Capítulo 21

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Nunca fiz isso, mas nesse capítulo em especial gostaria que lessem ouvindo essa música. Quando eu escrevi após quase dois meses do anterior - já devem imaginar o motivo de ter demorado tanto - era essa música que embalava a minha escrita e ela caiu perfeitamente com os sentimentos que serão relatados abaixo. 


               Cada vez que levantava o rosto, Maria constatava que a fila para ganhar o seu autógrafo só aumentava. Sentiu um calafrio por conta da responsabilidade para a qual não estava preparada. A história de vida de um homem estava em sua posse e agora o mundo inteiro a conheceria. Até um estúdio de Hollywood entrou em contato para negociar a entrada daquele relato nos telões. Ganharia a legenda: "baseado em fatos reais" e foi justamente naquele momento que se questionou se tinha feito a coisa certa.

Talvez Ethan Lewis não quisesse tanta exposição.

O dia estava radiante. Céu sem nuvens, de um azul quase cristalino. Suas mãos suavam e não era por conta do calor que ainda fazia naquela época do ano. Alguns dias depois a temperatura cairia consideravelmente, porém Maria não desfrutaria do frescor daquele lugar. Havia se passado quatro meses da execução de Ethan, agora levando o título carinhoso de seu pai. Matias não demoraria a chamá-la até seu escritório e despejar em seu colo tudo que Ethan havia lhe instruído a fazer. Diego estava sem reação. Aquela garota simples agora era herdeira de muitas posses. Conseguiu ver o medo em seus olhos, e por conta disso não a soltou um minuto que fosse de suas mãos.

— Srta. Santiago, esse era o último desejo de Lewis. Se quiser posso dar entrada na papelada e você terá também o seu nome, e não somente todos os seus pertences. — Matias falava com ela de uma forma diferente das outras vezes, talvez por conta da saudade que sentia do amigo.

— Agradeço, mas vou recusar. Queria ter tido enquanto ele era vivo, agora perdeu o sentido. — Maria não sentia que aquilo era muito justo. Ele era seu pai, porém não foi seu pai de fato e em breve estaria casada com Diego e receberia o nome dele dali em diante. Assim supunha.

— Entendo. Eu ainda sou o procurador dos negócios do haras, posso continuar sendo, a menos que queira colocar outra pessoa no lugar, afinal a mocinha não deve saber como aquilo tudo funciona.

— Acredito que nunca saberei — respirou fundo. — Nunca nem sequer cheguei perto de um cavalo, imagina ser dona de vários! Diego, o que acha disso?

— Ethan confiava nesse homem, acho que podemos lhe conceder o mesmo — Diego, pela primeira vez desde que entraram naquela sala, pronunciou-se.

— Sr. Myers, por mim tudo bem. Acho que serei mais uma visita por lá. Sinceramente, não me vejo morando naquele lugar, por mais incrível que seja. Acredite, Diego, o lugar é de cinema! E também... Não sei... Ainda não me sinto parte disso, talvez nunca sinta de fato.

Essas últimas palavras foram ditas com muita tristeza. Quando saiu daquela sala em que viu seu pai perder a vida, seu primeiro destino foi parar na casa de sua tia Rosa e lhe contar que tudo acabara. Que toda aquela proteção havia se mostrado inútil. A tia soube da verdade e nunca se perdoou por ter mantido a menina afastada daquele homem. Mas na carta que ele havia lhe enviado, ele pedia justamente o que foi feito. Maria demorou certo tempo para perdoar e devolver em seu coração o lugar que a tia ocupava.

Matias, nesse encontro, entregou-lhe a urna que continha as cinzas de Ethan. Disse a ela que ele havia lhe pedido que fossem jogadas em sua propriedade, perto do local em que domava os cavalos para as competições. Ficava próximo de algumas árvores bem velhas. Eram gigantescas. Seu lugar favorito no mundo. O lugar em que ficava com Peter, e mais tarde com Gabriela. A garota não se sentia no direito de fazer tal coisa. Matias insistiu. Então, além de vários papéis constando que era dona de tudo que aquele homem possuíra, levou consigo o que sobrou de sua forma humana. Cinzas dentro de uma urna. Maria levaria muito tempo até realizar aquele desejo.

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