Quando não consegui mais chorar, o vazio se instalou dentro de mim, mas ajudei Meena a se levantar. Ela também não demonstrava mais emoções, tendo como resquícios de choro apenas a vermelhidão em baixo dos olhos.
Nos encaramos, no meio da sala sombria, provavelmente pensando a mesma coisa.
Meena Taylor Castell, aquela que era tão inexpressiva, chorava como qualquer um.
Alessa Fragnello, aquela que tanto se esforçava para resistir, ser forte, estava em pedaços.
A Sociedade havia arrasado nós duas, e não havia maneiras de fugir.
Então, com cada uma ajudando a outra a manter-se de pé, caminhamos pelos corredores desertos, saindo do edifício, para esperar pelo carro que tanto demorava em nos buscar.
Assim que chegamos à recepção da Academia, não demorou para, em meio a chuva, surgir um automóvel preto e silencioso, como a própria morte.
Embarcamos ali, sem mais sentimentos à transbordar. Não pude deixar de desejar ser a chuva do lado de fora, que podia escorrer e evaporar para bem longe. Ser a água livre e viva, que tinha a liberdade de transformar-se a cada recomeço.
✴✴✴✴
☆Por: Ônix☆
Havíamos saído da Sociedade mais cedo naquele dia. Tudo bem que, com o que eu havia feito, provavelmente Alessa tentaria se distanciar. Mas não vê-la sair junto com os outros daqueles carros, fez com que uma pontada de preocupação se instalasse em meu peito.
Logo que descemos, Datha já chamou a mim e Rubi para conversar. As "conversas sinceras" que tanto tínhamos ultimamente, nada mais eram do que maneiras de garantir que ninguém escapasse durante as visitas familiares. No fim, ficou decidido que a cada dia, três pessoas visitariam suas casas. Ainda não sabia o que estava por trás daquela "gentileza", mas tinha certeza absoluta de que algo bom não era.
×××
Eu estava perambulando pelo poço, a cabeça cheia de pensamentos sobre a viagem, quando, finalmente, avistei Alessa e Meena entrando na Sociedade. Foram precisos apenas alguns segundos, para que percebesse que elas não estavam bem.
Minha musa, com a metade da frente da roupa molhada, tremia e rangia os dentes, mesmo com os punhos cerrados em determinação. Ela não queria que ninguém percebesse seu estado. Já Meena, tinha o olhar fixo em algum ponto distante, como se sua alma não estivesse ali presente. Franzindo as sobrancelhas, corri até elas, que estavam sozinhas no hall de entrada.
- Ei! - exclamei, assim que cheguei perto o bastante.
As duas levantaram os olhos, em sincronia.
Alessa, ao invés de ficar corada como sempre fazia, apenas manteve uma expressão vazia, tentando ignorar a própria dor. Já Meena, soltou-se do braço da outra, andando para longe.
- Preciso ir... - falou, baixo o suficiente para que a última parte da frase se tornasse inaudível.
Observei enquanto a garota se afastava, os trovões ecoando do lado de fora como em uma cena de filme de terror. O mal pressentimento que sentia se tornara uma bola de neve gigantesca, prestes a me esmagar.
- Ei, musa, o que foi? - perguntei, andando para ainda mais perto de Alessa.
Ela se manteve calada, endurecida, me encarando no rosto. Então, sem resistir, finalmente peguei sua mão, levando um susto em seguida: estava gelada.
- Dio, você está congelando! - puxei-a para perto, pondo o braço sobre seu ombro - vá para o seu quarto, Bianca com certeza pode ajudar!
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...