Foi recebida de volta ao Recanto das Corujas como uma rainha. O casarão estava todo enfeitado com flores. Nos quartos arrumados, um perfume doce invadia e uma cozinheira estava à sua disposição. Nem Ethan teve tanto aparato como a filha estava tendo naquele momento. O senhor já de idade, que meses atrás havia lhe confidenciado histórias sobre o patrão, achando que a moça era apenas uma repórter, encheu-se de felicidade quando as suas suspeitas se confirmaram. Entendeu o motivo que o levou a ser uma língua frouxa com ela. Era filha dele com a mexicana. E como gostou daquilo.

                — Srta. Santiago? Posso tirar uma foto ao seu lado?

As pessoas ainda a chamavam assim. Porém sua assinatura ganharia um nome a mais. O casamento com Diego aconteceu como sonhou. A Igreja católica toda enfeitada com suas flores favoritas. Margaridas. Convidados elegantes. Até Vicente compareceu para felicitar sua ex-colega de profissão, que agora alçava voos muito maiores, enquanto ele amargava naquela ilha escrevendo sobre gatos presos em árvores. O editor, na época, sentiu-se traído quando sua pupila — lembrando que ela era tudo, menos isso — decidiu que aquela história não poderia ocupar apenas uma página do jornal El Dourado. Ela tinha que virar algo grande, gigantesco como um dia foi o seu detentor. E assim nasceu seu primeiro romance, que ocasionou o desligamento com o jornal. Apenas depois da dedicatória feita e nela a menção ao nome Pablo Martinez é que voltariam a se falar. Agora lá estava ele com a esposa no altar, esperando a garota entrar.

Quando a marcha começou a ser tocada, Maria sentiu o peso de não ter Ethan lhe conduzindo, mas o tio, o pai adotivo, estava lá. Todo orgulhoso, com a garotinha medrosa que acolheu ainda muito pequena. De terno, estendeu seu braço e ela envolveu sua mão, com as unhas em uma cor clara — raramente usava esmaltes, mas o evento pedia por isso — e logo uma aliança seria depositada em seu dedo.

Diego tinha sensação de desmaio a cada piscar dos seus olhos. O rapaz, de cabelos quase pretos e olhos da mesma cor, mal conseguia conter sua agonia de ter finalmente Maria como sua esposa. A felicidade que lhe invadia quase o cegava. Então se lembrou do livro da mulher que relatava um amor parecido ao que sentia. Teve medo de repetir todas aquelas imprudências que poderiam fazer com que a perdesse. Respirou fundo, livrando-se desses pensamentos destrutivos, e então a viu. Linda em seu vestido de noiva. Apesar de ter sangue mexicano em suas veias, o lado discreto do pai foi o responsável pela escolha de um vestido, digamos, simples, para cobrir seu corpo magro e pequeno. Gabriela, se pudesse, não teria usado algo assim, certamente teria escolhido um que evidenciasse seu corpo cheio de curvas e um decote bem generoso. Maria não tinha esse corpo e muito menos uma atitude exibicionista, preferiu um vestido mais reto e com mangas curtas, porém todo cravejado de belas pedras de brilhante. Os cabelos vinham soltos e a maquiagem leve mal disfarçava suas sardas. Ethan a teria achado a mulher mais linda desse mundo se estivesse ali.

Um festão aguardava todos os convidados no final daquela noite. Uma banda foi contratada e animou os presentes até o sol despontar no horizonte. Diego e Maria não desfrutariam até o final. Seguiram para um hotel luxuoso para comemorar em grande estilo a noite de núpcias. No dia seguinte, embarcaram para a Europa. Um sonho antigo de Maria, conhecer a Espanha.

As fotos dessa viagem ainda esperavam o momento certo para enfeitar a casa recém-comprada com o lucro do seu livro, Como conheci meu pai.

Esse foi o título que ela escolheu para contar a história de vida de um homem inocente, mas condenado por não saber diferenciar os tipos de amor que um ser humano pode suportar. Ele não soube se amar. A culpa por uma fatalidade o dominou. Virou um dos seus animais adestrados e colocou seu destino nas mãos de uma mulher que há muito desistira dele. Maria jurou para si mesma que jamais faria o mesmo consigo e com Diego.

Últimos Dias [COMPLETO]Where stories live. Discover now