S e i s.

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Admiro a página branca do word enquanto suspiro vencida pelos meus próprios pensamentos. Depois de ter estado toda a manhã a ouvir a minha mãe reclamar para que escrevesse um essay (uma tese) de forma a submeter-me à faculdade, mas por mais que pensasse num tema sobre algo que me fazia feliz e que coubesse em 2000 palavras, era algo demasiado difícil. O que havia de bom na minha vida? O que é que havia de boas lembranças? O que raio era e ainda é importante para mim? Nada, na verdade. O meu coração foi desfeito em bocados e a minha confiança foi esfaqueada da pior maneira, toda a minha felicidade foi drenada de mim o ano passado. A vontade de fazer o que quer que fosse simplesmente desapareceu e deu espaço a esta pessoa desinteressada, fria e azeda como diria a minha mãe.

A única pessoa que ficou comigo foi Louis e ainda assim foi muito difícil para mim aceitar que tinha quem quer que fosse porque ele estava tão ou ainda mais magoado que eu. Era algo que nunca nos passaria pela cabeça.

O meu telemóvel começa a vibrar em cima da mesa e eu olho para o ecrã do mesmo, vendo que era ID desconhecido. Suspirei e logo peguei no objecto, desligando a chamada e volto a minha atenção de novo para o portátil. Abro uma página do google e logo de seguida o tumblr, fazendo algum scroll down pela página e reblogando coisas de vez em quando.

Mais uma vez o telemóvel vibra e o ID continua a ser desconhecido. Suspiro e muito contrariada pego no mesmo desta vez, atendendo a chamada.


"Sim?" Digo um pouco frustrada. Não gostava de atender pessoas que não conhecia.

"Estou a falar com... hm, Braelynn Allan?"

"Sim, a própria."

"Daqui fala Julie Dallas, estou a ligar porque deixou um currículo seu aqui connosco." Ela informou.

"Deve ser engano então." Falei confusa. "É que não tenho entregado nada há meses, para ser sincera."

"Ah, pois, mas é chegou-nos um currículo seu. E gostaria ainda assim que pudesse comparecer à entrevista."


Suspirei e recostei-me na cadeira, pensando duas vezes. Poderia ir e com sorte conseguia qualquer que fosse o emprego, não teria que ficar sem fazer nada e muito menos aturar a minha mãe e a pirralha.


"E para quando seria a entrevista?" Questionei ligeiramente interessada.

"Amanhã às 15h na Dawley Road." Informou.

"Muito bem, obrigada pelo contacto estarei lá a essa hora."


A despedida foi feita e a chamada terminada, imediatamente revirei os olhos. Isto só podia ser obra da minha mãe e tenho que admitir que não estava a gostar nada disto, pois não preciso que ela me ande a fazer favores para me arranjar trabalho quando sei que tudo o que ela quer é ver-me fora desta casa.

Levanto-me para sair do quarto, mas mais uma vez o telemóvel vibra, fazendo-me suspirar e passar as mãos pela cara. Novamente o número era desconhecido. Atendi à mesma, pensando que poderia ser a senhora que se tinha esquecido de alguma informação.


"Estou sim?" Falei, mas tudo o que ouvi do outro lado foi uma respiração pesada. "Precisa de mais alguma coisa?" Esperei mais alguns segundos mas nada foi dito.


Desliguei a chamada já frustrada, com certeza não seria a senhora da entrevista e nem sei por que é que ela ligou em privado em primeiro lugar, mas isto com certeza era uma brincadeira de mau gosto de alguém que eu com certeza não gostava.

Dirigi-me então à sala onde vi a minha mãe a limpar alguns dos livros que estavam numa prateleira. Sentei-me no sofá olhando para ela com os meus braços cruzados sobre o peito enquanto tinha um sorriso cínico na cara. Não conseguia ainda acreditar que ela tinha uma vontade tão grande de me por fora de casa.


"Se calhar devias escolher alguns destes, estão aqui a ocupar espaço e nunca os lês. Podemos entregá-los na biblioteca ou vender." Ela falou referindo-se aos livros.

"E tu se calhar devias parar de meter o teu nariz tanto dentro dos assuntos da minha vida que não fazem parte da tua." Continuei com o meu sorriso cínico.

"O que queres dizer com isso Braelynn?!" Ela perguntou meio confusa enquanto o seu tom mudava para um mais chateado.

"Estou a dizer que sei que andaste aí a entregar os meus currículos! Eu sabia que me querias fora de casa, mas não sabia que a tua vontade era assim tão grande." Ri sem humor. "Tu sinceramente não deves ter olhos na cara para perceber certas coisas não é?"

"Olha o respeito Braelynn Rose." Ela avisou.

"Não quero saber." Falei levantando-me. "E se queres saber eu vou àquela entrevista e vou fazer de tudo para conseguir a porcaria do emprego seja ele qual for. E também fica descansada que em dois meses eu estou fora desta casa."


Não deixei que ela falasse e apensa voltei para o quarto. A verdade é que por mais que eu quisesse um trabalho não o queria por intermédio de ninguém e sim por esforço meu. Sento-me na cadeira em frente à secretária e pego num livro que estava em cima da mesma, começando a ler onde tinha parado.


                                                                       ☾

Acordo sobressaltada com o som do meu telemóvel a tocar, olhei para o relógio vendo que já eram onze da noite. Suspiro quando percebo que adormeci enquanto lia e tinha perdido o jantar – o que não era nada de incomodativo para ninguém, já que ninguém se tinha lembrado de me ir chamar – coloquei o marcador do livro entre as páginas onde tinha ficado e apressei-me a atender, mesmo vendo que o ID era desconhecido.


"Estou sim?" Falei com a voz ensonada.


Do outro lado não me deram resposta, ouvia-se apenas uma respiração pesada, o que me fez estremecer. Quem seria a uma hora destas para andar a brincar às chamadas em desconhecido? Desliguei rapidamente o telemóvel assim que um choro de bebé se começou a ouvir e a pessoa que eu menos queria ouvir agora pronunciou um 'foda-se'.

Sinto a minha respiração a tornar-se cada vez mais pesada e os meus olhos lacrimejantes. A minha cabeça começa a abanar-se de um lado para o outro como se tivesse a ordenar a alguém que não fizesse algo, enquanto a sensação de estar dentro de uma caixa quadrada bem pequena que se enchia de água cada vez mais e mais me fazia ficar mais apavorada.

Não me conseguia conter mais, não tinha maneira de me controlar. Eles provavelmente estavam de volta e sabia que a partir de agora curar-me da minha mente depressiva seria cada vez mais difícil.

Deixei que as lágrimas escorressem pela minha cara enquanto soluçava compulsivamente, agarrada a uma almofada. O meu corpo eventualmente deixou de estar ao meu alcance e dei por mim a embater contra o chão, enquanto chorava e soluçava, com os olhos bem cerrados.

Ainda dei pela porta do meu quarto ser aberta e uma voz chamar pelo meu nome ao longe, mas isso ainda me deixou mais nervosa – estavam pela primeira vez a ver o verdadeiro eu, o meu eu sufocado numa realidade que nunca poderia ser realmente minha.



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Primeiro, desculpem não ter postado na sexta feira mas cheguei à conclusão que não vou ser capaz de postar duas vezes por semana... Por isso por enquanto vamos ter que ficar só pela segunda feira...

Segundo, VOCÊS ADMIREM AQUILO NA MULTIMÉDIA. QUE DEUS ESTÁ O HARRY!


Terceiro... Não tenho mais nada a dizer-vos xD Love you all!


Depressed // H.SWhere stories live. Discover now