Capítulo 4

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Marcelo Menezes.

Queima de arquivo.

Eu definitivamente não conseguia pensar em outra coisa senão nisso. Como eu pude ser tão idiota a ponto de matar a única pessoa que podia me tirar desse labirinto? Se antes – com o cara vivo e me enviando sinais – já estava difícil de decifrar, que dirá agora que ele está morto graças à minha pressa?

Eu não esperava, é claro, que ele fosse o único na quadrilha. Ele era alvo fácil e só havia vindo até mim para me por a par do que estava por vir. Era nítido para quem quisesse ver que havia outra pessoa por detrás disso, mas ela não daria as caras nem tão cedo depois de mais uma baixa, o que só me deixava ainda mais irritado comigo mesmo. Se eu não tivesse perdido a cabeça, poderia estar interrogando o bendito agora.

Ouço alguém me chamar de algum canto, mas não tenho certeza. Quando ergo os olhos para porta, encontro Daniel me encarando com a testa franzida.

─ Tá tudo bem, cara?

─ Hm... ─ resmungo, passando as mãos pelo rosto. Depois dou uma olhada nele. ─ Já está indo?

─ É... O Matias me liberou já que não precisamos fazer a rota. Por que você não vai também?

Penso a respeito por um momento, me recostando à cadeira.

─ Não sei... Quando tô em casa não consigo pôr a cabeça para funcionar.

─ Ah, para! Vai, vamos embora. A gente passa num bar e toma umas, que tal?

─ Não, não... Deixa pra outro dia, Dan. Pode ir lá! Vou bater um papo com o Matias e ir para casa.

─ Você é quem sabe. Mas ó, não fique se culpando pelo o que aconteceu. Se você não o tivesse matado, eu o faria. Ninguém consegue manter a calma num momento daqueles.

─ Exceto o Sobreira.

─ Ah, claro. O santo Sobreira ─ comenta, rindo. Acompanho-o por alguns segundos, até que ele bate levemente na porta e se afasta uns passos. ─ Vou nessa. Até amanhã!

Assinto com a cabeça.

─ Até. Obrigado por hoje.

O DP vai esvaziando a medida que a meia noite se aproxima. Somente os de plantão, o delegado e eu permanecemos em nossos lugares. Quando por fim paro de repassar o ocorrido de hoje em minha mente, apago as luzes da minha sala e fecho a porta. Lá fora, vou até a sala do delegado e o encontro com um charuto aceso entre os dedos.

─ Estava te esperando ─ ele diz ao me ver parado à porta.

─ Por que não mandou me chamar?

─ Sei que queria ficar um tempo sozinho. Entre ─ ele faz um sinal apontando para a cadeira à sua frente. Faço o que ele pede e, ao me sentar, afasto com a mão a fumaça do charuto, o que o faz rir. ─ Menezes, Menezes...

Não sei se já comentei o quão irritante era quando ele dizia "Menezes, Menezes..." ou "Molina, Molina...". Na verdade eu suspeitava de que ele sabia disso, por isso não fazia questão de parar.

─ O que o senhor acha que vai acontecer agora?

─ Ah, é evidente: se você receber alguma ameaça nos próximos dias, saberemos que estamos lidando com uma quadrilha maior do que imaginávamos. Há um ano você matou um deles, e foi onde tudo começou. Naquela noite outros foram baleados, mas conseguiram fugir pois estávamos em número reduzido. Hoje você matou mais um. Como consegue ver, é uma quadrilha grande. E com alvos fáceis.

─ Bem fáceis ─ murmuro, pensando na facilidade que tivemos em deter o cara.

O delegado permanece sério.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora