Cap. 38: Chuva De Emoções

7.2K 987 282
                                    

Quando não consegui mais chorar, o vazio se instalou dentro de mim, mas ajudei Meena a se levantar. Ela também não demonstrava mais emoções, tendo como resquícios de choro apenas a vermelhidão em baixo dos olhos.

Nos encaramos, no meio da sala sombria, provavelmente pensando a mesma coisa.

Meena Taylor Castell, aquela que era tão inexpressiva, chorava como qualquer um.

Alessa Fragnello, aquela que tanto se esforçava para resistir, ser forte, estava em pedaços.

A Sociedade havia arrasado nós duas, e não havia maneiras de fugir.

Então, com cada uma ajudando a outra a manter-se de pé, caminhamos pelos corredores desertos, saindo do edifício, para esperar pelo carro que tanto demorava em nos buscar.

Assim que chegamos à recepção da Academia, não demorou para, em meio a chuva, surgir um automóvel preto e silencioso, como a própria morte.

Embarcamos ali, sem mais sentimentos à transbordar. Não pude deixar de desejar ser a chuva do lado de fora, que podia escorrer e evaporar para bem longe. Ser a água livre e viva, que tinha a liberdade de transformar-se a cada recomeço.

✴✴✴✴

☆Por: Ônix☆

Havíamos saído da Sociedade mais cedo naquele dia. Tudo bem que, com o que eu havia feito, provavelmente Alessa tentaria se distanciar. Mas não vê-la sair junto com os outros daqueles carros, fez com que uma pontada de preocupação se instalasse em meu peito.

Logo que descemos, Datha já chamou a mim e Rubi para conversar. As "conversas sinceras" que tanto tínhamos ultimamente, nada mais eram do que maneiras de garantir que ninguém escapasse durante as visitas familiares. No fim, ficou decidido que a cada dia, três pessoas visitariam suas casas. Ainda não sabia o que estava por trás daquela "gentileza", mas tinha certeza absoluta de que algo bom não era.

×××

Eu estava perambulando pelo poço, a cabeça cheia de pensamentos sobre a viagem, quando, finalmente, avistei Alessa e Meena entrando na Sociedade. Foram precisos apenas alguns segundos, para que percebesse que elas não estavam bem.

Minha musa, com a metade da frente da roupa molhada, tremia e rangia os dentes, mesmo com os punhos cerrados em determinação. Ela não queria que ninguém percebesse seu estado. Já Meena, tinha o olhar fixo em algum ponto distante, como se sua alma não estivesse ali presente. Franzindo as sobrancelhas, corri até elas, que estavam sozinhas no hall de entrada.

- Ei! - exclamei, assim que cheguei perto o bastante.

As duas levantaram os olhos, em sincronia.

Alessa, ao invés de ficar corada como sempre fazia, apenas manteve uma expressão vazia, tentando ignorar a própria dor. Já Meena, soltou-se do braço da outra, andando para longe.

- Preciso ir... - falou, baixo o suficiente para que a última parte da frase se tornasse inaudível.

Observei enquanto a garota se afastava, os trovões ecoando do lado de fora como em uma cena de filme de terror. O mal pressentimento que sentia se tornara uma bola de neve gigantesca, prestes a me esmagar.

- Ei, musa, o que foi? - perguntei, andando para ainda mais perto de Alessa.

Ela se manteve calada, endurecida, me encarando no rosto. Então, sem resistir, finalmente peguei sua mão, levando um susto em seguida: estava gelada.

- Dio, você está congelando! - puxei-a para perto, pondo o braço sobre seu ombro - vá para o seu quarto, Bianca com certeza pode ajudar!

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Where stories live. Discover now