Aviso

203 31 23
                                    

- Você cortou o cabelo...

Mia arregala os olhos e ri alto do meu comentário.

- Eu estou usando uma camisa de força, tenho um curativo na cara e a primeira coisa que repara em mim é o meu cabelo?! Chega a ser risível.

Suspiro.

- Como foi a sua semana?

- Incrível. Tive que tomar muitas injeções, os enfermeiros nem têm medo de mim, cortaram meu cabelo e arrancaram um talho da minha bochecha, não poderia ter sido melhor. - Ela responde, sarcástica.

- Como aconteceu? - Pergunto, apontando seu rosto.

- Talvez eu tenha me debatido um pouco enquanto eles usavam a droga da tesoura. Fizeram isso comigo porque na opinião deles eu brigo demais com o resto. Não é verdade.

- Com certeza você fez alguma coisa para cortarem aquela juba, não é?

Ela me lança aquele olhar astuto que só ela possui.

- Eu nunca fiz nada e você me internou aqui.

Suspiro. Minha irmã sempre foi muito na dela, calada e fechada para o resto do mundo, até mesmo para mim, mas quem poderia imaginar que atrás de um rosto tão angelical viveria um demônio? Encolho os ombros, há duas semanas os médicos foram lá em casa buscá-la, eu ainda sinto culpa por ter ligado ao Sanatório, mas sei que ela está aqui pelo seu bem. Saber disso alivia, mas a culpa continua ao meu lado.

- Por favor, não comece com isso...

Mia arregala os olhos.

- Isso é sério?! Seu desgraçado! O que eu te fiz para você me colocar nesse inferno?

- Você sabe bem o que é.

- Eu tenho uma filosofia de vida diferente da sua, nada mais!

- Pelo amor de Deus, você é uma psicopata! Está errada em acreditar que é inocente, porque pelo que eu pude ver, disso você não tem nada!

- Falou o grande psicólogo. O que tem de mais em eu gostar disso? Em eu acreditar que a morte é a salvação de tudo que há de ruim? Já sentiu como é ter sangue escorrendo pelos seus dedos? Alguma vez parou para pensar no quanto a dor de um machucado é prazerosa? Não me julgue se você não tem ideia do que é isso.

- Eu sou um bom psicólogo, nenhum outro teria coragem de internar a própria irmã e, acredite, doeu mais em mim. Dói até agora.

- Claro, claro, te arrastaram até o maldito carro e cortaram o teu rosto! Quem leva injeções todos os dias é você, decerto! - Ela rebate, revirando os olhos.

- Estão fazendo isso pelo seu bem, Mia.

- Se você realmente fosse bom nessa sua profissão, saberia que psicopatia não tem cura. Eu nasci assim, eu serei assim, é o Determinismo. Se bem que eu devo admitir que você chegou bem longe do que eu esperava. Olhe para você, Ben, um garotinho tão estúpido, com notas tão baixas no colégio e agora tem seu próprio consultório e um salário razoável. Quem diria, não?

- Vai apelar para a humilhação agora? - Sorrio de lado. Mia bufa.

- Por que se importa em vir aqui?

- Nossos pais não querem nem que você use o mesmo sobrenome que eles, sou tudo que tem.

- Entre ficar sozinha e com uma pessoa que me apunhalou pelas costas, sei bem qual escolher. Ben, eu te odeio com todas as minhas forças, seu desgraçado, eu sou sua irmã! - Ela suspira. - Eu... eu nunca machuquei ninguém, mas toda regra tem a sua excessão, não é? Posso querer quebrá-la assim que sair deste lugar.

- Isso é uma ameaça?

Seus lábios se contraem num sorriso maldoso, encolho os ombros.

- É um aviso.

PsicopatiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora