#18 - Sonhos na Turquia

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- Klaitu!!!

Ainda é madrugada. Três passageiros mais próximos se viram para Jasmim irritados. Há quem apenas se mexa em seu assento.

Jasmim acordada olha agora a janela, quase escondendo sua raiva sob uma expressão calma.

Estava num parque e havia várias árvores estranhas, contorcidas. Elas começavam a perseguí-la até que Jasmim se via diante de uma mulher de orelhas pontudas. Ela veste farrapos esverdeados, mas tem jeito limpo e imponente, além de uma certa idade. Em suas mãos uma arma. Um pequeno bastão que termina em uma massa de metal. Parecida com sua morningstar, porém menor e sem as pontas. Após um olhar monstruoso da estranha mulher é que Jasmim desperta.

Mas este não é todo o sonho, nem ao menos toda a parte que Jasmim se lembra: ela sabe todos os detalhes. Como é a cidade, o caminho até o parque... Por pouco não sabe o nome de cada uma das árvores. Após uma semana inteira sonhando com a mesma coisa várias vezes por noite, estranho seria se fosse diferente.

Muita coisa estranha tem acontecido na viagem. O ônibus precisou desviar o caminho de uma cidade ainda na Rússia porque, ninguém nem imagina como, simplesmente a cidade não existia mais.

Em todo lugar havia gente desabafando seus problemas e Jasmim escutava de longe, por falta do que fazer, para ver se o tempo passava mais depressa.

Uma moça que perdeu sua família porque a casa pegou fogo de hora pra outra, um deficiente que jura que seu braço fora arrancado por um demônio, um paranoico se escondendo de um fantasma ou qualquer coisa parecida... Muitas histórias, nenhuma feliz.

Que viagem cansativa... São dois motoristas se revezando e as paradas são poucas e calculadas, apenas para refeição num descanso de uma hora. A viagem não para.

Felizmente já estão na Turquia, que era, afinal, seu destino.

Jasmim vê pela janela a noite escura. Seus olhos já testemunharam coisas estranhas, não foram só os ouvidos.

Faz duas noites que viu uma criatura monstruosa e gigante qualquer voando. Parecia uma espécie de inseto... Grupos suspeitos se reunindo em conversas, danças e comportamentos ainda mais excêntricos também têm sido comuns.

Dolores Clairborne já terminou faz tempo. Jasmim calculou bem o tempo que levaria para ler aquele livro, mas não conseguir dormir durante a viagem não estava exatamente nos seus planos...

Uma semana viajando dia e noite, sem ter mais o que ler, dormindo e acordando com o mesmo sonho porque Klaitu quer, não se sabe porque, que ela pegue uma arma. Mas Jasmim já tem uma arma, não? Isso tudo a incomoda e quase ela se arrepende de estar nesta jornada. Quase... Porque no fundo isso a motiva mais. Não vê a hora de cumprir logo sua missão para que o mundo volte ao normal.

Felizmente, amanhã almoçam em Pasinler e partem para Erzurum, destino final desta viagem.

Jasmim continua com os olhos presos na janela. Não vai mais conseguir dormir, mas pelo menos a viagem continua...


Jasmim - Porque nem tudo que é belo é frágilOnde as histórias ganham vida. Descobre agora