Cap. 42: Mãos

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Continuei estática por mais alguns segundos, até tomar coragem o suficiente para levantar e correr. Não queria encarar Meena ou Rubi, que vinham ao meu encontro. Eu só queria... esquecer do medo.

Rapidamente, contornei as passarelas, voltando para meu quarto em um piscar de olhos e fechando a porta com força. Não me importava se a noite de trabalho não havia acabado ainda. Minha mão estava doendo, e eu não voltaria para ter que encarar a todos.

Assustei Bia ao chegar de supetão, mais ainda por estar segurando meu pulso com a outra mão.

Pelo jeito, havia sido mais do que um simples machucado, de acordo com minha amiga assustada. Bianca dissera que, de raiva, Datha havia torcido meu pulso.

×××

Implorar ao motorista da Sociedade para que me levasse antes dos outros tinha sido um trabalho árduo. Mas pelo menos esconder minha mão enfaixada era menos difícil, estando com alguém que não ligava entre eu estar viva ou morta no banco de trás.

A freada súbita quase me jogou para frente, o que aquele homem provavelmente gostava de ver. Ao invés de reclamar, simplesmente pulei para fora, observando enquanto a placa do carro preto (que demonstrava estarmos em Folkestone) se afastava cada vez mais.

Se aquela fosse mesmo a região escrita em letras brancas na parte de trás do veículo, então eu estava incrivelmente distante da casa de meu pai. Folkestone ficava praticamente na fronteira do país, sendo uma cidade portuário. Isso explicaria a grande quantidade de peixes que vi passar de um lado a outro nas ruas.

Os braços pequenos porém fortes de Thereza me impediram de respirar, quase fazendo com que caísse no meio do pátio.

- Alessa!!! - gritou, empolgada - Por que você não veio ontem?

A verdade era que, como no dia anterior eu me sentira péssima durante a manhã (tanto emocional, por saber da morte de minha mãe, quanto fisicamente) apenas continuara deitada na cama, afundada em pensamentos, até perceber que já se passavam de 10h e 59min. Thez me soltou, encarando nos olhos e franzido as sobrancelhas.

Então, percebeu o que eu tanto tentava esconder nas mangas excessivamente longas do vestido azul.

- Ah! Você machucou sua mão? - perguntou, descobrindo meu pulso para examiná-lo - foi por isso que não veio?

Imediatamente, puxei meu braço de volta, ignorando a figura de um Leo preocupado que surgia de trás da pequena garota.

- É, faltei por causa disso. - menti - Não foi nada de mais. Só uma forçada meio brusca.

A desconfiança dos dois era quase palpável, e pude ver a aflição se formar entre os olhos azuis de Leo e os olhos amendoados de Thez.

- Alessa... - começou o garoto, inquisidor - como você se machucou?

Senti o medo me atingir. Eles não estavam mais acreditando.

Sorri amarelo, pensando em uma boa maneira de contornar o assunto.

×××

O tempo na Academia novamente passara rápido demais.

Era sempre a mesma coisa, sempre o mesmo esforço para ser o mais lenta possível, e quem sabe ter a sorte de precisar ficar depois da aula, terminando os deveres. A única diferença naquela manhã, eram os olhos franzidos que a professora de literatura dirigira a mim, os cabelos grisalhos parecendo mais desarrumados ainda. Apenas sorri sem graça, escondendo o pulso dolorido em baixo da mesa.

Quando o sinal bateu, praticamente corri, ignorando o chamado de Leo e Thez. Os dois ficavam cada vez mais insistentes em me levar para dar uma volta após os Cursos, o que eu daria de tudo para conseguir. Pobres almas piedosas, que nem sabiam o perigo que corriam apenas em falar comigo... cheguei tarde de mais.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora