Capítulo 7 parte 2

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Algumas vezes, em seu sonho, Asia se via obrigada a fugir com a moça de cabelos ruivos por dentro da floresta coberta de neve. Sua amiga corria com o garotinho no colo e verificava se Asia a acompanhava. Asia olhava sempre para trás e observava se não estavam sendo seguidas. O inimigo estava atrás delas e Asia não via como poderiam escapar dele. Geralmente, acordava um pouco assustada nessa parte do sonho e lamentava ter acordado. Queria saber o resto do sonho, saber o que acontecia depois e queria descobrir onde estava o rapaz que havia sumido. Outras vezes, Asia sonhava que estava em um barco e ele se afastava do cais. Asia se sentia desesperadamente triste e arrependida da decisão que tomou, queria voltar para o continente, mas o barco se afastava. No sonho, não era sua mãe que estava com ela, era a mesma moça de cabelos ruivos, sua amiga que tentava consolá-la.

Nesse momento em que ela se encontrava tão sozinha, ter estes sonhos era um consolo, mesmo que, por vezes, eles fossem confusos e ela se perdesse do rapaz, ela sabia que era amada e que ele a encontraria. Tinha certeza de que não ficaria só, estaria com ele e com os outros. Não gostava de acordar e ver que era só um sonho, que ela continuava sozinha, queria o conforto e a segurança prometidos.

Em junho, Asia piorou, não conseguia mais andar com segurança sem perder o sentido de sua caminhada, como se tivesse labirintite. Nos últimos dias, foi às aulas de metrô, evitando dirigir seu carro com medo de provocar um acidente. Era algo estranho porque, na verdade, ela nunca havia ficado doente. Em uma manhã, tentou se arrumar para ir às aulas e, ao sair para o hall do elevador, uma das senhoras do prédio, a senhora Betina Stern, reparou que ela não estava bem. A Sra. Stern parou Asia antes que ela entrasse no elevador e perguntou o que ela tinha:

- Eu não sei, Dona Betina! Não deve ser nada - respondeu Asia sem nenhum entusiasmo.

- Não, não, mocinha! Você não está bem! Está muito pálida! Vou levá-la de volta para seu apartamento e chamar Aron. Pediram para avisar, caso você ficasse doente. Vamos, vamos.

Asia não reagiu ao que a senhora Stern disse. Obedeceu por que não conseguia andar sem ajuda e não conseguiria ir à escola, de qualquer forma, desconfiava até que estava com febre. Asia foi encaminhada para sua cama e coberta por cobertores porque fazia frio; questionou-se sobre o que estava acontecendo e, depois, adormeceu. Acordou ouvindo uma série de vozes dentro de seu apartamento. O velho religioso Aron Lender estava lá, e quando ele a viu acordada se aproximou:

- Já mandamos avisar alguns dos seus... - Aron falava com um tom acolhedor na voz, como se fosse solidário ao que ela estava sentindo, mas, mesmo doente como estava, Asia estranhou - Logo estarão aqui para ajudá-la, não passará por tudo isso sozinha.

Asia ouviu o que Aron dizia, mas não conseguia compreender, na verdade, estava difícil até para pensar. Adormeceu antes de partirem.

Mais tarde, quando acordou novamente, só a senhora Stern estava no apartamento. Ela percebeu que Asia estava consciente e se aproximou:

- Oi, meu anjo! Não me deixaram te dar nenhum remédio para baixar a febre. Aron disse que seus parentes do sul já estão chegando e vão cuidar de você, não há com que se preocupar.

Asia ouviu, mas tudo ao seu redor girava e era difícil entender como o seu corpo estava posicionado, não sabia nem se estava deitada. Quis manter algum raciocínio lógico sobre o que a senhora havia lhe falado: "Parentes do sul? Que parentes? Papai...?" Tentou procurar em sua memória algo que se encaixasse, mas não era possível pensar e acabou adormecendo, novamente.

**

O dia amanheceu frio e com céu nublado, Andrey estava sentado no banco-balanço suspenso da varanda, nos fundos da casa em que viviam próximo à São Paulo. A casa, com acabamento de tijolos expostos e madeira, foi construída em um grande terreno em declive. Abaixo da construção, ficava uma piscina que era pouco usada; por detrás do muro da propriedade, havia uma colina que pertencia à propriedade do vizinho e terminava em uma floresta. Andrey mantinha seu olhar vago, perdido na paisagem distante, nos morros que se avistavam por trás da floresta.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now