Denver, Colorado
2016
Quando somos adolescentes sempre pensamos que ninguém nos entende. Pensamos que ninguém além de nós mesmos sofre; que nenhuma outra pessoa tem de lidar com problemas familiares, com a depressão e a ansiedade, os conflitos da sexualidade e muitos outros fatores como, por exemplo, a morte. Não só a morte daqueles que nos cercam, mas também a morte de nossos espíritos. Quando nossa alma morre, figurativamente falando, não há mais volta.
Não acho que alguém me entenda agora. Não espero que alguém faça isso. Você nunca ouve falar sobre alguém que matou todos os amigos e foi mandado para um colégio interno sem realmente saber o porquê de estar lá. Não tenho ninguém para me espelhar agora, não tenho uma história para me basear e dizer "isso está acontecendo comigo também, que ótimo que tudo termina bem no fim!". Nada termina bem. Nada está bem agora.
Quando Casey finaliza a trágica história, não sei como reagir, por isso não tenho reação alguma. Não me levanto, não ando de um lado para o outro expondo o meu desespero, chorando e gritando. Não faço nada disso. Pelo contrário, permaneço sentado enquanto meus olhos, sem brilho como vêm sendo, encaram o vazio ao mesmo tempo em que minha mente mergulha numa multidão de pensamentos.
Ainda não me lembro de nada do que aconteceu e acho melhor assim. Espero que nunca me lembre. Não quero pensar no que fiz, mas é inevitável. Sou um monstro. Um assassino cruel. Quero gritar e chorar como deveria ter feito, mas não consigo. Estou travado. Estou preso dentro de minha própria mente. Não consigo me movimentar, pois estou chocado demais com meus próprios atos para levantar-me e fazer algo.
Como eu pude? A pergunta paira em minha mente, e se repete em um loop quase infinito até que um coro de vozes está repetindo a mesma coisa: Como você pôde, Michael?
Não entendo. Eu nunca seria capaz de fazer isso. Como pude matar Ashton e Calum? Como pude assassinar Luke? Como?
As palavras soam duras aos meus ouvidos, mas são repetidas e repetidas. As vozes me torturam. Quando elas voltaram? Acho que nunca haviam ido embora – sempre ali, à espreita. A dor de cabeça que sinto é o equivalente a dor de mil orquestras desafinadas tocando sob meus ouvidos, mas a dor que há em meu coração é incomparável.
Não sei até quando irei aguentar. Coloco as mãos sobre minhas orelhas, tentando impedir que as vozes gritem em meus ouvidos, mas não sei se faço isso apenas em minha mente ou se está mesmo acontecendo. Não sei de mais nada. O que eu sou, afinal? Nada além de um tolo, sendo enganado e empurrado contra paredes e mais paredes de mentiras. Ilusões. Não consigo mais distinguir o que é a realidade – nunca soube; meus próprios amigos eram apenas frutos de minha imaginação.
Eu conversava com fantasmas? Falava com mortos?
Quão cruel é a imaginação de um ser humano perturbado? Quão dura minha própria mente foi comigo mesmo? Estive inventando tudo durante todo este tempo: meus amigos, minha história, meu namorado. Como posso ter certeza de que não estou inventando até mesmo Casey? Como sei que ele é real? Como? Desconfio de todos agora.
Se não posso confiar em minha própria mente, então em quem confiarei?
Não sei quanto tempo se passou desde que Casey terminou a história, desde que Casey desvendou todos os segredos que deveriam ter sido mantidos. Sempre quis saber da verdade, mas, agora que sei, desejo voltar para o escuro. Aprendi hoje que nem sempre a verdade é melhor do que a mentira. Às vezes, é melhor se iludir do que encarar a cruel realidade, sei disso melhor do que ninguém.
Quando me dou conta do que estou fazendo, é como se meu corpo e minha alma estivessem sendo puxadas de volta para esta dimensão. Pensei que ainda estivesse sentado, com as mãos tampando os ouvidos, sozinho, mas estou enganado. Leva um tempo até que minha visão se normalize e que eu possa ouvir o que está havendo. Estou em pé, minhas mãos seguram firmemente as barras da janela, e eu não entendo nada do que está acontecendo. Casey está ao meu lado – os olhos assustados indicam que eu não estava apenas sentado na cama este tempo todo. Devagar, minhas mãos se amolecem e eu me afasto lentamente. Percebo que estou ofegante e minha garganta começa a doer.
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blurry • muke
FanfictionMichael aparentemente estuda em um internato em Denver, Colorado. Seus pais morreram em um acidente de carro e, logo depois, seus amigos desapareceram misteriosamente, reaparecendo semanas depois do primeiro dia de Michael no colégio interno, agindo...
