D e z a s s e i s.

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Reviro-me na cama, embrulhando-me ainda mais nos lençóis quando o frio toma conta do meu corpo. Olho para as horas e vejo que ainda são cinco e treze da manhã. Suspiro virando-me para o outro lado, mas o sono não volta e eu não insisto com ele.

Levanto-me cuidadosamente, lembrando-me que Louis dorme do meu lado. Sereno e lindo. Mil e um pensamentos tomam conta da minha mente antes de vestir umas calças de pijama e sair para a cozinha.

Tiro uma caneca do armário e encho-a com leite, aquecendo-o por pouco mais de um minuto. Quando o microondas me dá o sinal de que já está quente, tiro a caneca e sento-me na cadeira, deixando sempre o objecto entre as minhas mãos, aquecendo-as ligeiramente.

Penso e repenso no dia que passei com Auriel, Maelys e Harry e uma sensação estranha invade o meu ser. Não uma sensação a ver com eles, mas uma que me bate vezes sem conta quando dou por mim a pensar na vida.

São as saudades de ser criança. As saudades de não ter problemas, de só não ter paciência para escolher com que lápis iria pintar o meu desenho, ou com que brinquedo iria brincar hoje mesmo sabendo que acabaria por brincar com todos, para que nenhum se sentisse inutilizável ou triste. Era sentir-me triste por me ter sujado de lama, mas ao mesmo tempo feliz porque isso me traria um grande banho de bolhas que assoprava para todos os lados. Talvez fosse o facto de ter um pai e uma mãe, e não o de ter uma mãe que não quer saber e um pai distante e o bónus de um padrasto mais otário que uma pedra que calca merda de cão. E dou por mim a entender que não é isso que eu quero para a Auriel, mesmo que ela seja a criança mais chata do planeta.

Não quero que ela chegue aos sete anos tal como eu cheguei e se veja aflita por não ser mais capaz de ter uma infância. Ainda por cima quando o tempo tem as suas inconstâncias. Quando tem o dom de mostrar o que realmente valeu a pena, aquele dom de nos fazer parar de repente e viver de novo, recordações ainda presas num lugar aconchegante, aqui, dentro de nós, provavelmente no nosso coração ou até mesmo apenas numa gaveta no nosso cérebro.

Bebo o resto do leite que está na caneca, já meio frio, e coloco-a no lava-louça. Reparo que demorei cerca de quarenta minutos a olhar para o nada e para beber o leite e volto ao quarto silenciosamente, pegando numa roupa de desporto.

Olho para ver se Louis ainda dorme e vejo-o a olhar-me com um olho meio aberto e o outro fechado. Aproximo-me dele e dou um beijinho na sua bochecha.


"Dorme, ainda é muito cedo babe." Sussurro-lhe.


Ele apenas murmura algo e fecha os olhos voltando a cair no sono. Saio mais uma vez do quarto e visto-me na sala, deixando a roupa dobrada lá. Visto um casaco um pouco mais quente e ponho o meu Ipod preso no mesmo, ligando a música e pondo os fones nos ouvidos. Saio de casa e não deixo que a chuva me atrapalhe a corrida.


                                                  ☾

Volto a casa uma hora e meia depois. O relógio mostra-me que são 6h40 da manhã. Louis ainda dorme profundamente e eu atiro-me para o duche, tomando um bem quente e que me deixasse metaforicamente limpa.

Precisava de tirar o suor, precisava de tirar os pensamentos que me corroíam vezes sem conta. Do que é que eu precisava mesmo? Eu já não sabia. Andava para a frente e para trás com as minhas decisões e não era capaz de entender o que estava certo ou não. Ainda pior do que a convicção de um "não" é a incerteza de um "talvez". É aquele "quase" que me incomoda, que muitas vezes me entristece, que me "quase" mata por trazer as recordações do que podia ter sido e não foi ou daquilo que foi e não devia ter sido. . Quem "quase" ganhou ainda continua a jogar, quem "quase" passou ainda estuda, quem "quase" morreu ainda está vivo, quem "quase" amou na verdade nunca amou. Basta pensar nas oportunidades que me escaparam pelos dedos, nas chances que se perderam pelo medo.

Poderia ser uma pessoa menos amargurada? Podia, mas certas situações trouxeram-me a quem sou hoje e se gosto? Não, mas confiar nas pessoas tornou-se numa complicação e apenas o Louis está aqui para me apoiar, para me fazer ver que os verdadeiros nunca se vão, pois foi ele que me segurou durante os "quase" e me fez ver e dizer o "sim" e/ou o "não".

Saio do duche e enrolo uma toalha à volta do corpo e outra à volta do cabelo, coloco a roupa suja no cesto e saio da casa de banho indo até ao quarto.


"Cheiras bem." A voz rouca do Louis soa pelo quarto.

"Devias estar a dormir." Comento não ligando ao que ele disse.

"Mas eu já não tenho mais sono."

"Louis," ri baixinho. "Tu estás a morrer de sono, ainda é tão cedo."

"Que horas são?" Ele diz olhando para mim.

"Sete e tal da manhã."

"Vem deitar-te aqui." Pede.

"Acabei de tomar banho, Louis." Ri.

"Não sejas assim." Ele ri-se também.


Seco o meu corpo rapidamente e apenas visto a roupa interior, metendo-me debaixo dos lençóis junto de Louis. O calor do seu corpo fez-me sentir aquecida rapidamente e ainda mais me fez sentir segura. O Louis fazia-me bem, mas não a esse nível. Éramos demasiado bons amigos, muitas das vezes acabávamos por misturar as coisas, mas tínhamos a consciência limpa, sabendo que misturar as coisas a certa altura não nos faria bem.

Louis beija o meu nariz, fazendo-me rir ligeiramente.


"Não sei como podemos ser tão burros ao ponto de nos apaixonar por pessoas tão más." Comentou.

"O amor entre um homem e uma mulher é o melhor exemplo possível de que todas as esperanças deste mundo são ilusões absurdas, isto porque o amor promete tão excessivamente muito e cumpre muitíssimo pouco. (1)" Digo.

"Tão filosófica." Ele ri-se. "Ao menos fico feliz por te ter a ti."

"O sentimento é mútuo, Tomlinson." Falo num tom brincalhão.


A sua mão abraça-me pela cintura, juntando os nossos corpos. Os nossos olhos fazem contacto e a minha respiração aumenta ligeiramente, sinto uma sensação estranha no estômago e não sei se me hei de sentir feliz ou não. Um tanto parecido como aquela vez em que Harry me deu a mão.


"Às vezes gostava de me ter apaixonado por ti." Ele comenta.

"Louis." Sussurro.

"Desculpa, mas sinto que isto está a tornar um rumo que eu não queria." Os seus olhos fecham-se e o contacto do seu corpo com o meu é quebrado enquanto ele se afasta.

"Não te quero magoar." Admito.


O silêncio predomina entre nós e eu sei que não há melhor altura para falar com Louis.


"Eu preciso de te dizer uma coisa." Falo receosa.

"O que se passa?" Ele responde, ainda com os seus olhos fechados.

"Eu andei a pensar sobre isto os últimos dois dias e finalmente cheguei a uma conclusão." Engoli a seco.

"Por favor, fala de uma vez." Ele encarou-me finalmente.

"Eu vou voltar para casa."


(1) - Citação retirada de uma das melhores trilogias que já li na vida x) o livro "A mão esquerda de Deus", de Paul Hoffman.


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Olá coisas lindas, adivinhem quem já está "livre" da faculdade? yeah that's right, me. O que me dizem a mais capítulos da Depressed, uns dois por semana a partir da próxima? 🤗

Espero que tenham gostado do capítulo, muitas surpresas estão para vir nos próximos! 


Love you all.


Depressed // H.SWhere stories live. Discover now