Capítulo 2 parte2

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Lothar e Agnes Braun moravam nas proximidades daquela cidade. Criavam animais em sua propriedade e tinham negócios na região. Ambos eram muito claros, com as faces rosadas, feições roliças e bondosas. Apresentavam estatura média, idade por volta de quarenta anos e não tinham filhos; sua única filha havia morrido ainda muito jovem, alguns anos antes. Eles estavam na cidade, naquela manhã, por uma coincidência do destino. Lothar foi tratar de negócios e Agnes foi comprar tecidos para roupas que queria fazer.

Após terminar suas compras, Agnes notou, na praça, uma bela mulher, alta, de cabelos arruivados e que carregava uma criança no colo. Nunca a tinha visto e pensou que ela deveria estar de passagem. Um rapaz loiro e também alto aproximou-se dela pelas costas e, calmamente, segurou-a pelos ombros, falando algo em seus ouvidos. Com o movimento que a moça fez, Agnes percebeu que ela usava botas e calças por baixo da capa, como um homem. Achou muito estranho. Observou o belo e jovem casal por um tempo, e depois seguiu seu caminho para encontrar seu marido.

Na praça, Eugen não conseguiu convencer a esposa a ficar, ela se afastou com Slauka no colo e entrou em uma igreja que havia ali. Não era a igreja deles, mas Oksana entrou assim mesmo, sentando-se em um banco, pensativa e angustiada. Eugen ficou no jardim da praça, olhando para a igreja em que Oksana entrou, por um bom tempo. Estava aborrecido com a teimosia dela, sabia que eles acabariam partindo como ela queria, e, em consequência, passariam a noite na estrada: com frio e uma criança pequena. Não foi atrás dela na igreja, foi até a estalagem buscar as coisas deles e os cavalos. Mais tarde, voltou para a praça e ficou esperando por ela do lado de fora.

Dentro da igreja, Oksana pressentiu a chegada do marido, sabia que ele havia retornado e levantou-se, certa de que ele já estava pronto para partir. Saiu e caminhou rapidamente em sua direção, sorrindo convicta de que tinham de deixar aquele lugar o mais rápido possível.

- Quando anoitecer você vai se arrepender por isso - disse ele calmamente e com convicção.

- Já demoramos demais - concluiu ela aproximando-se dele com Slauka no colo.

Eugen passou a mão no rosto da esposa e comentou:

- Temos que comer antes de partir. Não será uma viagem fácil, não sei por que sempre cedo às suas vontades.

- Porque eu sempre tenho razão! Já deveríamos ter partido, logo pela manhã.

Ele examinou os olhos dela por instantes, lhe deu um beijo suave e ajeitou o gorro que protegia a cabeça da filha, cobrindo seus cabelos ruivos. Virou-se e caminhou com Oksana para pegar os cavalos. Quando se aproximava dos animais, percebeu, do outro lado da praça, a aproximação de mais seres como eles.

Assim como grandes tragédias, muitas vezes, são precedidas por uma somatória de erros, as decisões e as escolhas de ambos os levaram a esse ponto: haviam sido encontrados por Dieter Berger.

Eugen virou-se para trás e encarou a esposa com olhar de desespero. Oksana não perdeu tempo pensando, colocou Slauka no chão e retirou sua espada, que estava guardada junto com suas coisas, da sela de seu cavalo. Iria enfrenta-los, não havia tempo de montar nos animais e fugir. Eugen fez o mesmo, pegou sua espada e colocou-se um pouco à frente delas para visualizar quantos eram.

Eles eram três, e Eugen conhecia dois deles: os irmãos Berger. Dieter e o irmão, Gerd, tinham os cabelos bem claros e os olhos azuis, com os traços do rosto bem feitos; bonitos. Também eram altos, mas tinham um tipo físico mais largo, eram um pouco mais corpulentos que Eugen, que era longilíneo.

Os irmãos Berger eram extremamente bem preparados, Eugen sabia disso, e o terceiro também deveria ser, já que Dieter não manteria alguém fraco ao seu lado. Eugen caminhou lateralmente e em frente a seus cavalos, observando-os se colocarem em posição de ataque, com espadas erguidas. Olhou de lado para Oksana, que estava segurando sua espada com uma mão e Slauka com a outra. Eugen pensava: eram três e eles dois, com Slauka no meio, como poderiam enfrentá-los? Se estivesse sozinho, seria capaz de lutar com eles e até ser bem sucedido, mas Slauka não saia de sua mente.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora