Admirável luz

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Parte I - IV


Sinceramente estava contestando se minha atitude de escrever um bilhete iria melhorar minha situação com a menina que me fazia ter motivos para ir ao colégio todas as noites, Clarice me tinha apenas como amigo, e o fato é que eu sabia disso, tinha medo que nossa amizade acabasse de uma hora para outra porque resolvi me declarar de uma forma boba.

Caminhando em direção a minha casa, não consegui pensar em outra coisa que não envolvesse meu relacionamento com aquela menina, tinha passado horas tentando encontrar uma solução que me livrasse daquele dilema, nada que eu fizesse parecia poder resolver as coisas que passavam na minha cabeça.

Meu celular vibrou, parei em frente a uma vitrine para tirá-lo do bolso, ajeitei meu óculos, tinha recebido uma mensagem, era meu pai.

— Heitor, porque tanta demora, quero ver você em casa logo rapaz!

Já esperava algo do tipo, meus pais nunca toleravam um atraso de cinco minutos sequer, esse foi o tempo que tive para rabiscar palavras em um papel e correr em direção ao armário de Clarice assim que o sinal da última aula tocou.

 A rua onde morava estava tranquila naquela noite, ninguém caminhando por perto, nem carros passaram por mim durante o trajeto, o bosque ao meu lado parecia mais silencioso do que o normal, era comum ouvir sons de grilo a essa hora.

Continuei caminhando por mais alguns metros quando algo me fez parar. Dentre as arvores percebi algo muito luminoso, uma sensação estranha me tomou conta de imediato, aquilo não era algo comum, nunca vi nada parecido antes, alguns passos mais perto me deparei com aquela luz radiante, um tipo de esfera com uma luz flutuando e de forma sólida, muito forte, quando cheguei bem perto daquilo fui tomado por uma sensação de tranquilidade profunda, era o que me motivava a chegar cada vez mais perto da luz, naquele momento não pensava em como seria perigoso chegar perto de algo desconhecido e surreal, e nem cheguei a pensar como aquilo não fazia o menor sentido.

 Prossegui na mesma direção, e já bem perto, toquei lentamente naquela esfera radiante, senti que precisava chegar ainda mais perto, já não tinha total controle sobre mim, e mergulhei no que me fez perder a consciência por inteiro, estava tudo claro, já não existia nada ao meu redor, tudo o que possuía agora era um sentimento misto de euforia e sossego, estava longe de tudo e de todos, impossível estimar quanto tempo essa sensação de paz duraria.

Quando pude formar em minha cabeça imagens que faziam mais sentido do que tinha vivido naqueles últimos segundos, entrei em desespero, já não me enxergava como eu mesmo, no reflexo da porta da escola não estava minha pessoa, aquele certamente não era eu, encarei um rosto ridiculamente magro, sem óculos, com cabelos morenos que cobriam as orelhas.

 Andei a passos largos pelo corredor, aos poucos pude ir notando que nada estava como antes, era o mesmo colégio, as mesmas pessoas, mas algo estava errado, mal sabia eu que TUDO estava MUITO ERRADO, e não levei muito tempo para perceber isso.


A luz que não me guiaWhere stories live. Discover now