N o v e.

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Fecho a porta de entrada cuidadosamente para não acordar ninguém, apesar de já serem nove e meia da manhã e sei que pelo menos a minha mãe já acordou há um bom tempo.

Assim que ponho um pé no primeiro degrau, sinto a presença dela na porta da cozinha e do seu tão esperado olhar julgador. Preparo-me para subir mais um degrau, mas a sua voz impede-me.


"Onde é que andaste toda a noite, Braelynn Rose?" Ela diz num tom rígido.

"Em casa não foi." Respondo-lhe no meu tom sarcástico, já demasiado habitual para ambas.

"Será que tu não vais ser capaz de aprender?" A sua pergunta faz-me andar uns passos para trás e encarar a sua cara.

"Aprender o que, mesmo?" Sorrio.

"A ser bem educada e a não ser desrespeitosa! Eu faço tudo por ti, dou-te tudo o que posso e o que não posso e o que recebo em troca é as tuas respostas tortas e também o teu mau humor e estás constantemente a ser rude. Aprende que eu sou tua mãe e mereço respeito!" Ela falou num tom sério.


Não consigo aguentar o riso e desmancho-me em gargalhadas. Apenas abano a cabeça negativamente enquanto a minha mãe faz uma cara de surpreendida. Sei que ela não estava à espera que eu risse e sim que disparasse de volta, mas isso iria acontecer talvez mais tarde, apenas de outra forma que ela com certeza não esperava.

Abandonei o hall de entrada, subindo as escadas para o meu quarto e nem me importei com o fechar a porta. Agora na primeira mala de viagem que apanho quando meto a mão de baixo da cama, e tiro-a para fora colocando-a em cima da minha cama. Abro o meu guarda-fatos e sem pressa, arrumo as roupas na mala com cuidado.


"Onde pensas que vais?" A voz histérica da minha mãe grita à porta do meu quarto.

"Sair deste buraco, que isto é pior do que ser assombrada pelo Freddie Krueger." Respondo calma, enquanto continuo a arrumar as minhas coisas.

"E vais viver onde? No meio da rua?" Ri-se cinicamente.

"Isso gostavas tu." Olhei para ela e dei um sorriso. "Deves pensar que eu vou ficar aqui mais uma noite."


Ela apenas arfa chateada e vira costas indo-se embora, sabe que por mais coisas que diga eu terei sempre uma resposta para ela, serei sempre a última a ter uma palavra e sei que não há nada que a irrite mais do que isso. O facto de ela ser a minha mãe e não dar nem um chavo pela minha existência, mas isso vai mudar e ela vai ter que engolir isso um bocadinho todos os dias.

Quando encho a mala, começo a encher outra e a guardar também as minhas coisas pessoais e produtos de higiene, tendo a certeza de que o quarto e a casa de banho não ficam com nada do que é meu para não ter que voltar aqui. Abro também uma caixa que guardava trancada com um cadeado, e retiro de lá todo o dinheiro que tinha guardado desde sempre vindo de aniversários, do Natal ou de qualquer outra ocasião e assim que acabo de arrumar tudo o que é meu, ponho um saco de viagem em cima de uma das malas, uma mochila às costas e pego numa mala em cada mão, descendo assim as escadas com muito custo, ao chegar ao hall de entrada encontro Jackson a dar de comida a Auriel na cozinha. Este ri-se e encara-me.


"Eu sabia que não faltava muito para que ela te pusesse daqui para fora." Sorri vitorioso.

"Estás muito enganado, quem decidiu sair daqui fui eu." Falo confiante, vendo-o perder o seu sorriso.

"Esta decisão vai custar-te muito, Braelynn." A minha mãe aparece com um cesto de roupa para lavar nas mãos.

"Não, nunca nada me custou tão pouco sabes?" Encarei-a. "Custou-me o facto de ter entrado numa depressão e de vocês não quererem saber sequer, custou-me o facto de desde que casaste com este patife te esqueces-te da minha existência assim como que só querias dar a tua atenção à Auriel. Eu posso ter a idade que tenho e vocês podem chamar isto de birra ou inveja porque eu sei que vocês têm uma pala tão grande à frente dos olhos que nem com trezentos desenhos vocês iriam perceber o sofrimento em que estou e se é preciso estar numa casa onde não sou bem vinda, onde a minha própria mãe me trata abaixo de cão porque tem coisas mais importantes para tratar então vão todos para o caralho que eu podia morrer e vocês nem apareceriam no meu funeral."


O meu riso parece fazer eco na casa quando eles me olham, calados, estupefactos e impressionados com o que acabara de dizer. Talvez eles nem se apercebessem que eu estava "doente", mas a verdade é que tudo o que tinha dito não podia ser mais explícito.


"Só sabem dizer-me o que faço de mal, atirarem-me tudo à cara disto e daquilo, mas vocês perderam sequer tempo comigo? A tentar perceber se estava tudo bem, porque é que eu não queria fazer isto ou aquilo, porque é que era assim tão rude com as pessoas? A vossa hipocrisia dava para encher esta cidade toda e arredores. Custa-me o facto de que há doze anos que estou numa agonia profunda e as coisas pioraram há dois anos, não sei quando vão melhorar ou até se vão melhorar mas nunca se preocuparam realmente com esse facto, porque chegaria agora essa hora? E quando tu, Leena, dizes que sempre me deste tudo o que podias e não podias, espero que te engasgues nessas palavras falsas porque nunca fizeste por mim em dezanove anos aquilo que fizeste pela Auriel em cinco. Agora já que não se importam, vou sair por aquela porta e vocês obviamente não vão querer dar uma merda por isso. Cuidem-se!"


Acabo o meu discurso com um sorriso embora as lágrimas estejam a forçarem-se para sair, não quero dar a parte fraca em frente a eles. Não agora.

Abro a porta e meto uma mala lá fora, quando me preparava para sair, sinto uma coisa à volta das minhas pernas e olho para ver Auriel abraçar-me. Pisco os olhos algumas vezes para não deixar que as lágrimas se espalhassem por todos os lados, apesar de ser uma pirralha irritante e que procura nada mais do que atenção, eu gostava um pouco (muito) dela.


"Desculpa pequenina." Digo, dando um pequeno abraço na criança.


Afasto-me o mais rapidamente possível, agarrando na outra mala e no meu porta-chaves. Faço o possível para não bater a porta com muita força, mas isso não acontece.

Caminho o mais rápido possível para o meu carro e assim que dou conta, começo a conduzir para a casa da única pessoa que nunca na vida eu pensaria que alguma vez me poderia ajudar (ou não).


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Bem, parece que temos aqui uma Braelynn demasiado zangada x) Acham que ela vai demorar muito fora de casa ou vai repensar na sua ideia? Eu sei a resposta mas quero ler o que pensam vocês xp

Tenho estado a tentar escrever novos capítulos mas parece impossível devido à quantidade de trabalhos que tenho para fazer, estudos a duplicar uma vez que estou a aprender duas novas línguas e de livros que parecem nunca mais acabar para ler devido a literatura. Gostava de saber o que vocês gostavam que acontecesse (sei que algumas das vossas ideias já eu escrevi xp) mas mesmo assim não se esqueçam de dar o vosso feedback!


Love you all.



Depressed // H.SWhere stories live. Discover now