Entre dualidade e prantos

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Parte II - IV


Sem dúvidas, estava em meu colégio, a primeira vista, tudo igual, mas aos poucos fui descobrindo coisas que me davam repentinos calafrios, a diretora agora era a até então professora Raquel?

Tudo estava me deixando confuso, bati na porta da diretoria.

— Com licença diretora...Raquel! Estou procurando um aluno, amigo meu!

— Desculpe, não vou poder te ajudar, tenho muitos problemas para resolver hoje!

E fechou a porta antes que pudesse dizer qualquer coisa, o sinal tocou, olhei para o relógio da parede, vinte e uma horas e quarenta e cinco minutos, hora do intervalo, fui a cantina, a "diretora" do colégio estava varrendo a cozinha do refeitório, me aproximei e falei:

— Boa noite diretora, a senhora tem um tempo para conversar?

— Já estou cansada de brincadeira besta por hoje, Preciso arranjar  outro emprego —  resmungou.

Não conseguia reconhecer as pessoas que faziam parte do meu cotidiano, não reconhecia nem a mim mesmo, lembrei do rosto franzino e sério que encarei no reflexo da porta de vidro, fui ao banheiro, e me olhei no espelho, era perturbador, se "esse" não era eu, onde realmente estaria? Onde estava? Tinha ficado louco? Responder quem sou eu nunca foi fácil, mas agora se tornara impossível.

O tempo do intervalo se prolongou, a diretora  realmente estava se preocupando com algo, passei em frente a porta e vi ela pendurada no telefone, seu semblante não demostrava tranquilidade, como se eu e ela estivéssemos sentindo algo parecido, tinha de haver explicação, não tive tempo de me questionar.

Em um banco perto da sala de espera vi Clarice chorando, embora talvez não me conhecesse, tinha que falar com ela, sentei ao seu lado.

— Qual o motivo de tanta tristeza moça?

—  Meu melhor amigo morreu — murmurou, em meio a lágrimas.

— Sinto muito.

— Ele gostava muito de mim —, voltou a chorar—. Como nunca percebi isso?


Houve alguns segundos de silêncio, e então ela tirou um papel de sua bolsa, e me entregou, ao desdobrá-lo reconheci imediatamente a mensagem, não pude acreditar, era a carta que tinha escrito para ela. Eu tinha mesmo morrido? Não conseguia mais ter certeza de nada, talvez ela entendesse aquilo tudo melhor que eu.

— Desculpe a pergunta, mas quando ele morreu?

— A poucos dias, até agora ninguém sabe como, a polícia foi informada de seu desaparecimento por seus pais e o encontraram morto perto de sua casa, em um bosque.

 — Hum, acho que entendi, tudo irá ficar bem, fica tranquila! — ela forçou um sorriso.

Tudo o que tinha a fazer no momento era voltar ao local do ocorrido.

A luz que não me guiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora