Themba se aproximou do homem e o observou em silêncio por alguns instantes.

- Eu poderia acordá-lo com um encantamento. - Sugeriu Themba.

- O estado dele ainda é delicado, mestre. - Intercedeu Beluah.

Themba olhou para a aprendiz e balançou a cabeça em anuência.

- Acha que ele sobreviverá? - perguntou à mulher de Ekene.

Beluah deu de ombros.

- Muito bem. Por favor, me informe assim que o quadro se reverter. Ah, acredito que o Chefe Udo queira ouvir seu relato, caçador. Que o Cálice lhe banhe em saúde - desejou Themba, antes de sair.

O homem abriu os olhos e gemeu. Num gesto impulsivo, Beluah cobriu seus lábios com um pano úmido e pediu silêncio, levando o dedo indicador aos lábios.

- Irmão, ouça-me. Meu nome é Ekene. Esta é Beluah. Você foi ferido e está sob nossos cuidados. Nós sabemos que você é um guerreiro Lundu. Mas, para sua segurança, é melhor manter esta informação em segredo. Você está em território Jutan. Se sua identidade for revelada, não poderemos garantir sua segurança. Você compreende?

O homem, olhos arregalados e respiração ofegante, fez um sim com a cabeça depois de processar toda aquela informação. Lentamente, Beluah tirou o pano de sua boca.

- Qual o seu nome, irmão? - perguntou Ekene.

- Olujimi Kumbukani - respondeu o homem - sou centurião do exército Lundu. Por que me salvaram?

- Porque a guerra entre nossos povos já derramou sangue demais. Com a sua ajuda, podemos trazer a paz entre nossas tribos. - respondeu o caçador.

Olujimi olhou para Ekene com desconfiança.

- E por que você crê que este seja o nosso destino?

- Nosso destino nos pertence para ser escrito. Eu não quero que meu filho cresça no meio do ódio.

- Eu não acredito em você - disse Olujimi.

- Não tenho motivos para mentir - respondeu Ekene.

- Obviamente, você os tem de sobra. Uma guerra que você deseja encerrar, ainda que com mentiras e traições. A certeza arrogante de quem quer determinar o destino. Não apenas da sua família, mas de tribos inteiras. Se me perguntar, irmão, sua arrogância é motivo suficiente para uma mentira. Por mais que você queira se convencer de que se trata de uma mentira nobre.

- É uma pena que se sinta assim, guerreiro. - Lamentou Beluah. - Isso quer dizer que vamos ter que executá-lo imediatamente. A tribo saberá que você não resistiu aos ferimentos.

- Não tenho medo de suas ameaças, mulher. - Disse Olujimi.

- Eu teria, se fosse você. Esta mulher sabe tudo sobre mortes silenciosas e agonizantes. - Recomendou Ekene.

- Então, passamos de aliados pela paz a torturadores e torturado . A firmeza das suas convicções me surpreende, Jutan.

- Eu estou disposto a fazer o que for necessário para parar o derramamento de sangue.

- Inclusive derramar o meu sangue?

Ekene suspirou.

- Não. Isso eu não farei.

- Então, temos um impasse - disse Olujimi, com um sorriso.

- Devo seguir seu exemplo? Informar nosso Chefe sobre um inimigo em nossa tenda? - Perguntou Beluah, visivelmente frustrada.

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