3 - Crime.

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Contos de Sexta-feira.

III – Crime.

Dezembro, 2006.

Ele a desejava, mas isto não era novidade visto que aquele corpo em perfeita forma na modelagem feminina conseguia atrair outros olhares masculinos – e femininos – enquanto caminhava despreocupadamente num rebolar sutil e naturalmente sensual que exaltava suas curvas. O bar estava lotado àquela noite, faltava poucos dias para o Natal e alguma ornamentação aqui e ali para dar ao ambiente um ar "natalino e familiar", cidade pequena, interiorana onde a maioria se conhecia desde criança, logo a presença da bela morena forasteira despertava a atenção ao mesmo tempo em que aguçava a curiosidade: o que a bela fazia ali? Seu nome ninguém sabia. Tratava-se da terceira noite seguida em que ela chegava como quem não quer nada, sentava comportadamente diante do balcão e pedia um Martini com duas azeitonas, negando qualquer investida que pudesse vir a receber, contudo, observava os ocupantes do bar com olhos de águia muito bem marcados pelo delineador escuro que emoldurava seu olhar esverdeado.

Os homens a desejavam; as mulheres invejavam.

Sua beleza era diferente da regional, seu rosto muito expressivo parecia zombar de quem ousava lhe encarar por muito tempo e as vestimentas, ousadas, destacavam partes sinuosas do corpo de estatura mediana, porém não havia vulgaridade. Havia uma elegância lasciva. Não seria exagero dizer que a maioria dos homens presentes pensavam nela antes de dormir, mesmo com suas esposas do lado, oh, sim, o Vulcano – bar de beira de estrada e principal parada para caminhoneiros – era o lugar perfeito para as diversões masculinas, seja elas quais forem. A mulher misteriosa era o interesse da vez.

"Entre à vontade e saia se for capaz. " O logotipo em neon na entrada era curioso, afinal quem entrava no inferninho que fedia a uísque e cigarro sempre voltava. Ela saíra sozinha nas duas últimas madrugadas, mas não nesta, seu alvo jogava sinuca enquanto vez ou outra deixava o olhar escapulir para a sua figura, então lhe sorria discretamente numa falsa timidez adorável. O flerte inocente durou alguns bons minutos.

A noite estava quente!

Com passos ensaiados e um sorriso indescritível, ela aproximou-se da área onde ficavam as mesas de sinuca com um copo raso na mão e estendeu a ele:

- Aqui, uma dose de coragem. Talvez assim você finalmente me convide para dançar hoje. – Sorriu travessa, divertida com o nome da bebida que lhe oferecia. Seu tom altivo e a postura dona de si realmente causou impacto, tanto que o pobre demorou para reagir e só o fez quando recebeu um empurrão do colega que antes jogava uma partida despreocupada consigo.

Geralmente, ele quem chegava nas mulheres e se fazia notar com o charme rústico e sorriso perfeito.

Estava tão óbvio assim que a olhava desde a primeira noite? Curiosamente, sentiu-se tímido ao aceitar a bebida e virar num gole, estava acostumado com coragem, tomava sempre que estava ali se divertindo e sentir queimar na garganta não foi surpresa. Armando era considerado um galã na região, pois para um homem com raízes interioranas cuidava-se bem e tinha consciência da boa fisionomia, valia-se assim nas suas conquistas de uma noite só, antes de voltar para sua noiva que vinha enrolando no pedido de casamento há quase sete anos, a filha do prefeito, alguém que certamente abriu muitas portas para si e agilizou sua entrada no mercado de trabalho como engenheiro civil. Não era o mais competente, mas ganhava bem e desfilava pomposo com o carro do ano. Ao som de Bad Things, ele disse:

- Estava realmente precisando. – Piscou num charme barato, não se freando ao fitar aquele decote generoso mais de perto. Tão diferente de Larissa, sua recatada noiva, a mulher à sua frente era. Naquele horário, Larissa já deveria estar dormindo após voltar do culto e escrever em seu diário, a perfeita boa moça que seria uma esposa submissa e exemplar. O que mais Armando poderia querer? Ah, sim, levar a morena para a cama e ter com ela um sexo selvagem.

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