Cap. 34: Sentimentos Ruins

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Senti as palmas de minhas mãos suarem. Cerrei os punhos. Me sentia tensa. Talvez a brincadeira de Halloween não tivesse sido uma ideia tão boa assim.

- Você viu a Rubi? Tenho que combinar algumas coisas com ela. - Ônix comentou, bocejando.

Uma onda de alívio me invadiu. Pelo menos naquele momento, ele escolhera ignorar o assunto.

- Não. Acabei de acordar. Estava falando com a Meena, mas ela... meio que fugiu. - respondi, relaxando os músculos duros. Mesmo que eu tentasse controlar, meu coração continuava acelerado.

Ônix passou os dedos pelos fios (novamente brancos) do cabelo, jogando-os para trás. Então, ele pareceu notar meu estado, cerrando os olhos.

- Não dormi bem esta noite... - murmurou - mas você parece estar vinte vezes pior. O que aconteceu? Te empurraram da escadaria?

Revirei os olhos, relembrando minha atual condição de zumbi.

- Que engraçadinho. - respondi, pondo as mãos na cintura - mas não, Datha ainda não teve a chance de fazer isso. Só acordei meio doente. Acho que é uma gripe forte.

Percebi, pelo olhar de Ônix, que não estava apenas fazendo humor. Ele estava preocupado de verdade.

Então, com o negro dos olhos mais brilhante do que o verde, piscou, dissipando o sentimento.

- Espero que não seja nada demais, musa. - falou, aproximando-se de mim e bagunçando meu cabelo - non supportare un'altra persona malata buono.

E saiu, em busca de Rubi, deixando-me novamente sozinha e mais nervosa que antes.

×××

Na aula de Literatura, o tema era poesia. Meu pensamento distante, finalmente se prendera em algo, e eu quase não percebi o que escrevia. Deixei que os sentimentos me invadissem, como a professora indicara, e comecei a rimar.

Ficou mais ou menos assim:

"Se em algum dia,
Bonecas você enxergar,
Não tenha medo,
Elas só sabem chorar.

Por trás do belo vestido,
Do nada e da escuridão,
Tudo o que existe,
É o caos e a solidão.

Após os olhos de vidro,
Nada você vai encontrar,
Pois para elas é proibido,
O ato de pensar."

Meu lápis parou no meio do caminho. Não. Eu não podia entregar aquilo.

Procurei em meio aos materiais (distribuídos como "cortesia" pela Sociedade) a borracha, para apagar tudo o que havia escrito. Mas então, parei. Por que eu ia apagar? Afinal, ninguém ia descobrir sobre o que se tratava.

Mesmo que eu tivesse desistido de meu pensamento rebelde no segundo seguinte, já não havia mais tempo, pois a professora passou recolhendo os trabalhos, e agarrou o meu antes que pudesse impedir. Pensei mais uma vez se pegaria de volta, mas não o fiz.

De alguma maneira, queria que o mundo soubesse o que eu estava sentindo, mesmo que não por completo. Afinal, tudo era uma questão de interpretação.

×××

Na aula de Teatro, o professor, Sr. Mack, nos mandara transferir as cadeiras de nossa sala para o palco do auditório. Naquele dia, a aula seria lá, de acordo com suas palavras animadas. Então, cada um com uma cadeira embaixo do braço, eu e Leo rumamos à empolgante aula, conversando sobre amenidades.

- Então, como eu estava dizendo... - Leo continuou, tagarelando sem parar - tipo, agora que fiz 19 anos, a faculdade de administração e tals está me parecendo cada vez mais difícil. Estudar de noite, fazer curso durante a manhã e acompanhar meu pai na empresa durante a tarde é coisa de louco! Acho que estou ficando velho demais para isso.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora