Capítulo 12

14.9K 1.3K 77
                                    

POV. Bora

   Acordei novamente por volta das dez da manhã. Rolei pela cama e ergui a cabeça estranhando o fato de Cider não estar ali. Levantei-me preguiçosamente e fui sai do quarto a procura do NE. Encontro Cider na cozinha fritando alguns ovos.

-Bom dia. -cumprimento dando um tapinha em suas costas e parando ao seu lado. Como sempre, parecia que Cider não tinha camisa já que nunca as usava, e dependia de mim ter que me concentrar e focar somente em seu rosto. Ele desvia o olhar da frigideira e abre um sorriso para mim.

-Bom dia, olhinhos puxados. Dormiu bem? -pergunta e solto um suspiro. Será que ele não se lembrava do que aconteceu ontem à noite?

-Dormi, e você?

-Tive um sono magnífico, você deveria dormir na  minha cama todas as noites, só acho. -ele brinca e pisca para mim. -Agora vá se sentar, porque temos muito o que conversar.

   Rapidamente me sento à mesa que tinha ao lado da cozinha e vejo Cider trazendo dois pratos com ovos e bacon.

-Ok, por onde quer começar? -ele pergunta levando um pedaço de bacon à boca e me olhando.

-Eu não sei, você que disse que me contaria tudo sobre você.

-Sendo assim, vou tentar dar uma resumida para não te deixar muito depressiva.

-Se você não quiser falar algumas partes não precisa, ok? Conte só o que quiser. -lhe falo e ele sorri e assente.

-Eu nasci aqui nos Estados Unidos, e vivi em Mercille até meus dois anos de idade. Depois me mandaram para alguma parte da Europa, e desse lugar eu fui vendido para terroristas no Iraque. Os terroristas queriam uma nova arma para utilizar contra os americanos que invadiam suas cidades e que os tentavam tirar do poder. Mas eles não sabiam se daria certo, então resolveram comprar só um, que no caso fui eu. Eu passava uma algumas horas com professores para aprender tanto o inglês quando a língua local de onde eu estava. E depois, o resto do dia era dedicado à treinamento de luta, e depois a maior parte da noite era só com torturas e procedimentos médicos para me deixar mais forte e mais parecido com animal.

Dos meus quatro anos até meus dez anos eu praticamente nunca dormia. Não sei como eu não morri por exaustão. Eram aulas de língua que depois passaram para um ensinamento meio extremista onde sempre que diziam que americanos viriam algum dia me buscar para me matar e que eu precisava me defender, depois as aulas de luta não eram mais com outros soldados, eu já estava ficando grande e forte, então eles me batiam com barras de ferro e com armas de choque e eu teria que me defender. E à noite como eu disse antes, era dedicada a experimentos em mim.

Aos 14 anos foi quando me trouxeram a primeira fêmea. Todas que levaram para mim eram humanas, então eu sempre achei que fosse o único NE existente. Eu só compartilhei sexo uma vez na minha vida, pode acreditar, foi com essa primeira fêmea. Eu não sabia o que eles fariam, não sabia que eles estavam tentando fazê-la reproduzir. Quando viram que não tinha dado certo, eles levaram a fêmea até minha cela e a mataram na minha frente. Lembro que aquela foi a primeira vez e última que chorei. Continuaram me trazendo mais fêmeas até que uma delas disse para matá-la enforcada, que pelo menos ela morreria com algum tipo de honra que com certeza os homens que trabalhavam na instalação não lhe dariam. E foi a partir daí que comecei a enforcar todas as fêmeas que levavam até mim. Eu nem esperava elas dizerem alguma palavra, quando a porta fechava eu simplesmente as enforcava. Eu não queria mais ver elas morrendo na minha frente pelas mãos daqueles homens. A partir daí foi mais do mesmo, até o dia que me resgataram... Eles sempre diziam que americanos viriam me matar e que era para eu estar pronto para matá-los. Por mais que eles me odiassem, esses terroristas confiavam em mim o suficiente para deixar explosivos na minha cela. Quando a ONE chegou foi o que fiz, eles abriram a cela e finge segui-los, só para que desse tempo suficiente para que eu corresse e tacasse os explosivos dentro das instalações.

-Você os matou. -digo o cortando e ele suspira soltando o garfo no prato e assentindo.

-É por isso que todos aqui me odeiam, acham que era eu que deveria ter morrido. Entre dez NE e um NE, eles prefeririam matar aquele único, obviamente.

-Porque você não contou para ninguém o que esses terroristas te diziam? Porque não disse que você pensou que fossem inimigos? -pergunto cada vez mais curiosa. Agora eu conseguia entender a aversão de todos aqui por Cider.

-Para que eu diria? Eu já os tinha matado. Eles só acharam pedaços chamuscados de corpos para enterrar.

   Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu tentando processar tudo o que tinha escutado.

-Naquele primeiro dia que a gente se conheceu, porque você me enforcou? Você fez aquilo como se fosse algo que você gostasse.

- Eu estava meio dividido aquele dia. Você é uma das coisas mais lindas que já vi, e ao mesmo tempo que eu queria te beijar e fazê-la minha, toda hora passava na minha cabeça a maldita maldição que um dos médicos de Mercille me disse. Que qualquer mulher que eu me envolvesse intimamente eu teria que matar, porque mesmo morto, vários outros de Mercille viriam para te matar.

-Não estamos mais em Mercille. -digo segurando sua mão e ele sorri tristemente.

-Não quer dizer que eles não atacam. Várias fêmeas aqui de Homeland e da Reserva já foram sequestradas por serem companheiras de um de nós. Naquele dia eu só queria ter um pouco de você e depois libertá-la para que você não precisasse sofrer.

-O libertar que você quer dizer é matar.

-Sim. Mas de uns tempos para cá eu tenho tentado me mudar um pouco, e acho que eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu te machucasse. Então acho que eu nunca conseguiria te matar. Prefiro te proteger de qualquer coisa. -ele diz apertando minha mão e sinto meus olhos encherem de água.

-Droga, eu não queria me apaixonar por você. -digo esfregando a palma da mão abaixo dos olhos para impedir as lágrimas de descerem. Cider começa a rir, e logo vira uma gargalhada.

-Ah, Bora, você já está apaixonada por mim há muito tempo. Não tem como alguém não me amar... Tirando todos os NE de Homeland e da Reserva, não tem como mais ninguém não me amar.

-E quando você aprendeu a ser tão metido assim, hein? -pergunto de brincadeira.

-Ora, desde que pude me olhar no espelho pela primeira vez. Eu sou bonito demais. As vezes eu penso que eu deveria ter compartilhado sexo com as fêmeas que me trouxeram e depois matá-las.

-Ah é, você só se relacionou intimamente com uma mulher... Você é todo metido assim sem motivo.

   Cider solta um rosnado e levanta da cadeira e me pega no colo e me prende contra a parede.

-Estou esperando para a minha segunda fêmea... Mas a que eu conheço se diz apaixonada por mim, mas não quer me deixar montá-la. -ele diz e funga no meu pescoço e solta mais um rosnado baixinho. -Me faça uma prova de amor.

-Que? -pergunto surpresa e ele sorri e me dá um selinho. 

-Mostre que me ama de verdade de algum modo. Nem que seja algo bobo.

   Olho para o macho sem camisa que me segurava, seu corpo grande e forte me apertando. Aquele sorriso de adolescente no rosto de um macho que acabara de virar adulto. Timidamente ergo minhas duas mãos e uno o dedão com o indicador formando um coração. Depois levo os braços para cima e os junto no topo da minha cabeça formando uma grande coração.

-Saranghae.* -digo e ele franze a testa.

-O que você disse?

-Não sei, faço a mínima ideia. Você terá que descobrir sozinho. -brinco e lhe dou um beijo na bochecha e me solto de seu abraço e corro para o quarto fechando a porta atrás de mim.




*Saranghae significa "eu te amo" em coreano.

Espero que tenham gostado, e aprendido um pouco da vida de Cider durante seus tempos em Mercille! Beijos!

Cider - Novas EspéciesWhere stories live. Discover now