéssemos em grande número. Mas, estando mais organizados e juntos, éramos mais fortes do que eles. Então, nós pudemos vencê-los, os Selvagens.
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasyQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...