5 - Hospital.

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Esperança.

Com um sorriso no rosto observava a outra. Como podia ser tão linda? Pensava e sorria bobamente ao não encontrar resposta. O relógio marcava quatro da manhã e o mais sensato seria estar dormindo, mas simplesmente não conseguia fechar os olhos e se entregar ao sono.

A respiração da moça entregue ao sono profundo era uma mescla de tranquilidade com um toque sereno, os olhos emoldurados pelos longos cílios estavam fechados, dando total destaque para a sombra escura. A face bonita tinha uma espécie de sorriso, quase imperceptível. Mas havia percebido, claro. Percebia os mínimos detalhes.

Bocejou, mas não se entregaria ao sono – algo como uma promessa pessoal. Como perder um segundo que fosse ao lado de sua amada? Sentou numa cadeira ao lado da cama e acariciou a face adormecida, sendo aquecida pelas lembranças que permeavam sua mente.

Sorria com lágrimas nos olhos, contudo, não chorava mais. Deveria sorrir e ser grata.

– Espero que esteja tendo bons sonhos... - Sussurrou, arrumando-se melhor na cadeira.

Não é como se conseguisse afastar suas mãos dela, queria tocá-la ao ponto de não esquecer a textura de sua pele alva, suave. Seus olhos já totalmente embaçados por lágrimas se fecharam por um segundo apenas, tempo o suficiente para escorrer uma lágrima. Enquanto tocava nos cabelos espalhados sobre o travesseiro.

Segurou a mão da namorada fortemente, queria sentir um aperto forte ali.

Nada...

Suspirou e ficou a olhando, olhava em volta, olhava pela janela e via a chuva caindo. Olhava para o passado e tentava controlar as lágrimas. Ah, se pudesse voltar no tempo...

– Alma, vá descansar, menina. - A loira despertou ao ouvir o médico que adentrara o quarto falar, apertou mais a mão daquela que dormia. O coma sendo cruel na interrupção de um amor tão puro.

– Não, estou bem. - Disse tentando parecer firme, a garganta prendia a voz, fazendo-a sair embargada, assim, denunciando a vontade de se entregar ao choro.

O homem de meia idade se aproximou e tocou o ombro da loira, ela se virou para encará-lo:

– Ela não vai mais acordar. - Afirmou com pesar. Já havia se passado três anos e meio.

– Não diga isso! - Alma falou irritada. Como ele era capaz de dizer algo assim?

A face cansada da loira se crispou em raiva e desespero.

– Vivi vai ficar boa, logo ela acorda. - Disse sem convicção, só a si sabia o quanto doía não acreditar totalmente nas próprias palavras. - Ela tem de ficar... - Murmurou num fio de voz.

– Ao menos coma alguma coisa, sim? – Barganhou, preocupado com a saúde da mulher.

– Mais tarde. - Sorriu cansada.

O médico que já havia se tornado uma espécie de amigo, assentiu com a cabeça e saiu.

– Idiota... - Alma praguejou. - Eu sei que você vai acordar. - Falou acariciando o rosto alheio.

E mais um ano se passou. Estações, mudanças, mais uma primavera que não foi aproveitada.

– O dia está lindo! - Alma disse, contente.

Abria as cortinas do quarto hospitalar, o mesmo estava cheio de flores em jarros transparentes, a garota adormecida usava um vestido floral e uma maquiagem simples quase o mesmo estilo da outra que cantarolava pelo quarto. Alma sentia a necessidade de manter as aparências.

Alguns achavam estranho, até mesmo doentio, mas só gostava de cuidar da outra. Se sentia melhor quando lhe trocava as roupas e a maquiava, afinal antes do acidente Vivian era extremamente vaidosa. Cantarolava uma música que a outra gostava e nem se deu conta de quando anoiteceu.

– Te amo. - Falou no ouvido da outra, seus olhos pesavam e foi deitando a cabeça na cama, como estava sentada na cadeira seu corpo ficou inclinado. De vez em quando adormecia...

Se entregando a um sono pesado sentiu um fraco aperto na mão que segurava a da morena, afobada se levantou e encarou a face adormecida. Um sorriso aberto no rosto de Vivian lhe devolveu toda a esperança que aos poucos se esvaía de si. Esfregou os próprios olhos e sentou ereta na cadeira, tomou um gole do café que já estava frio ali esquecido na mesa de cabeceira e não se permitiu dormir.

Ficou observando com adoração cada mínimo detalhe da expressão da alheia... Não perderia nenhum detalhe que fosse, não perderia nada. Não se perdoaria caso o fizesse.

Poderia levar o tempo que fosse, anos e anos, Vivian iria acordar.

Um dia... Precisava acreditar nisso, sua vida dependia dessa esperança.


Contos de Sexta-feira...Where stories live. Discover now