Sadismo

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Uma pessoa sádica é aquela que sente prazer ao ver a dor alheia. Não que eu estranhe, longe disso. Desde criança eu me sentia diferente, não necessariamente por ser o mais alto ou o mais magro, mas porque nenhuma outra criança se divertia assim como eu. Elas sempre brincavam com bolas ou com bonecas, ou, simplesmente, criavam um mundo inteiramente novo através de suas imaginações. Eu nunca fui assim. Minha satisfação se dava ao ver um dos garotos com o joelho esfolado, uma menina chorando pelo cotovelo ralado.

Dizem que o melhor da vida se deve aos pequenos prazeres. Minha infância foi recheada deles. Diria até que foi a melhor parte da minha vida, quase perfeita. Sim, quase. Sempre temos aqueles incômodos, não é? Bom, o garoto que ousava tirar-me do sério era um que pertencia à mais alta classe social, e ele sabia bem disso. Era a pessoa mais arrogante que já conheci, e olhe que ainda era só um menino, mas não foi exatamente isso o que ele fez contra mim.

Eu não sei se uma pessoa sádica pode amar. Se sim, eu sou muito, muito peculiar, mas eu amei uma vez na vida. Estávamos na faculdade quando aconteceu. Ruby tinha uma personalidade que atraía pessoas ou que as repelia, quase como de fosse um ímã, as que puxava para si ela nunca mais deixava ir e o resto, que se dane. Eu caí em suas graças rápido demais, mas na época eu não me importei. Era como se eu estivesse preso a ela, e, Deus, eu era um prisioneiro estranho: fazia questão de estar acorrentado.

Andrew, pelo visto, não se contentou em ser o mais rico dentre nós, nem deixou suas provocações no passado. Eu descartei o amor assim que os vi na minha cama.

Eu me lembro bem da conversa que Ruby e eu tivemos quando decidi terminar nosso namoro, ela chorava e sussurrava meu nome, dizia que foi um erro, que se deixou levar e que ela nunca mais faria de novo. Repetiu muitas e muitas vezes que me amava. Pediu uma chance. Eu a larguei no restaurante, falando sozinha.

Isso tem um ano, eu nunca mais a vi. E jamais esquecerei o quanto me senti bem vendo-a chorar.

Andrew, ao contrário, tenho o visto todos os dias da minha vida e o odiado com todas as minhas forças. Ele nunca deixou de me lembrar da traição, mas, ah, ele não perdia para esperar.

Pensando agora em tudo, com o rapaz preso numa maca, sangue escorrendo de todas as minhas incisões, vendo o quanto ele chora pela dor penetrante, mudei minha opinião. Minha infância não foi nada comparada ao que estou sentindo agora.

Vingaça é um prato que se come frio, é o que dizem, mas o sangue de Andrew é tão quente...

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