Capítulo 21

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Não sei como me sentir depois de ouvir o que o Asher falou. Na verdade eu até sei, mas não queria estar me sentindo assim. Raiva. Decepção. Dor. Deus, quanta dor. Tudo em um misto dos infernos, invadindo minha alma... quebrando meu coração. Um filho. Eu iria ser mãe e o perdi assim, como se ele nunca tivesse existido. Pode algo ser mais doloroso do que isso? Nem sei por que eu me pergunto tal coisa. É claro que tem algo mais doloroso. O pai desse filho ter escondido esse fato de mim por todos esses meses.

Saber do aborto foi como ter uma faca enfiada no meu coração. E ele não ter me contado foi como ter essa faca sendo afundada e torcida um pouco mais. Meu Deus, de novo não. Quantas vezes na vida eu vou cair após me reerguer? Não bastava quase ter morrido ontem, precisava saber disso também? Parte de mim se odeia por ter ido tão urgentemente atrás da verdade. Mas a outra parte de mim fica feliz, se é que é essa a palavra, por finalmente saber.

Como o Nick pôde esconder uma coisa dessas de mim? Como ele pôde me olhar nos olhos todos os dias como se não carregasse o maior segredo de todos? Como ele não me deixou saber que a vida que crescia dentro de mim tinha sido arrancada antes mesmo de eu tomar conhecimento da sua existência? Meu Deus, quanta dor no meu peito nesse momento. E quanta raiva também. Ambas dividem espaço dentro do meu corpo, a cada hora tendo uma vencedora. Agora, porém, é a raiva.

— Nicholas Hoffman, você não tinha esse direito. — grito para a foto dele na mesinha de cabeceira. Está lindo como de costume, sorrindo pra mim depois de tomarmos banho de chuva.

Foi logo depois da gente começar a namorar de verdade. Antes do torneio que eu participei. Estava chovendo e ele me levou sobre os ombros para a areia às duas da manhã. Nós brincamos, tomamos banho e fizemos amor na areia da praia. Foi uma noite perfeita. Quem diria que dias depois tudo mudaria na minha vida? Inclusive algo que eu não fazia ideia há menos de uma hora.

Em um acesso de raiva, pego o porta-retratos e jogo no chão com toda a força. Porém pra falar a verdade, a vontade que eu tenho agora é de sair daqui. Ir embora de Miami. Sumir do mundo. Só que antes de tomar uma decisão, eu preciso ouvir da boca dele qualquer que seja a desculpa que ele tem para si mesmo. Mas não quero também que seja hoje. Hoje eu sequer posso olhar pra cara dele. Não quero ver ninguém. Só quero ficar sozinha lambendo as recentes feridas abertas, mais dolorosas do que qualquer uma que eu já tive.

Vou ao closet e pego algumas roupas minhas. Pego também uma bolsa grande de ginástica e começo a colocar tudo dentro. Felizmente eu tenho um lugar pra ir. Meu antigo apartamento está limpo e abastecido com comida graças ao casamento da Gia. Vou pra lá até ter forças para encarar o Nick e o que ele fez. Mas quando desço até a sala, preparando-me para sair após escrever um bilhete no bloquinho de anotações, ele entra sorridente.

— Oi amor, o Charlie disse que você pode falar com o setor financeiro na semana que vem antes de começar as aulas dos veteranos. — ele fala de costas enquanto fecha a porta — A propósito, eu trouxe comida chinesa pra gente.

Ele se vira pra mim e franze a testa ao ver a mochila no chão perto de mim e o bilhete na mão. Não posso dizer que ele já imagina do que se trata, mas sem dúvida ele sabe que algo está errado.

— Quer dizer que se eu tivesse esperado o bolinho primavera você já teria ido quando eu chegasse?

Provavelmente. Eu o olho com a visão embaçada pelas lágrimas que ainda caem. Ele diminui a distância entre nós, com passos rápidos. Só que quanto mais perto ele chega de mim, mais lágrimas saem. Eu não tenho a mínima condição de conversar com ele agora, porque se eu fizer isso, apenas ouvirei. Tenho certeza que nada além de choro sairá da minha garganta.

— Ellen, aconteceu alguma coisa?

Ele toca meu rosto devagar e me puxa para os seus braços. Meu lar. É como eu me sinto nesse lugar. Como se fosse o meu lar. Não resistindo à sua proximidade, aperto os braços ao redor do seu corpo esguio e derramo minhas lágrimas na sua camisa.

Recomeço (SR #2)Where stories live. Discover now