Capítulo 31

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Bianca Trajano.

Lá embaixo, no carro, depois de uma sessão um tanto quanto demorada de despedidas no apartamento, Marcelo respira fundo e olha para mim, aparentemente na defensiva.

─ Foi mal! Eu devia ter te falado. 

─ Que você contou pra ela que a gente se beijou num banheiro na festa de casamento dela? Ah, imagina ─ abano a mão. ─ Mas, sei lá, pelo menos ela é a favor.

Ele arqueia a sobrancelha, interessado.

─ Falando nisso, Marcelo ─ digo, decidida a ir direto ao ponto antes que eu desistisse da ideia. Inclusive, gostaria de dar o devido crédito pela coragem momentânea ao vinho tinto do jantar. Obrigada, vinho! ─ Ficar perto de você não é uma coisa fácil para mim, sabe? Você é bonito demais, cheiroso demais, tem essa droga dessa barba e essas costas e mãos... e lábios incríveis ─ reviro os olhos, ouvindo-o desatar num riso que, meu Deus do céu, era como música para os meus ouvidos. ─ Então, sério, não dá! Eu só penso em agarrar você e sim, estou dizendo tudo isso rápido demais porque talvez, só talvez, eu esteja num lapso de coragem e provavelmente vá me arrepender disso depois, mas...

─ Não me faça te interromper como interrompi mais cedo ─ ele diz baixinho e sorri. ─ Embora essa seja a maneira que eu mais gosto.

Ligando o carro, ele engata a marcha e nos tira do estacionamento, enquanto eu tento ignorar o fato de ele ser terrivelmente engraçadinho e de que eu, é claro, queria mais era responder fique à vontade. 

─ Estou falando sério. Então, de verdade, não dá para sermos amiguinhos, parceiros de investigação de casos arquivados, blá blá blá. 

─ Você pensa demais, loirinha.

─ Eu? Ah, pelo amor de Deus! É que pra você é fácil falar! Você não precisa ficar olhando pra você mesmo.

Ele ri, balançando a cabeça.

─ Só para ficar claro, Bi: não quero ser seu amiguinho. Então, sim, quero te ver mais vezes, porque... ─ ele fica em silêncio alguns segundos e, quando para o carro num sinal vermelho, olha para mim, por fim. ─ Porque eu gosto de você. De estar com você. Pode parecer estranho e, talvez, de fato seja, mas...

─ Porque você é mais velho, resolvido, salvou a minha vida e sabe mais sobre mim do que deveria saber? 

─ É ─ ele responde, de repente com um olhar esquisito. Quase sombrio. ─ Mais ou menos isso. Então, sim, é estranho para mim, mas eu quero. E se você estiver a fim, a gente pode continuar a se ver, mas sem pensar demais, sabe... Já tenho pensado em muitas coisas ultimamente e, por mais estranho que pareça, você desliga a minha mente. Faz tudo parecer mais leve ─ conclui.

De repente, não soube o que dizer.

Só conseguia pensar no fato de eu ter praticamente dito que não conseguia ficar perto dele sem desejar desesperadamente agarrá-lo e ele, ahn, ter sito fofo. Meu Deus, ele foi fofo! 

Sentindo as borboletas dançarem feito loucas no meu estômago, percebi que havia ficado em silêncio por tempo demais. De repente já estávamos na rua escura e um tanto quanto vazia do Fran's Café e, no momento seguinte, Marcelo já parava o carro numa vaga do estacionamento. 

Eram quase dez da noite e somente o meu carro estava lá, do jeitinho que eu havia deixado horas mais cedo, quando eu estava bem irritada. E agora nem mesmo sabia o por quê. 

Marcelo desliga o carro e se vira para mim. 

─ E então? Te vejo amanhã? 

Naquele momento, descobri que "te vejo amanhã" era algum tipo de código ultrassecreto que abria as portas do céu. 

Assinto, deixando um suspiro me escapar pela boca.

─ Sem pensar demais, certo? Ok ─ digo para mim mesma e ele assente. ─ Sem falar demais também e... Sem pirar. Tudo bem. Ah, meu Deus, estou saindo com o policial que salvou a minha vida. Aonde é que eu vou parar, me diz?

Ele sorri daquele jeitinho enviesado, e sinceramente prefiro não imaginar o que está se passando na sua cabeça, de modo que reviro os olhos devagar. Ele leva uma mão até o meu rosto e passa uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. 

─ Tem certeza que não quer que eu te acompanhe até em casa?

─ Tipo escolta? Não, não, pelo amor de Deus... ─ balanço a cabeça. ─ Tudo bem. Eu moro perto daqui.

─ Certo ─ ele responde, meio contrariado, e recolhe a mão. ─ Dirija com cuidado então.

Assinto, me perguntando porque raios além de gostoso, lindo e blá blá blá, ele era fofo e protetor. Por que, alguém me diga por favor, o universo estava sendo tão generosinho comigo?

Me aproximo dele alguns centímetros só para beijá-lo em qualquer lugar. Ele se apruma, repentinamente feliz, e segura meu rosto com uma das mãos. E então me beija de novo, demorando os lábios nos meus, me fazendo perceber que, durante o jantar e o caminho todo, aquilo era exatamente o que eu queria. Aquela sensação e aquele formigamento.

Malditos sejam os homens que fazem com que nós, mulheres fortes e decididas, parêçamos todas umas vadias sedentas por eles!

Saio do carro, sentindo o meu corpo pesar gramas e o ar nos meus pulmões parecer mais puro do que qualquer um que eu já tenha respirado em dezenove anos, e caminho até o Fox solitário que, meu Deus, talvez precisasse de uma lavagem. 

Mas é claro que não era nisso que eu pensava enquanto abria a porta do mesmo e acenava para Marcelo pela janela. O jeito que ele sorriu e acenou com a cabeça certamente varreu qualquer pensamento aleatório que eu viesse a ter agora.

Dali, segui diretamente para o meu estúdio, a alguns quarteirões. Queria muito ir para casa, tomar um bom banho, deitar e olhar para o teto com cara de adolescente fã de colírios da Capricho, mas... Eu também precisava muito pintar! Pôr para fora todo o ânimo que eu sentia. Toda a inspiração e, céus, aquela coisa doida que eu não conseguia nomear.

Como é possível que um dia pudesse mudar da água pro vinho como o meu? 

Alguns minutos mais tarde, depois de avisar à minha mãe que estava sã e salva e que demoraria um tempo na casa da Camila ─ abençoadas sejam nossas amigas por sempre existirem como álibis ─, me coloco de frente ao meu cavalete preferido, com a paleta nas mãos, e lembro da frase dita pelo Marcelo horas mais cedo:

"Eu daria um bom quadro". 

Fazendo o primeiro traço na tela, sorrio ao me lembrar dos olhos incrivelmente azuis e enigmáticos que ele tinha e que eu, inevitavelmente, contava os minutos para ver de novo.

(...)

Ei, gurias! <3 

Como vocês estão?

Para a infelicidade das Marcegans, Bicelo parece que engrenou, não? Hahahaha

Esperamos que vocês tenham gostado, afinal, e que, acima de tudo, não queiram nos matar :P

Votem e comentem pra gente o que estão achando, tá?

Mil beijos, bom finzinho de semana e fiquem todas bem.

Gatália

30/03/2017.



Amor em Risco (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora