Capítulo 1

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Elissah estava limpando a cozinha de sua casa em completo silêncio, estava entristecida com os fatos que avida lhe impôs nos últimos dias, o vazio e o silêncio da casa a faziam lembrar de que seu marido, Everton, e sua filha Ally, não vão mais voltar, foi tão de repente que nem ela mesma sabe explicar como aconteceu, a última vez que ouvira as vozes deles fora pelo telefone e suas vozes ainda ecoavam na sua mente em um silêncio ensurdecedor, seus olhos incrivelmente azuis pareciam mais vazios do que quando recebera a noticia, tanto que ela nem percebera que molhara com suas lágrimas a única parte da mesa que já havia passado o pano, isso a faz lembrar de onde estava e o que estava fazendo.
Recentemente ela havia perdido os pais, e a dois anos perdera sua irmã mais velha que era acima de tudo sua melhor amiga e agora perdera o marido e a filha, não tinha mais nenhum motivo para viver, nenhum motivo para sorrir, e duvido que qualquer pessoa que se encontrasse na mesma situação que ela teria um pensamento diferente, mais ela não seria a primeira pessoa a ser atingida pelas fatalidades sequenciais da vida e pode apostar que não será a última. Ela levou as mãos ao rosto e enxugou as lágrimas e log em seguido desalinhou o próprio cabelo e o realinhou logo em seguida em um gesto de clara angústia. O tempo estava nublado e pouco convidativo para passeios, mais ela precisava sair, ela muito de seu marido e de sua filha na casa, e ainda podia ouvir as vozes deles pela casa, ela realmente precisava espairecer, subiu apressada as escadas e foi direto para o guarda roupa, pegou as primeiras roupas que vira e jogou-as na cama, e retirou seu roupão ficando apenas de roupas de baixo, quando ela reparou na roupa que pegara, um sorriso entristecido puxou seus lábios, ela pegara a calça jeans desbotada que tinha uma lembrança singular que não posso falar agora, e o blusão preto que fora um erro gritante de Everton que errou o número da blusa que comprou no aniversário dela, e naquela época ela estava naquela crise existencialista de se achar gorda, os dois brigaram por causa disso, mais cinco minutos depois estava se beijando e se abraçando como se nada tivesse acontecido, não tinha a habilidade de ficarem brigados por muito tempo... Não adianta, tudo que ela era ou tinha de alguma forma estava ligada a Everton e isso a angustiava por demais. O cinza do dia se tornou mais denso e a chuva era mais que prometida, mais isso não a impediria de sair, ia meio que perambular pelas ruas de Riverton, ela simplesmente pediu a Deus que a consolasse e saiu sem destino certo, e sua caminhada acabou se tornando uma corrida e depois de um tempo fadigada ela parou bem enfrente a casa de um cara muito especial. Uma onda de conforto se apoderou dela de maneira terna e suave, lembrou-se de como seu amiga a ajudara, ajudara a todos, deliciava o fato de poder sorrir de novo pela simples lembrança dele a afastar dos problemas. Ela abaixou perto do portão e foi direto em uma tufa de grama que saltava perto da cerca da casa e tirou de lá as chaves e abriu o portão, aquele quintal a remetia a inúmeros momentos bons com Ally crescendo, dos churrascos nos fins de semana, os quatro eram bons amigos, e tudo parecia elegantemente igual, o mesmo canteiro de rosas, a mesma estradinha de pedra que ligava o portão a escadaria, já não precisava correr para a varanda pois a chuva já estava fina, ela caminhou devagar e quando alcançou o primeiro degrau notou aquela criaturazinha deitada perto de um dos pilares, ela abaixou-se perto e acariciou a cachorrinha que se mexeu um pouco antes de voltar a dormir, quando levantou-se ela percebeu a figura imponente e expressiva de seu amigo, ela se encostou na pilastra, ele a olhava com uma expressão interrogativa, ela sorriu frouxamente antes de ir na direção dele e abraça-lo, ele podia sentir a respiração ofegante dela, e a sentiu por um bom tempo, quando ela finalmente olha nos olhos dele, com seus rostos a milímetros de distância, ele diz: - Pode fazer. Ela sorriu antes de beija-lo de leve, quando ela termina ele pergunta quase indiferente:
- O que a trás aqui?
- Lembra do que você me disse sobre sua amizade com Everton e todo aquele lance de guardar memórias?
- Sim.
- Algo me diz que você tem algumas resposta para mim.
- Certamente, espero que você tenha as perguntas certas.
Ela assentiu meio sem entender e entrou junto com seu amigo. O lugar estava cheiroso, arrumado de maneira meticulosa, ela olhou toda a sala antes dele dizer com os pés no degrau da escada:
- Só vou trocar de roupa e já desço para conversamos.
- Obrigada.
Após a saída dele Elissah se conduziu ao sofazinho que ficava encostado na parede, e um pouco acima ficava a janela, e pode observar o espetáculo que a chuva vazia silenciosamente enquanto a água escorria no vidro ligeiramente irregular, ela observou também as rosas sendo regadas pela chuva, todo aquele quintal era tão lindo que o paraíso deve ser assim, não tinha como não desvincular aquilo de seu falecido marido, afinal, fora Paulo que cedera as flores para o velório, e foi com esse pensamento que Elissah viu que tudo que ela era ou tinha de alguma forma estava ligada a Everton. * Paulo literalmente esquecera por uns minutos que tinha alguém o esperando na sala e foi tomar banho, enquanto se secava lembrou que só iria trocar de roupa, mais não faz mal, ele sempre fora um pouco desligado e extremamente misterioso, alcançara os trinta anos e nem de longe era um cara feio mais na mesma distância não era bonito, era um típico cara médio como o Gil do livro Prova de Fogo do Pedro Bandeira, não chama e nem gostava de chamar atenção, porém havia uma grande parte do seu passado que ele não contara a muitas pessoas, na verdade, só Everton sabia, e mesmo assim ele colecionara alguns grandes amigos durante sua vida, como o próprio Everton, Elissah, a falecida irmã de Elissah a Fernanda, em fim, estava bem como estava. Enquanto se secava ele se olha no espelho, seus olhos negros e sombrios tinham um leveza incrível, como se ele fosse a mais bondosa das criaturas, e se for ninguém sabe, apenas sabia que podiam confiar nele mais do que em si mesmos, tanto que seu amigo Everton sempre se referia a ele em conversas impessoais como " O Guardião ". Quando terminara de se trocar Paulo desce as escadas em silêncio absoluto, e quando chegou a sala encontrou Elissah de joelhos em cima do sofá em estado contemplativo, ele caminha devagar e se senta em sua poltrona e diz:
- Cheguei.
Ela leva um susto com a voz do amigo e quase cai do sofá, ele sorri levemente antes de dizer:
- Desculpe.
- Tudo bem.
- Antes de começarmos, gostaria de beber alguma coisa?
- Depois.
- Ok, Vamos começar.
Então Elissah começou a contar sobre seus dias desde a morte de Everton até hoje pela manhã, contara das vezes que ficara deitada na cama vestida apenas daquele blusão que ela usava naquele momento e com o revólver do lado pensando no suicídio, das vezes que Paulo teve que socorre-la, e aos poucos a angustia dela foi sumindo, ele conseguia acalma-la apenas com o olhar, e no final das indagações ela pergunta retoricamente:
- Como vou viver agora?
- Tuché! A mais ou menos oito anos atrás, meses depois de vocês terem se casado Everton veio aqui e me entregou uma carta selada, de certa forma ele sabia que chegaria um determinado momento da vida que ele teria que te deixar, digamos que ele sabia que ia morrer.
Elissah piscou os olhos na frustrada tentativa de esconder as lágrimas ao ouvir o que Paulo disse, brotou uma emoção tão forte lhe fugiu o controle: - Como assim Paulo! Gritou - Como alguém prevê a própria morte!? Paulo nunca foi de gritar com ninguém e aquela não seria a primeira vez que faria isso, muito por entender o sobressalto de Elissah e prosseguiu sem ligar:
- Ela tinha uma doença no sangue, muita rara e logo não havia cura, os dias dele estavam findando, e além de me confidenciar isso ele me deu algumas tarefas para executar quando você fosse me procurar.
- Ele previu isso também?
- Não, isso todo mundo já sabe. Como minha primeira tarefa é te entregar a carta selada.
E nisso , Paulo tirou um envelope vermelho do bolso, o coração de Elissah disparou ao reconhecer a letra, ela sentiu seu corpo todo descontrair, era normalmente assim que se sentia quando seu marido a abraçava, embora mais distante parecia igual, e então ela perguntou ao amigo de modo mais amável:
- E qual era a segunda?
- A segundo eu tenho que pegar.
Paulo vai até o escritório, Elissah suspirava aliviada, se sentia bem com tudo aquilo, pelo menos por enquanto, minutos depois Paulo volta com uma caixa cheia de furos na tampa e entrega a Elissah que pergunta:
- O que é isso?
- Um presente que Everton pediu para providenciar para você. Elissah abre rapidamente a caixa e encontrou aquele pequeno animalzinho encolhido no canto da caixa e lá também havia um bilhete. ela acaricia a cabeça só filhote com o dedo e diz sorrindo:
- Obrigada.
- Aliás, o bilhete é para você ler quando estiver sozinha.
- Ele deixou mais alguma coisa?
Paulo se levantou e sentou-se ao lado dela e segurou as mãos dela e diz com uma voz terna:
- Ele a ama, e não queria que você passasse por tudo isso sozinha, agora você tem ao labrador para fazer companhia e tem a mim também. Ela o abraçou e o beijou com força antes de dizer:
- Muito obrigada mesmo, você salvou meu dia! Minutos após a saída de Elissah, o sorriso de Paulo por faze-la sorrir desapareceu, e seu olhar tomou o tom escuro novamente.

*
Cerca de uma hora após chegar da visita a casa de Paulo, Elissah já estava encolhida no sofá da sala, enquanto bebia um café ela olhava o filhote que dormia sossegado na almofada que estava sendo sustentada nas suas coxas, ela deu a ele o nome de Rexie. Ela pegou a carta , e pode sentir um misto de medo, ansiedade e alegria, e assim dizia a carta: " Meu Anjo. Quero primeiramente pedir desculpas por não ter lhe contado sobre minha doença, mais eu não queria fazê-la sofrer o antecipação, ou pode ser também que eu parti antes do que previa, de qualquer forma imaginado que você e Ally devem estar sofrendo, e qualquer um no lugar de vocês se sentiria mal, ou até pior. Também sei que você vai querer tentar passar por isso sozinha, e essa ideia me fez pensar no assunto com tristeza, daí lembre que você sempre quis ter um cachorro, por isso pedi a Paulo que providenciasse um dos filhotes da falecida labradora da minha mãe, e pedi para ele te entregar pois a quem mais você procuraria quando estiver mal? Bom, só quero que saiba que eu amo você e sempre vou te amar, e eu estarei com você onde quer que você for eu vou cuidar de você, te amo! Obrigado loira." E assim, Everton tem a chance de dizer adeus a Elissah, e essas palavras a consolaram, mesmo assim seria difícil viver sem ele, o homem que ela mais amou em toda sua vida.

Confie em Mim ( Ou o guardião de memórias )Where stories live. Discover now