4 - Psicopatia.

21 5 9
                                    


A maldade está presente em tudo, anjos são malvados.

-- Você sabe por quê está aqui, Sophie? – O psiquiatra indagou, calmamente. Usava uma voz mansa, pois precisava conseguir conquistar a confiança da paciente que lhe encarava com olhos indiferentes à toda situação, situação está causada por si e que agora causava impacto na vida de muitos e despertava o interesse de Leon, psiquiatra e escritor, homem com um incontrolável gosto pelo "peculiar", como em um presente em comemoração aos quinze anos de carreira, estava cuidando do caso mais comentado do país e repercutido no mundo. Afinal, não é todo dia que algo dessa natureza acontece. – Eu sou seu amigo, pode confiar em mim. – Sorriu, incerto. Apesar dos anos de profissão atendendo inúmeros pacientes com os mais variados transtornos, via-se desprevenido para iniciar um diálogo coeso com Sophie. Saberia ela o significado desta palavra? Provavelmente, sim.

O vestido branco detalhado em rendas enfeitava o corpo da menina, os olhos levemente arredondados dono de íris belíssimas, azuladas numa tonalidade fosca quase cinza, e os cabelos negros encaracolados que caíam como cascatas por suas costas deixava-lhe com uma aparência adorável, a menina era conhecida pelos comerciais de TV e a participação especial em uma novela, antes, agora estava sendo conhecida pelo homicídio da família. À sangue frio, a pequena Sophie Lorenzo assassinou seus familiares e o animalzinho de estimação, aos sete anos; idade a qual deveria se preocupar com as brincadeiras e não em limpar o sangue deixado em suas mãos.

- Ninguém é amigo de ninguém. – Afirmou, a típica voz infantil e doce. Meiga, a voz que o país conhecia pelos comerciais, garota propaganda de muitas marcas conceituadas no mercado, tudo por ter um rostinho de anjo, voz doce e olhar tímido, porém sendo extremamente extrovertida e madura para a citada idade. Sua afirmativa fora tão fria que Leon pôde jurar sentir um arrepio. – Está gravando para mostrar para quem? – Indagou, apontando a filmadora no tripé com a cabeça. Acostumada com as câmeras não havia timidez, apenas uma curiosidade... Infantil.

- Algumas pessoas precisam assistir a nossa conversa depois.

- Um juiz? Mais médicos? – Sophie tornou a indagar, agora arrumando os cachos um pouco desgrenhados com as mãozinhas pequenas. – Acho que não estou bonita para aparecer na televisão, o que você acha? – Sorriu para o grisalho, mostrando a ausência de um dente de leite.

- Você está bem assim. – Tentando ser amigável, respondeu. Mas o incomodo era perceptível, pois estava sendo difícil acreditar – mesmo já conhecendo casos de psicopatia infantil – que aquela menininha adorável que em muito lembrava sua caçula fora a responsável por tamanha barbárie. Seu lado emocional teimava em buscar justificativas, talvez fossem maus pais ou alguém tenha feito tudo e encontrado a forma perfeita de culpar a menina, incluindo a confissão filmada pela própria com o uso do celular, outro ponto, não gostava de crianças com acesso à tanta tecnologia e informações não filtradas da rede. A pequena convivia com adultos por já trabalhar tão novinha e precisar lidar com a exposição, sim, está explicado; ela acabou por ser sugestionada. Em contrapartida, seu lado racional estava em estado de alerta. – Por que fez aquilo, Sophie? – Leon não esperou pela resposta da primeira pergunta e logo fez outra, acomodando-se melhor na cadeira. Inquieto, curioso e um pouco desacreditado...

A sala era típica para a terapia de crianças, colorida e com brinquedos espalhados, poucas vezes usada em um caso tão extremo. Sophie não se importava com os brinquedos, mas segurava uma boneca de pano que trouxera de casa com exímia adoração, na roupinha da boneca estava preso um camafeu.

- Por que não fazer? – Respondeu com outra pergunta e um sorrisinho. Simplista, adulta e infantil, malvada. Sophie não tinha motivos e nem explicou como o fez, pois gostava da ideia de todos pensando em como uma garotinha conseguira fazer tudo aquilo, o sangue... Deveriam estar se roendo em dúvidas, algumas pessoas provavelmente não acreditariam, mas fez questão de confessar para evitar que alguém roubasse seus créditos. A obra era sua.

E como uma boa artista, guardaria o segredo; o significado e o porquê.

- Porque isso não se faz, ainda mais com a família. Como você...?

- Quero sorvete, por favor. – Interrompeu-o, ainda sorrindo. – Talvez eu seja apenas uma garota malvada. – Piscou.

Em sua essência, as respostas. 


Contos de Sexta-feira...Donde viven las historias. Descúbrelo ahora