#10 - Quem Procura Quem

2 0 0
                                    

Anna olha para o relógio. Já passa do meio-dia. Um carro laranja para logo em frente. Dele descem Jasmim e Pietro. Jasmim não parece trazer uma boa expressão.

- Oi, menina! - Pietro cumprimenta a Anna, esta lhe dá um sorriso simpático instantâneo que logo se desfaz e se volta para Jasmim.

- Como foi lá? Conseguiu?

- Bom, gente, vou indo então! - Pietro de novo. - Depois passo aqui de novo pra gente conversar mais!

- Nada ainda, Anna. Pode fechar a loja e ir pra casa almoçar.

- Ah, vou pra casa hoje não. Tá chato o clima lá. Vou almoçar aqui perto.

- Faça como quiser.

- Ei, espere!

Jasmim, que já ia em direção à escada, volta com sua caixa.

- Olha, aconteceu uma coisa estranha hoje de manhã. Preciso dizer uma coisa... É... Como é que eu digo...

Jasmim se senta ao balcão e Anna se senta do outro lado, claramente nervosa, com as mãos juntas presas entre os joelhos.

- Bom, é que pela manhã, logo cedo, apareceu um cliente. E ele levou aquele criado-mudo que estava ali, lembra? Aquele antigo e... Bom, ele pagou! Em dinheiro!

Enquanto Jasmim simplesmente acompanha o que Anna diz, curiosa com a conclusão a que chegará, Anna para um pouco para roer as unhas, com as sobrancelhas arqueadas.

- Bom, não sei se fiz bem...

- Vendeu por quanto?

- Por 1.500 rublos, que era o preço que você tinha dito, sem o desconto porque ele nem pediu... Bom, ai... Você vai me matar...

- ...

- É tão bom trabalhar aqui... Acho que fiz uma besteira...

- O que fez?

- Não... Não olhe assim! Eu fico mais nervosa! - Responde Anna, quase chorando. - Se fiz besteira juro que pago, desde que você divida e não seja de uma vez. Por favor não me manda embora!

- Conta logo o que você fez!

Anna caminha até a gaveta do balcão onde Jasmim está e tira um pequeno pacote enrolado em jornal.

- Olha, é que apareceu um rapaz vendendo isso e como você falou que o sonho era com anéis e ele não quis vender mais barato... Não me demite!

Lá estavam eles. Tão nítidos quanto no sonho. O anel de cobre com cristais brancos e a aliança de cobre e prata.

- Desculpa, por favor! Eu sou doida mesmo! Fiquei impressionada quando você falou dos anéis e você nem dormia nem nada! Ele veio e disse que eram da avó e estava...

- São estes...

- ...Precisando de...

Anna enxuga as lágrimas que já começavam a fugir dos olhos e se deixa cair sentada na cadeira onde estava antes.

- Não ficou com raiva de mim?

- Não, Anna. - Jasmim responde séria, mas com a voz calma. Como a voz de um monge. - Você fez o melhor que podia ter feito. Os anéis são exatamente estes.

- Nossa! - Anna apoia o queixo sobre as mãos, com os cotovelos no balcão. Seus olhos verdes ainda úmidos brilham fascinados. - Foi o que pensei na hora. Quando ele foi embora foi que fiquei nervosa, com medo de não serem eles...

Jasmim os observa suspensos por suas mãos.

- São bonitos... Vai usar agora?

- Ainda não. Tenho que saber o que fazem.

- Como assim?

- São mágicos.

- Como o Senhor dos Anéis?

- Mais ou menos...

- Nossa... - As duas olham os anéis por mais um tempo. - E agora você está com os anéis... Você tinha dito que ia testar se os sonhos eram verdade, não foi? Pelo jeito eram... Já sabe o que vai fazer agora?

- Ainda não, mas vou descobrir.

- Que incrível!

- Anna?

- Diga.

- Vai almoçar onde?

- Ali no Restaurante Prato do Dia.

- Fecha a porta lá na frente e vamos lá pra cima. Você almoça comigo hoje.

- Sério!? - Os olhos de Anna se enchem de lágrimas novamente. - Poxa, Jasmim, assim eu me emociono. Trabalho pra você há mais de ano e você nunca me chamou pra almoçar...

"Verdade... Mas já passa de uma hora, além do mais ela tem se mostrado uma pessoa confiável."

- Então, vamos?

- Vamos! - Anna vai fechar os portões enquanto Jasmim se dirige à escada.

Jasmim - Porque nem tudo que é belo é frágilOnde as histórias ganham vida. Descobre agora