Capitulo 12

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Nos separamos e olhamos para o céu. Era lindo....Tudo nessa nova vida era lindo. Nunca vou querer voltar, nunca vou querer ser normal.
Lea bocejou, mostrando o quão grande sua boca era.
- Tá com sono? - Olhei para a lua.
- Um pouco, gastei dois anos te procurando, ficar com sono é normal.
- Eu passei dois anos dormindo. Ficar com sono não é normal. Mas tenho que dormir.
- Por que? Uma noite em claro não vai te matar.....ah é. Sua mãe, tinha esquecido.
- Sim... tenho muito o que treinar. Só o dia não é o suficiente, essas pessoas dentro da escola estão anos, alguns centenas de anos na minha frente. Não posso me dar o luxo de descansar.
- Não posso te ajudar nos sonhos. Mas conte comigo para treinar. Passei duzentos anos dormindo, ficar com sono não deveria ser normal.
- Acho melhor eu ir. Vou dormir aqui mesmo, estou com preguiça demais para ir até a escola.
Ela deitou na neve e colocou sua cabeça sobre as patas. Suas orelhas balançavam de acordo com os sons ao redor e seu rabo mexia de um lado para o outro rapidamente.
Olhei bem para ela, estufei minhas bochechas, levantei minhas mãos e fiz gestos como se estivesse apertando algo muito fofo. Ela olhou para mim como se fosse louca.
- O que tá fazendo Luna? - Uma de suas orelhas abaixou e ela virou a cabeça.
- É só que...você...é tão fofa. Da vontade de apertar até explodir.
- Por favor não faça isso. Eu devia passar um ar de poderosa e não fofa.
- E você passa, para quem não te conhece. Mas eu sei que no fundo, beeeeeem no fundo, você é um marshmallow.
- Não fala isso para ninguém. Me sinto violada.
- Não reclama que nem tinha muita coisa para ver. Você não teve memórias durante duzentos anos. Você teve dezesseis anos recheados de memórias e tombos no nada
- Eu não posso sair de perto de você.
- Por que isso agora?
- O seu senso de direção é uma merda. Deve se perder dentro do próprio quarto.
Peguei neve e joguei em seu focinho. Ela espirrou e se levantou. Enfiou seu rosto na neve e jogou uma montanha em mim.
- Então é assim? - A desafiei.
Criei neve em cima dela e joguei tudo de uma vez, a coitada ficou coberta de branco. Ela pulou para sair de onde estava e passou por cima da minha cabeça, deve ter pulado uns quatro metros de altura. A neve que se espalhou caiu como uma avalanche em mim. Me levantei com dificuldade chingando sei lá quem.
Lea estava rolando de tanto rir. Pelo o menos não está mais chorando.
     - Quando eu souber tudo o que posso fazer com meus poderes. Você vai ver.
     - Estou esperando por esse dia. Mas agora realmente preciso dormir.
     - Você não está com frio?
     - Quando trocamos memórias peguei um pouco da sua resistência ao frio. Você deve ter pego minha velocidade.
      Ela deitou com a cabeça nas patas ali mesmo, no meio de um enorme campo branco, um pontinho preto e azul em uma tela nova. Cheguei perto dela e me encostei em seu ombro peludo.
- Boa noite, Luna.
- Boa noite, Lea.
Adormeci rapidamente, não imaginava que estaria com tanto sono assim.
Estava em um quarto preto. Não conseguia ver nada, pisquei e o cenário mudou. Me encontrava em um lugar repleto de natureza, na minha frente tinha uma fonte termal feita de pedras. Conseguia sentir o calor vindo dali, comecei a ficar desconfortável. Estava nua, como no outro sonho.
O que essa deusa tem com nudez? Pensei.
- Entre, hoje vamos trabalhar sua resistência ao calor.
- Queria trabalhar os meus poderes... - Olhei para a fonte - Temos mesmo que...treinar com isso? - Engoli em seco.
- Que medo é esse? Consigo sentir o cheiro daqui. Primeiro conheça as suas fraquezas, para depois treinar suas qualidades.
Não queria admitir, mas ela estava certa. Andei em direção a fonte sentindo cada vez mais o calor que ela emitia.
- Eu já disse que odeio o calor?
Minha mãe começou a rir.
- Tá rindo do que?
- Nada não. Pode ir, tô esperando.
Comecei a xinga-lá em todas as línguas que conheciam. Subi a pequena escada de pedra e encarei a água esverdeada.
     - Não tenho o dia inteiro não.
     - Essa merda deve tá mais quente do que parece.
     - Entra logo! Para de frescura.
     Resmunguei maldições e coloquei a ponta do meu dedão na água. Parecia que estava entrando dentro de um vulcão de lava.
     - A temperatura do seu corpo é bem abaixo do normal, então isso deve estar sendo mais doloroso para você do que para uma pessoa normal.
     - Tô percebendo. Ok, se não for agora não vai ser nunca.
     Enfiei o pé, seguido por uma perna, depois a outra e abaixei até o pescoço, tentei fazer isso o mais rápido possível para não doer tanto. Não funcionou como esperava. Eu podia jurar que minha pele tinha começado a descolar do músculo, que bolhas de queimadura estavam por todo lado.
     - Você consegue. Pense que a dor não é real, se concentre em algo e pense nisso até se acostumar.
     Comecei a arfar, acredite mae, a dor é bem real. Pensar em algo...Mas o que?
     - Nunca mais....quero nem chegar perto....de uma ....fonte - Disse entre uma respiração e outra.
     - Acredite, você vai aprender a gostar. Agora se concentre. Foco.
     Uma coisa.....
     A voz daquele menino me veio à mente, fiquei imaginando um corpo para ela, um belo rosto. Sua doce e linda voz ecoava na minha cabeça, tinha parado de sentir calor. Agora eu queria apenas uma coisa.....conhecer o dono dessa voz.
     - Eu vou te encontrar - Sussurrei para mim.
     - Você conseguiu Luna! Parabéns. Eu mesma levei mais tempo para me acostumar.
     Eu não sofria mais, conseguia sentir a parte boa do calor que todos falam. Aconchegante e quentinho, mesmo que o frio seja melhor, o calor não é tão ruim assim.
     - Até que não é tão ruim assim.
     - Sim haha.
     - Mae, você pode me explicar.... a Lea?
- Não tem muito o que falar. Quando você viesse para o mundo humano iria ficar desprotegida por muito tempo e eu quis protegê-la. Mas também tem outra coisa, a existência de vocês duas já estava entrelaçada pelo destino, eu só dei um empurrãozinho - Senti um sorriso em sua voz.
- Obrigada.
- De nada querida. É melhor sair, está começando a afetar o seu corpo real. Ainda não tem controle total sobre o calor, sua pele está queimando lentamente.
- As coisas que acontecem aqui podem afetar meu corpo de verdade?
- Em um certo grau, coisas leves não afetam nem um pouco, mas já um corte profundo ou essas queimaduras podem acabar te machucando na realidade.
     - Entendi.
     Sai da fonte e me imaginei usando um roupão branco e felpudo, estalei os dedos e senti a maciez sobre minha pele.
     - O calor pode ser ruim, mas não se esqueça que esse vapor que você acabou de receber no rosto limpa a pele e hidrata, graças as ervas que tinha aí dentro.
     - Verdade....Talvez até experimente mais vezes, mas agora eu tenho que ir, quero dormir e ter um sonho louco.
     - Você está sonhando com uma deusa, que por acaso é sua mãe e que por acaso está te forçando a entrar em uma fonte termal verde no meio de uma floresta estranha.
     - Eu só quero dormir, dormir mesmo.
     - Claro, nos vemos amanhã. Até.
     - Até.
     Tudo ficou preto novamente. Lembro de ter sonhado que corria por grandes campos abertos e cobertos de neve com Lea em sua forma normal. Estávamos felizes.
     Por enquanto.....




OI GENTEEEEE
Mais um cap para vcs, pessoas que eu amo tanto.
Gente, plis, comentem, votem e passem para os contatinhos.
Espero que tenham gostado e desculpa qualquer erro
Até o próximo cap
Bezu.

A Menina De GeloWhere stories live. Discover now