11. Eu, Índio [João Coradi Neto]

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A Selva é teu berço

Tua casa sem janelas ou porta

Feita ao ar livre

Nada, ou pouco te importa

Simplesmente vive


Meu mundo é poderoso

Nasci na proteção do cimento

Minha casa não fica ao relento

Estou cercado, mas agüento

Sinto-me grande, sábio

Inteligente e orgulhoso


Tua pele vermelha

De sol e de poeira

Teu corpo preguiçoso

Dorme numa esteira

Teu dia passa vagaroso


De cor branca que predomina

Estou sempre agitado

Não durmo, sou atarefado

Meu viver é atribulado

Sou o maior das criaturas

Nada me domina


Descalço, às vezes nu

Tomas banho de cachoeira

Na fonte sacia tua sede

Come frutos, raízes e mel de abelha

Para morar não tem parede


Minhas roupas coloridas

Perfumado sempre estou

O solo meu pé nunca tocou

Banhar-me em espumas vou

Sou forte, possessivo

Soberano, capaz, sem medidas


Por tudo isso que

Chamo-te de selvagem

Tu podes não me responder

Falta-te malandragem

Senão poderia me dizer:


A diferença de nós

Na ignorância ou sabedoria

Na civilização ou selvageria

Certamente tu me dirias

Índio, selvagem...

Assim me chamas, mas tu és feroz.

Clube dos Escritores - Talentos do Texto CurtoWhere stories live. Discover now