#02 - Universidade

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- Você não pode entrar aqui com isso! - Um vigilante grita de pé com a mão estendida.

- Vim ver o professor Nicolau.

- Mas não com essa... coisa!

Jasmim o encara do outro lado do balcão, onde está uma caixa de madeira para um tipo de relógio de parede estreito e muito alto. Ao invés de um relógio de parede, entretanto, a caixa traz uma estranha arma. Um bastão preso a uma bola cheia de pontas.

- O que você acha que eu vou fazer com isso? Assaltar a biblioteca e roubar livros?!

- Não pode entrar! Isso é uma arma!

- O professor Nicolau é arqueólogo e ensina História. Isso interessa a ele!

- Não vou deixar você entrar com isso.

- Seu idiota!

- Como é?

- Calma vocês dois. - Um homem de óculos um pouco corpulento e baixo, de cabelos grisalhos denunciando seus cinquenta anos, se aproxima. - Deixe-a entrar, ela veio me ver.

- Não com isso, professor.

- O que temos aqui... Hmmm... Ora, Demétrius, faça-me o favor! Acha que ela tem força pra manusear isso aí? Ela mal consegue carregar a caixa!

- Como é? - Jasmim encara o professor com raiva.

- É mesmo, né professor? Está bem, pode entrar.

Eles caminham. Jasmim por pouco não desiste e volta da portaria mesmo.

- Calma, Jasmim. Desculpe meu comentário com o Demétrius. Eu tive que dar um jeito de você entrar logo. Estou bem ocupado hoje.

- Que jeito!

- Ora, vamos. Você sabe que não duvido do seu potencial. Se duvidasse não ia querer tanto que fosse minha aluna. Vamos até minha sala.

Eles caminham por um corredor até o fim, numa porta de vidro que leva à biblioteca de fato. Mas não a atravessam, ao invés disso entram na sala à esquerda.

- Não tem coisa melhor para um estudante do Passado do que um escritório numa boa biblioteca... Bem, pelo menos para um estudante do passado que não tem mais vigor suficiente para viajar pelo mundo fazendo pesquisa.

Sentam-se em torno de uma mesa que fica no canto da sala, do lado oposto às três estantes cheias de livros.

- Mas me diga: o que significa esse morningstar?

Jasmim responde com uma interrogação no olhar. O professor continua.

- Morningstar! Estrela da manhã! Era uma arma temida na Idade Média. Por ser muito pesada e, bem, além de essas pontas machucarem um bocado, ela conseguia furar armaduras. Hmmm... E esse exemplar que você tem é bem grande! Nunca vi uma morningstar dessas!

- Por isso a trouxe. Eu já.

- Diga-me o que tem a dizer.

- Há dias eu sonho com esta arma. Descobri hoje sua existência lá no porão do antiquário. Nunca a vi antes, só nesses sonhos.

- Interessante... Então você acredita que ela pode ser mágica ou algo do tipo? - Jasmim não responde, esperando que o professor prossiga - Jasmim... Eu sei que os jornais têm falado muita besteira sobre destruição mundo afora, mas acredite em mim: eu já vi a História acontecer. Esse truque é antigo. Eles só querem esconder o fracasso do Governo. Estamos vivendo uma crise econômica, à beira de uma queda como nunca visto antes. Eles precisam culpar elementos externos. O único inconveniente é que não souberam fazer. Pelo visto investiram muito em histórias absurdas. Os russos aprenderam muito com os americanos. Este é o típico jeito americano de fazer filmes: pouca história e muitos fogos de artifício.

Ele para um pouco e olha por uns instantes o mapa da Rússia na parede à sua direita, de frente para a porta.

- Sabe? Tenho outra teoria, mas é muito difícil que esteja acontecendo isso. Podemos ter uma nova Guerra Mundial em progresso lá fora pegando a todos de surpresa, isso também já aconteceu antes. Mas só te digo uma coisa, Jasmim: não acredite em tudo o que a imprensa diz. Gosta de incenso? - Ela dá de ombros. - Tenho um aqui em sua homenagem. De Jasmim!

O professor se levanta e caminha até uma pequena mesa, onde há um objeto antigo de cobre, em forma de bacia, mas com desenhos e detalhes ao redor. De um pote de plástico ele despeja um pequeno morro de pó no objeto. Em seguida o acende e volta.

- Faz tempo que não uso incenso aqui. É bom para relaxar, sabe? Minha mulher é que gosta dessas coisas. Quando a gente começou...

Um estalo forte interrompe o professor e chama a atenção dos dois para o incenso que queima. Um brilho estranho começa a ganhar força e uma chama sobe sobre o incensário.

- O que está havendo? Isso não é pra queimar assim. - O professor se levanta e Jasmim segura seu braço. - Calma, Jasmim. Você está muito impressionado com essas besteiras da Imprensa.

Num instante, um calor imenso e entre estalos de chamas revoltas o professor é arremessado contra a parede e Jasmim é jogada para o lado oposto, deslizando no chão.

Parece uma pessoa, mas é fogo. É tudo o que Jasmim percebe de quem os atacou agora que está se levantando. Seu olhar não expressa medo: ela sabe exatamente o que fazer.

Jasmim - Porque nem tudo que é belo é frágilOnde as histórias ganham vida. Descobre agora