Capítulo 15

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     Essa parte da história de Ethan com Caroline, Maria não saberia. Ethan pouco podia dizer também. Preferiu fechar os olhos e seguir adiante. Se estivesse com eles bem abertos não teria ficado casado e hoje não seria viúvo, e talvez ela e Gabriela ainda estivessem vivas e ele cuidando de seus cavalos. Foram algumas decisões que definiram o rumo dessas três vidas.

Após o tapa que levou de Ethan, Caroline não conseguiria ficar dentro daquela casa. Quando ele retornou, dois dias depois da pior briga que tiveram, encontrou o lar, antes repleto de amor, agora vazio. Esperou alguns dias. No final, por mais magoada ou com raiva que estivesse, ela sempre voltava. Encarou o sogro e este disse que não sabia para onde a filha tinha ido e que o que estava acontecendo era culpa dele. Um "João Ninguém" que tirou o futuro promissor de uma menina de apenas quinze anos.

— Estragou a vida dela, está feliz? — O sogro olhava com raiva para Ethan.

Ethan nada respondeu. Sentia isso. Que havia estragado a vida daquela garota loira, meiga, alegre e cheia de vida que conheceu no centro de equitação. Tirou dela a possibilidade de ter tido um estudo mais aprofundado, lembrou que ela queria ser advogada. E o que ela teve foi um último ano escolar com uma barriga de grávida. Eram tão jovens quando o filho nasceu, que tiveram que amadurecer rápido. Mas o amor que compartilhavam compensava, até que o resultado deste lhe foi arrancado.

Foi nessa época que a amizade com Matias ficou frouxa. O amigo fez o que lhe foi solicitado, colocou pessoas atrás da esposa de Ethan e a encontraram praticamente destruída, física e emocionalmente, seis meses depois, há muitos quilômetros dali. Caroline mergulhou em sua escuridão, deixou que vícios tomassem conta de sua alma e se entregou aos exageros da vida noturna. Ethan, que há muito tempo não saía do seu refúgio, foi ao seu encontro. Se ainda houvesse algum pedaço de seu coração intacto, ao vê-la daquela forma, estilhaçou-se. Levaram-na à força para uma clínica. Ficou internada por um tempo. Recusava-se a falar com ele. E quando o fez, lhe disse que não desejava mais viver sob o mesmo teto, que não se respeitavam mais, que o elo que os unia havia sido rompido com a morte do filho.

Ressaltou o fato de serem muito jovens e tolos quando tudo aconteceu. A vida é muito mais do que falas bonitas e beijos carinhosos, e que eles teriam de aprender a viver a realidade. Ela quis o divórcio. Ethan pediu que ela pensasse melhor, que lhe daria o tempo que fosse necessário, e se no final a decisão fosse essa ele lhe concederia. Caroline pensaria por oito anos.

Durante todo esse tempo, Ethan a manteve mesmo sabendo que não estava sozinha a maior parte do tempo. Caroline foi à forra. Fez viagens, conheceu pessoas que lhe mostraram um mundo totalmente diferente e o dinheiro que Ethan lhe dava possibilitava viver dessa maneira. Não se sentia culpada. Ela o culpava por ter feito desistir do seu sonho. Estava em um mundo distorcido. Com facilidades, regado com álcool, drogas e sexo. Sua beleza chamava a atenção, o dinheiro que dispunha acumulava parasitas. Gostou daquela vida. Mergulhou profundamente. Distanciou-se de tudo que já fora um dia.

Encontrou-se algumas vezes com Ethan nesse período. Era algo penoso para ela. Fazia questão que ele sentisse o cheiro dos outros homens em seu corpo. Queria uma reação drástica. Um "não vou mais te sustentar" ou "você morreu para mim". E o que recebia em troca era complacência. Um olhar de tristeza misturado com decepção. Ethan não a libertaria e ela também não lhe daria esse gosto. Sabia que o magoava, mas também sabia, e sentia, que estava se ferindo ao fazer aquilo. Os encontros pararam de acontecer com o tempo. Apenas o dinheiro continuava a cair em sua conta. Matias é quem lhe dizia as verdades. Ela debochava. Ethan brigava com o amigo, pedia que ele não se metesse e que mandasse o que ela pedisse, quando e como.

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