Capítulo 21 - Verdade Verdadeira

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Isis levou a mão à boca, antes de mesmo de terminar de ouvir sua própria voz. Mas já era tarde demais. Ela já havia dito. Então arregalou os olhos e olhou para os lados, procurando por Isadora. Porque se Isadora desconfiasse que ela dera com a língua nos dentes...

Era difícil ser Isis Cecília.

As vezes ela achava que era criança demais para saber de tantas coisas. A parte boa é que hora nenhuma ela se sentia traída por Isadora. Quer dizer, só quando ela não conseguiu salvar sua mãe depois de ter prometido que era uma operação simples, sem nenhum grande risco. Mas, depois disso, Isadora estava mesmo se esforçando para cumprir todas as suas promessas.

A primeira delas era sempre falar a verdade para Isis.

Mas, droga, ela tinha oito anos!

Isadora não podia mesmo esperar que ela guardasse todos os segredos dentro dela sem nunca, nunquinha mesmo, deixar escapulir alguma coisa, não é?

Felizmente, a situação na emergência não estava nada boa e Murilo não teve tempo de reagir àquela informação. Pelo menos isso. Quer dizer, a garota podia apostar que ele passaria horas pensando do que Isadora estava fugindo, mas ele não era tão inteligente assim para descobrir o que era.

Problema dele.

O problema de Isis era muito mais grave. No caso, impedir que Isadora descobrisse que ela havia dito qualquer coisa sobre o Assunto Proibido.

Como era mesmo que sua avó lhe falava? Ah, sim, que um dia a sua sinceridade a mataria.

Estava ali uma excelente oportunidade para que essa teoria fosse comprovada.

Isis se sentou no banco do corredor, soltando um suspiro longo. Ela não sabia se ficava feliz porque não havia sinal de Isa no corredor, ou se ficava triste pelas horas entediantes que passaria até que ela aparecesse e pudesse leva-la para casa.

Não era nada legal ser obrigada a ficar no hospital nem quando estava doente, imagina quando você tinha um mundo de possibilidades e brincadeiras para se fazer fora dele.

Por um acaso a garota já havia pensado que era muito difícil ser ela?

Porque com certeza era.

Ela tirou o celular da mochila e tentou acompanhar o programa esportivo daquele fim de manhã. Quer dizer, ainda estavam no começo do campeonato, é claro, mas a garota era fanática o suficiente para acompanhar todos os passos.

Estava tão entretida com o repórter que nem reparou que alguém sentou ao seu lado.

— Tudo bem ficar aqui por uns minutos?

Isis levantou os olhos e encarou a morena ao seu lado. Assentiu, com a cabeça.

— Você tá meio pálida – disse, arqueando a sobrancelha.

— Posso contar um segredo? – Maíra falou, sussurrando, enquanto olhava para a sala de emergência.

Droga, Isis pensou, mais um.

— Tenho fobia de sangue.

— Que? – Isis quase gritou, então levou a mão a boca de novo – Mas você é médica.

Maíra encolheu os ombros.

— Nem me lembre disso. Depois de hoje, estou pensando seriamente em mudar de profissão.

— Isso não faz sentido.

— Não faz mesmo. É por isso que sou infectologista e só trabalho com exames, bem longe da emergência.

Feridas Profundas (HIATO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora