Corpolatria

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É uma pena que já cremaram o corpo. Ele era tão lindo...

Acredito que a poesia que existe em ser um legista é que se pode ver a morte de outras pessoas e aprender com elas, afinal, saber que as pessoas podem morrer dirigindo numa rodovia durante uma tempestade é o que me faz não dirigir numa rodovia durante uma tempestade, saber que pessoas podem morrer de exaustão por horas e horas de exercício físico é o que me faz dosar minhas corridas.

Mas existem sempre as mortes belas e difíceis de se desvendar, como a daquele jovem. 

Assassinatos são sempre as formas mais bonitas de morte, com certeza.

Não sei se sou fascinado pela criatividade de quem o comete ou se fico impressionado com a minha capacidade de fazer um trabalho tão bem feito a ponto de ninguém nunca desconfiar de mim. Claro, quem desconfiaria de um simples legista, que não ganha o suficiente para se sustentar direito? Talvez nem seja isso, talvez seja o desespero da vítima, a confusão que deixa transparecer em seus olhos, somado ao medo, ou os gritos de desespero que só me deixam mais animado. A doce inocência que todos possuem ao acreditar que são capazes de escapar... Tudo isso torna o jogo tão mais excitante!

Mas o resultado final, ah, o resultado final... Não sou capaz de descrever como é o sentimento, acredito que ninguém é, mas só posso dizer que uma sensação de missão cumprida misturada com prazer me invade. E, por fim, a única coisa que me resta é idolatrar meu trabalho, não por muito tempo, infelizmente. A idolatria ao corpo é o que tem me trazido satisfação desde quando era muito novo.

Talvez seja mesmo a corpolatria. Tenho quase certeza. Ver de perto a destruição é para mim quase poesia. A mais bela poesia. 

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