Capítulo 2

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Ele não entendia porque sua mãe o mantinha sempre dentro de casa, ele não podia brincar como outras crianças, das poucas vezes que saia ele sentia-se mal pelos olhares das pessoas dirigidas a ele.

Certas vezes perguntava a sua mãe , porquê as pessoas olhavam para ele daquele jeito, ela simplesmente respondia, porque és lindo meu anjo, eles não gostam de nós porque somos pobres.

Sirhan sorria e voltava a correr sozinho pela casa, fingia estar a brincar com outras crianças sua mãe lhe ensinava o pouco que ela sabia sobre ler e escrever.

Ao nascer seu pai lhe abandonou, não queria ter um filho doente, bateu e humilhou na sua mãe no meio da vila, chamou-a de bruxa e amaldiçoada por ter-lhe dado um filho de pele branca.

O seu medo não era ter um filho albino mas sim lidar com o estigma na sociedade onde viviam, pobres não possuíam condições suficiente para fugir daquele país e manter seu menino a salvo, por isso Essien deixou seu filho e sua esposa a mercê dos mercenários, foi mais fácil para ele fugir do que ficar e lutar pelos direitos de seu filho.

Sozinha e com um filho albino devia ser uma vida normal, mas na Tanzânia o país onde está o maior de números de albinos no continente Africano, Quênia e Moçambique não é assim, eles são mortos e despedaçados, seus órgãos e partes de seus corpos vendidos e/ou usados na magia negra para várias finalidades. Muitos acreditam que o sangue de um albino cura várias doenças e que seus órgãos genitais estimulam a potência sexual.

Numa tarde de domingo ele fugiu de casa pelo porta dos fundos, sua mãe estava a dormir, o menino saiu a correr para fora da aldeia ele estava feliz, pela primeira vez corria, sentia o vento bater-lhe na cara, ele tinha dificuldades em lidar com a luz do sol mas aquilo não o impediu de correr cada vez mais, a liberdade é algo belo.

A quilómetros da sua casa na aldeia de Bukoba havia uma praia e ele queria chegar nessa praia, nunca tocou na areia.

Sirhan brincava com as águas do mar rindo sozinho, mas seu destino estava prestes a mudar quando ele viu um grupo de homens indo na sua direção com facas a gritar ele está ali, vamos, é ele,aberração.

Ele olhou para os lados não havia ninguém, gritou mamãe, sentiu que estava em perigo mas não sabia porquê, por isso começou a correr sem rumo.Ele corria desesperado pela praia, parecia ser invisível, seus pés doíam muito. Não viam que ele era humano, só uma criança que estava assustada , chorava muito, sua mãe estava longe.

Os homens armados com faca, facões, ferros e paus corriam atrás dele a gritar, Sirhan era apenas um menino de 7 anos.

Seu corpinho minúsculo estava exausto, tropeçou e caiu,sentiu dor e encolheu entre suas pernas.

Eles o cercaram e perfuravam seu corpo com lanças, facas e batiam com paus, o menino gritava sem parar, despedaçaram-no ainda a respirar,partes de seu corpo e seu sangue estava por todo lado, alguns homens seguravam nas partes e drenavam seu sangue, dividiram entre eles e levaram com eles pedaços de Sirhan deixando para trás suas roupas rasgadas entre um poço de sangue.

Jamelia acordou assustada e Sirhan não estava deitado nem na rua a brincar, ela já começou a sentir fraca, seu cérebro já imaginava milhões de coisas.

Ela saiu à procura dele, algumas pessoas solidarizadas com a dor daquela mãe ajudaram-na a procurar, Jamelia e todos gritavam pelo nome do menino.

Ela chorava de dor, tinha medo, muito medo, seu coração estava aflito, ela insistia em não tentar pensar no negativo.

A busca pelo menino levou uma tarde toda, algumas pessoas começaram a desistir e voltarem para suas casas, ela andava cada vez mais lenta suas pálpebras delataram, Jamelia não estava a acreditar que havia perdido seu pequeno, ela andava como os olhos no chão nem olhava mais ao redor perdeu as esperanças, mas de repente alguém grita e todos correram na direção.

Da camisa que seu filho usara só restou um pedaço o resto talvez o vento levou, Jam não chorava mais, só gemia, nada estava ali somente sinais de que seu menino havia sido abatido.

Levaram-na para casa, foram dias sem derramar uma lágrima ou soltar um gemido, seus olhos estavam fixos, ela não dormia.

Algumas mulheres limpavam a casa, levavam-na comida mas ela não respondia parecia uma estátua viva, Jamelia morreu de forma silenciosa olhando para o fundo de sua cabana onde seu menino brincava, ela olhava fixamente para ele não queria tirar seus olhos dele tinha medo de perdê-lo mais uma vez.



Urbi- Massacre de AlbinosWhere stories live. Discover now