#30 - Quatro

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Lentamente a espada é recolocada na bainha. Os dois se olham por um longo momento, a uma distância aparentemente segura um do outro. De um lado, Jasmim com sua armadura de malha cinza com penas azuis, com a morningstar na mão e ar altivo. Do outro, aquele estranho de cabelo longo, liso e preto. Vestido de preto, de bota e sobretudo, com olhar sério e curioso. Encaram-se frente a frente, olhos azuis e olhos negros.

Ao fundo, Kao-Wi e Aeze-Yo tentam tratar um do outro, fazendo estancar o sangramento.

- O que fazem aqui? - O estranho finalmente pergunta.

- Estamos em missão de resgate. Bens de estimação.

- Bens... Não me parece sensato. Aqui não é seguro.

- Sabemos dos riscos.

- Ao que parece, não de forma precisa. Vão embora enquanto é tempo. Eu acompanho vocês até a saída.

- E quem é você?

- Sou Azawagh. Vamos logo. Seria uma pena vocês virem de tão longe para morrerem aqui.

- Como?

- Eles são chineses, não são? Você parece ser europeia, sueca talvez.

- Russa. Você é daqui?

- Sim.

"Será?"

- Espere! E quanto ao que vimos buscar? - É Kao-Wi que pergunta, mal podendo ficar de pé.

- Vocês têm dez minutos. - Azawagh fala, antes de se virar e sair calmamente da escola.

- Yo, procure aí! Jasmim, se puder ajudar também...

- Tá, Wi, mas o que viemos buscar mesmo?

- Deixa ver... Procurem a diretoria. Tem dois quadros lá e o que tiver de pote na estante tragam também.

- Que tipo de missão é essa! Que coisa idiota! Pô, Wi, esse perigo todo que enfrentamos foi só por uns potes e dois quadros?

- Vão lá que estamos perdendo tempo.

- Parece que dessa vez você terminou pior que eu né, mano?

Kao-Wi e Aeze-Yo caminham pela rua, este apoiando aquele. Jasmim e Azawagh vão à frente, como batedores atentos e armados. Atentos à cidade e um ao outro.

- Wi, diz uma coisa... Esses quadros...

- São relíquia de família, Yo. Têm muito valor para quem nos contratou.

- Entendo. E os potes? Jasmim achou um monte e você escolheu só três!

- São os ancestrais dele. São cinzas deles. Percebe o quanto isso é importante?

- Mortos? Sei... Espero que a recompensa valha mesmo a pena. A gente quase que morre nessa brincadeira afinal de contas.

- A recompensa é o valor justo.

- Tá... Sabe o que não entendo? Por que a gente não pega simplesmente dinheiro, ouro e coisas por aí? A cidade está morta mesmo! Não tem dono mais...

- Já ouviu dizer que o que vem fácil vai fácil, Yo?

- Já, mas...

- Tenha calma. Vamos construir nosso futuro aos poucos, um passo de cada vez. Vamos ter uma bela riqueza um dia, mas seremos almas ricas também se continuarmos nesse caminho.

- Tá...

Viram a esquina e prosseguem.

- ...Mas preferia ser uma alma pobre com dinheiro e ficar me arriscando aí só para ajudar as pessoas, não por recompensa. Sei lá, estranho isso tudo! No final das contas talvez terminasse é dando no mesmo.

- Talvez.

- Sabe o que é engraçado? Você com tantas armas terminou mais machucado que eu! Também, pra quê tanta, né? Ah, esse caminho é por onde a gente veio! Vamos pegar aquele pessoal como a gente prometeu, né?

- Tudo bem.

- Nossa! Vocês dois aí na frente não falam nada!

- Muitas palavras não indicam necessariamente muita sabedoria. - Azawagh responde - Tales de Mileto.

- Tá, mas ficar calado também não significa isso. Não significa é nada!

Os quatro continuam pela noite fria...


Jasmim - Porque nem tudo que é belo é frágilOnde as histórias ganham vida. Descobre agora